13 de outubro de 2025
Criptomoeda e terrorismo deixam Foz do Iguaçu no radar dos
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O governo norte-americano está de olho em Foz do Iguaçu (PR). Uma reunião discreta na última semana levou representantes do Departamento de Contraterrorismo dos Estados Unidos à cidade para discutir com entidades cambiais da região os riscos da Tríplice Fronteira: lavagem de dinheiro, financiamento ao terrorismo e, principalmente, operações com criptomoedas que escapam do radar das autoridades.

Sob coordenação da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), o evento buscou trocar informações, alinhar estratégias e fortalecimento das parcerias público-privadas para enfrentamento de crimes financeiros e contrabando, além de enfatizar a necessidade de adaptação dos sistemas de controle à era digital.

De acordo com os participantes, a Tríplice Fronteira — reconhecida pela intensa movimentação de pessoas, bens e capitais — segue como um dos principais pontos de vulnerabilidade do sistema financeiro latino-americano. Um dos representantes do governo norte-americano destacou que a diversidade cultural e o dinamismo econômico da região criam um ambiente fértil para a infiltração de organizações criminosas transnacionais, que se aproveitam de brechas normativas e da insuficiência de cooperação entre os países.

É preciso combinar inovação regulatória e cooperação regional para fortalecer a integridade financeira do continente.

Kelly Gallego Massaro, presidente da Abracam

A presidente da Abracam, Kelly Gallego Massaro, reforçou que a entidade atua nas áreas de maior exposição a riscos, promovendo capacitação e articulação institucional. “A Tríplice Fronteira é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade. É preciso combinar inovação regulatória e cooperação regional para fortalecer a integridade financeira do continente”, afirmou.

Mercado de criptomoedas carece de solidez na regulação

Segundo a presidente da Abracam, o evento deste ano ampliou o debate ao incluir criptoativos e modalidades híbridas de transferências financeiras, que demandam novas metodologias de análise e vigilância. “O mercado de moedas virtuais ainda carece de parâmetros sólidos de regulação. Esse vácuo normativo amplia o campo de atuação de operações potencialmente ilícitas. A prioridade é antecipar riscos e fortalecer a cultura de compliance e integridade”, acrescentou.

O avanço das moedas virtuais e o uso de carteiras digitais em operações transfronteiriças têm preocupado autoridades e reguladores. O caráter pseudoanônimo e a dificuldade de rastreamento das transações em blockchain transformam os criptoativos em um dos principais desafios para a Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLD/FT).

Embora as regulamentações sejam nacionais, existem esforços internacionais, como os do Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), que definem padrões e recomendações globais para que os países criem seus sistemas de PLD/FTP.

Nos painéis técnicos, especialistas apresentaram um panorama das normas brasileiras e internacionais de governança, com destaque para o papel do Banco Central do Brasil, do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e do Grupo de Ação Financeira da América Latina (Gafilat). “O encontro em Foz teve caráter de integração técnica e troca de experiências, sem anúncio formal de novas parcerias. Contudo, as entidades reafirmaram o compromisso de harmonizar procedimentos regulatórios e ampliar o diálogo com autoridades de segurança e supervisão financeira”, resumiu a presidente-executiva da Abrabam.

Fronteira digital é tão porosa quanto a geográfica

A análise crítica que emerge das discussões aponta que a digitalização dos fluxos financeiros, que também são provocados pelas plataformas de apostas e e-commerces internacionais, avança mais rápido que os mecanismos de controle. Sem marcos regulatórios robustos e integração entre os países, a fronteira digital se torna tão porosa quanto a geográfica, abrindo espaço para operações sofisticadas de lavagem de dinheiro e evasão fiscal.

Participaram da reunião representantes de Brasil, Paraguai, Argentina e EUA, além da GovRisk, vinculada ao Departamento de Contraterrorismo norte-americano. São fóruns multilaterais e iniciativas conjuntas voltadas à transparência e à integridade no sistema cambial, com foco técnico e preventivo. “A inovação financeira não pode caminhar separada da responsabilidade. A fronteira é um laboratório do que o mundo inteiro vai enfrentar nos próximos anos”, disse Kelly Massaro.

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Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/criptomoedas-terrorismo-colocam-foz-do-iguacu-triplice-fronteira-radar-eua/