
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), se adiantou em relação aos seus pares no campo da direita com o lançamento da pré-candidatura à Presidência da República em 18 de agosto. Dois meses depois, entretanto, ele não conseguiu transformar esse movimento antecipado em um fato marcante, tampouco em intenções de voto nas pesquisas para as eleições de 2026.
Não é propriamente campanha devido às regras eleitorais, mas Zema tem viajado pelo Brasil para contar um pouco da história dele como gestor no setor privado, as ações à frente do governo mineiro nos últimos quase sete anos e as estratégias para derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano que vem.
Essas falas têm sido feitas para um público restrito, em encontros em associações comerciais, palestras em entidades de classe e, claro, em reuniões com lideranças partidárias locais. Isso explica, em partes, porque Zema ainda não atingiu o eleitorado que será necessário para tracionar a campanha dele.
De acordo com pesquisa da Genial/Quaest, divulgada em 8 de outubro, o governador mineiro não avançou na disputa presidencial, mesmo com a indefinição de outros representantes da direita, especialmente do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do governador paranaense Ratinho Junior (PSD). Enquanto o primeiro já declarou que preferiria tentar a reeleição ao estado de São Paulo, o segundo dá sinais de que pretende tentar ser presidente.
No levantamento da Quaest, Zema está presente em cinco cenários estimulados — quando os nomes dos políticos são mostrados para escolha do entrevistado. O melhor desempenho está no cenário em que Zema disputa contra Lula e Eduardo Bolsonaro (PL), indo a 11% das intenções de voto. Nos demais, ele oscila entre 3% e 5%. Ratinho Junior e Tarcísio de Freitas conseguem avançar mais, chegando a 17% e 19%, respectivamente. Por sua vez, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), atinge 10%.
No caso de segundo turno contra o petista, Romeu Zema chega a 32% contra 47% de Lula, ficando dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais na comparação com Ratinho Junior, Tarcísio e Caiado. Na linha temporal, o governador mineiro oscilou um ponto percentual para baixo — 33% para 32% — em relação à pesquisa da Quaest do mês de maio.
VEJA TAMBÉM:
-
Cleitinho lidera pesquisa para o governo de Minas Gerais em 2026
Romeu Zema tem o desafio de nacionalizar seu nome
O principal desafio de Romeu Zema em uma eventual campanha presidencial é tornar-se conhecido nacionalmente. E que isso se transfira como potencial de voto. Ele goza de popularidade e um alto índice de aprovação em Minas Gerais, mas pode encontrar dificuldades para transportar isso para o restante do país.
A pesquisa da Quaest deixa isso nítido: 52% do eleitorado brasileiro responde que não conhece Zema — em janeiro, esse índice era de 62%. E, apesar desse avanço, não conseguiu transformar o conhecimento em intenções de voto, visto que em janeiro 15% disseram que o conhecem e que votariam nele para presidente.
Agora, 14% responderam a pesquisa eleitoral desta forma. O que Zema ganhou em conhecimento, perdeu em intenção de voto — 34% disseram que o conhecem, mas não votariam, sendo que em janeiro esse porcentual era de 23%.
“Os desafios do Zema são ter uma boa presença e trânsito no eleitorado de Bolsonaro, se tornar conhecido nacionalmente e, claro, ter uma boa estrutura partidária. E o Novo não tem boas condições de sustentar uma candidatura de alguém não tão bem conhecido nacionalmente”, avalia o cientista político e professor do Ibmec de Belo Horizonte Adriano Cerqueira.
VEJA TAMBÉM:
-
Como a esquerda tenta minar Tarcísio de Freitas em caso de metanol e Coca-Cola
Kassab pode mudar rumo de candidatura de Zema
A vantagem de Romeu Zema, segundo Cerqueira, é a largada, visto que o colégio eleitoral de Minas Gerais é o segundo maior do Brasil — são mais de 16 milhões —, atrás somente do estado de São Paulo. Entretanto, um crescimento dependeria de arranjos com outros partidos, já que o Novo não tem capilaridade suficiente para catapultar uma campanha presidencial de forma isolada — em 2022, Felipe D’Ávila (Novo) ficou com 0,47% no primeiro turno e, em 2018, João Amoêdo (Novo) registrou 2,5% dos votos válidos.
Juntar-se a outros partidos seria um movimento inédito para o Novo. E há a possibilidade de isso acontecer em decorrência da articulação de um dos maiores caciques políticos brasileiros: Gilberto Kassab (PSD).
O ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo é o principal articulador de uma candidatura de direita. O plano “A” é Tarcísio de Freitas, com Ratinho Junior na espera. Não há, para Kassab, plano com Zema encabeçando uma chapa.
Zema e Kassab se reuniram em Belo Horizonte no início de outubro. Nenhum deles falou publicamente sobre o encontro, mas um dos assuntos foi a corrida presidencial e o papel que o governador mineiro poderá ter em uma eventual composição com o PSD. A possibilidade jogada na mesa é de que Zema pode ser o candidato a vice de Tarcísio de Freitas ou Ratinho Junior.
Um sinal nesse sentido é a iminente filiação do vice-governador Mateus Simões (Novo) ao PSD. Simões é homem de confiança de Zema, que vem falando há meses que vai trabalhar incessantemente para tornar o seu vice o próximo governador de Minas Gerais. Praticamente desconhecido, Simões precisará de uma legenda maior para isso virar realidade.
“Costumo dizer que a chapa presidencial vai estar relacionada com as chapas estaduais, principalmente em Minas Gerais. O que o Zema for fazer em termos de candidatura nacional para ele vai estar relacionada ao entendimento estadual”, opina Cerqueira.
Uma composição com o PSD daria o palanque necessário para Simões em termos locais e para Zema em alcance nacional. Daria a Kassab, também, acesso ao segundo maior colégio eleitoral do país e que reflete os ventos de uma campanha presidencial.
Ao mesmo tempo, tiraria o ímpeto do PT no apoio ao senador Rodrigo Pacheco (PSD) ao governo do estado. Com o PSD alinhado ao Novo, não haveria espaço para Pacheco que, inclusive, pode sair da disputa caso seja indicado à vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Esse caminho é o mais provável na análise do professor do Ibmec, ainda mais porque Zema não coloca o Senado como prioridade, apesar de que teria chances reais de ficar com uma das duas vagas em 2026. “Eu acho que o Zema está aberto a participar de alguma chapa presidencial, mas não necessariamente na condição de titular. O Zema tem um perfil mais de Executivo e vai querer um papel importante e ativo na campanha presidencial no ano que vem”, diz Cerqueira.
- Metodologia da pesquisa citada: 2.004 entrevistados pela Quaest em 120 municípios do Brasil, entre os dias 2 e 5 de outubro de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 2 pontos percentuais.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/por-que-pre-candidatura-romeu-zema-presidente-ainda-nao-decolou/