19 de outubro de 2025
Mel sabor chocolate é feito a partir de cascas de
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Um grupo de pesquisadores da Unicamp desenvolveu um produto inédito, feito com mel de abelhas nativas e cascas de amêndoa de cacau. O composto pode ser consumido puro ou usado pelas indústrias alimentícia e cosmética. O estudo ganhou destaque na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering, que o trouxe na capa da edição.

A pesquisa utilizou o mel de abelhas nativas como solvente comestível para extrair teobromina e cafeína das cascas do cacau. Estes compostos são estimulantes reconhecidos por benefícios à saúde cardíaca. A extração, feita com tecnologia ultrassônica, também enriqueceu o mel com compostos fenólicos, de ação antioxidante e anti-inflamatória.

Os testes iniciais mostraram que o sabor varia conforme a proporção entre o mel e as cascas. Segundo os pesquisadores, o produto pode lembrar chocolate.

“Claro que o apelo maior para o público é o sabor, mas nossas análises mostraram que ele tem uma quantidade de compostos bioativos que o tornam bastante interessante do ponto de vista nutricional e cosmético”, explica Felipe Sanchez Bragagnolo, primeiro autor do estudo, realizado na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp.

Pesquisadores escolheram abelhas nativas para produzir o mel com sabor chocolate

O grupo da Unicamp escolheu o mel de abelhas nativas por seu valor ecológico. Além de favorecer o uso sustentável da biodiversidade, ele tem maior teor de água e menor viscosidade, facilitando a extração. Os pesquisadores testaram cinco espécies brasileiras: borá, jataí, mandaçaia, mandaguari e moça-branca.

O mel de abelhas nativas da espécie mandaguari apresentou equilíbrio ideal entre água e viscosidade e serviu como base de otimização do processo. Ainda assim, o método pode se adaptar a outros tipos de mel, conforme as condições locais.

O próximo passo é aplicar o mel de abelhas nativas na extração de outros resíduos vegetais, explorando novos usos para essa matéria-prima sustentável e de alto valor científico.

Os cientistas buscam parceiros para licenciar a tecnologia. O processo já tem patente registrada e pode chegar em breve ao mercado.

Cascas das amêndoas de cacau contêm teobromina e cafeína — compostos que podem ser incorporados ao mel de abelhas sem ferrão por extração ultrassônica. (Foto: Felipe Bragagnolo/FCA-Unicamp)

Técnica para criar o mel sabor chocolate usa ultrassom

O ultrassom foi essencial para potencializar a extração dos compostos do cacau. O equipamento cria microbolhas que implodem, liberando energia e rompendo as paredes celulares do material vegetal. A técnica é rápida, eficiente e considerada ambientalmente segura, seguindo princípios da chamada “química verde”.

“Acreditamos que um aparelho como esse pode ampliar o portfólio de cooperativas e pequenas indústrias que já trabalham com cacau e mel de abelhas nativas. Assim, elas passam a produzir um item de maior valor agregado, inclusive voltado à alta gastronomia”, afirma o professor Mauricio Ariel Rostagno, coordenador do estudo.

Os pesquisadores planejam novas análises sobre o impacto do ultrassom na microbiologia do mel de abelhas nativas. A expectativa é que a técnica aumente a durabilidade e elimine microrganismos, ampliando o tempo de prateleira.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/pesquisadores-da-unicamp-criam-mel-sabor-chocolate-usando-casca-da-amendoa-do-cacau/