21 de outubro de 2025
Crateras e falhas refletem o desmonte sofrido pela Sabesp após
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Desde que a Sabesp foi privatizada, o que era um serviço público essencial passou a ser tratado como uma oportunidade de negócio para o mercado financeiro. O resultado dessa mudança de prioridade já se revela de forma concreta – nas ruas – e na rotina da população.

O enorme buraco que surgiu na Avenida Eliseu de Almeida, na Vila Sônia, zona Sul de São Paulo, no último dia 15, é um reflexo do colapso estrutural e da negligência na manutenção da rede de saneamento. Como denuncia o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), “a cratera que se abriu na Avenida Eliseu de Almeida, em Vila Sônia, nesta quarta (15), não é obra do acaso, é o retrato mais nítido do desmonte em curso na Sabesp”.

A nova gestão da companhia, desde que assumiu sob controle privado em 2024, demonstra que deixou para trás qualquer compromisso com a qualidade dos serviços ou com o direito da população ao saneamento básico. A prioridade agora é o lucro. A privatização da Sabesp, conduzida pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), representa o pagamento da fatura aos financistas da Faria Lima, em retribuição ao apoio financeiro recebido por seus projetos eleitoreiros. Como denuncia o Sintaema, “desde que a empresa foi privatizada, a prioridade deixou de ser o serviço à população e passou a ser agradar o mercado financeiro da Faria Lima.”

Um dos reflexos mais escandalosos dessa lógica mercantil é a cobrança de tarifa de esgoto em locais onde sequer há coleta. Segundo o Sintaema, “desde junho, a Sabesp passou a cobrar tarifa de esgoto de imóveis que sequer têm coleta. Moradores e comerciantes em todo o estado estão sendo obrigados a pagar R$ 37,96 por mês (residenciais) e R$ 76,60 (comerciais) por um serviço inexistente.” 

A empresa, de forma oportunista, tenta se apoiar em uma lei de 2007, mas o sindicato lembra que “a Sabesp pública nunca teve coragem de aplicar essa cobrança injusta, porque entendia algo básico: o papel de uma empresa de saneamento é servir à população, não explorá-la.”

A lógica de cortes para garantir lucros também aparece no desmonte da estrutura operacional da empresa. Entre 2023 e 2025, mais de 5.700 trabalhadores e trabalhadoras foram desligados da Sabesp, sendo 1.350 apenas da área de Operação, justamente o setor responsável por garantir que a água chegue às torneiras e o esgoto seja tratado. “Enquanto os acionistas comemoram dividendos, a empresa vive um dos maiores processos de desligamento da sua história (…) Nenhum plano sério de recomposição foi apresentado, o que existe é o esvaziamento deliberado de equipes, o acúmulo de funções e o colapso silencioso das estruturas que garantem a água e o esgoto tratados”, denuncia o sindicato.

Esse esvaziamento, somado à precarização das condições de trabalho, já traz efeitos diretos à população. Dados da Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo) mostram que o número de falhas na rede de água e esgoto disparou em 2025. Foram 52 ocorrências apenas até julho, número que já supera todo o ano de 2024, quando houve apenas 7. A explosão de falhas é ainda mais alarmante considerando que, entre 2020 e 2023, os registros vinham em queda – de 82 falhas em 2020 para apenas 20 em 2023, último ano antes da privatização.

Enquanto isso, os lucros da empresa dispararam. “Enquanto mais de 700 apartamentos em Santo Amaro, zona sul da capital paulista, sofrem há quase um mês com a falta d’água, a Sabesp privatizada comemora um feito: lucro líquido de R$ 9,5 bilhões em 2024, um salto de 171,9% em relação ao ano anterior.”

Segundo o Sintaema, esse lucro bilionário tem um custo social altíssimo. “E por que isso acontece? Porque para garantir lucros bilionários, a Sabesp foca na arrecadação, corta pessoal e rebaixa salários. Mais de 4 mil trabalhadores já foram desligados, sendo 1,35 mil da Operação, justamente a área responsável por fazer a água chegar às torneiras da população.”

ESTAÇÕES ABANDONADAS

O sindicato também denuncia o abandono das Estações de Tratamento de Água (ETAs) e de Esgoto (ETEs), que enfrentam “falta de pessoal, insegurança e infraestrutura precária”. A chamada “eficiência” da gestão privada resultou em “menos trabalhadores, mais acidentes e tarifas abusivas para população”.

A Sabesp pública foi, por décadas, defende o sindicato, uma referência mundial em tecnologia, pesquisa e universalização do saneamento. Já a versão privatizada, aponta, tornou-se “símbolo do desmonte e da ganância – uma empresa que abandona ETAs e ETEs, demite milhares de trabalhadores, precariza o atendimento e cobra por um serviço não prestado, tudo em nome do dinheiro.”

Atualmente, nas palavras do próprio sindicato, “a Sabesp de hoje não olha mais para o povo de São Paulo. Olha para a Faria Lima, para o lucro imediato, para o mercado. O Sintaema reafirma: a água é um direito, não um ativo financeiro.”

A explosão de falhas, as crateras que se abrem pelas ruas, a falta de água, a cobrança abusiva e a ausência de atendimento em áreas vulneráveis deixam claro o que está em jogo. Como alerta o Sintaema, “a água, que é um direito de todos, passou a ser tratada como mercadoria nas mãos de poucos. Água que deveria matar a sede da população virou fonte inesgotável de ganhos para o mercado financeiro.”

Fonte: https://horadopovo.com.br/crateras-e-falhas-refletem-o-desmonte-sofrido-pela-sabesp-apos-privatizacao-diz-sindicato/