Lula e Trump se encontram pela primeira vez para tratar de tarifas e sanções aplicadas ao Brasil

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump tiveram, na tarde deste domingo (26), o primeiro encontro formal desde que ambos assumiram os respectivos mandatos. A reunião ocorreu na Malásia.

Essa foi a primeira conversa entre os dois líderes além de uma breve troca de cumprimentos durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro. O encontro bilateral foi motivado pela crise diplomática resultante da aplicação de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos e pelas sanções impostas a autoridades brasileiras em decorrência do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Após a reunião, Lula declarou ter tido “um diálogo franco e construtivo” com o líder norte-americano. Segundo ele, ambos concordaram em instalar imediatamente grupos de trabalho para discutir soluções referentes às tarifas e às sanções.

“Tive uma ótima reunião com o presidente Trump. Decidimos que nossas equipes começarão a buscar alternativas para resolver essas questões”, afirmou o brasileiro.

Mais tarde, em um evento com empresários no país asiático, Lula disse estar satisfeito com o resultado do diálogo e destacou o caráter histórico da conversa. “Conseguimos realizar uma reunião que muitos achavam impossível”, resumiu.

Revisão de tarifas domina a pauta

De acordo com o Palácio do Planalto, o principal tema tratado foi a revisão das taxas sobre produtos brasileiros. Trump descreveu o encontro como “uma honra” e afirmou esperar “bons acordos nas próximas semanas”.

Antes da reunião, em declaração conjunta à imprensa, o presidente norte-americano afirmou: “Nós sabemos o que cada um quer”. Lula, por sua vez, contestou a legitimidade das tarifas, dizendo que elas “não têm base técnica” e ressaltou que a balança comercial entre os dois países favorece os Estados Unidos.

O petista sugeriu um cronograma de negociações entre as equipes econômicas. Ainda neste domingo, representantes do Brasil se reuniriam com o representante Comercial dos EUA, Howard Lutnick, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Estado, Marco Rubio.

Durante a conversa, Lula também solicitou o cancelamento das sanções aplicadas a autoridades brasileiras, alegando que o processo contra Bolsonaro “seguiu o devido processo legal”.

O chanceler Mauro Vieira informou que ambos os presidentes concordaram em realizar visitas recíprocas: Trump demonstrou interesse em visitar o Brasil, e Lula aceitou um convite para ir aos Estados Unidos em breve.

Temas geopolíticos e mediação na América do Sul

Além das questões comerciais, Lula aproveitou o diálogo para abordar assuntos geopolíticos regionais. Conforme relatou o chanceler, o presidente brasileiro se colocou à disposição para intermediar as relações entre os EUA e a Venezuela, reforçando o papel do Brasil como agente diplomático na América do Sul.

“O presidente Lula afirmou que a América do Sul é uma região de paz e se dispôs a atuar como mediador entre os dois países”, explicou Mauro Vieira.

O gesto ocorre em meio à intensificação das operações militares norte-americanas próximas à costa venezuelana, justificadas por Washington como parte do combate ao narcotráfico. O governo de Nicolás Maduro, entretanto, acusa os EUA de tentar desestabilizar seu regime.

Perspectiva de acordo em breve

Após o encontro, o chanceler classificou a conversa como “muito positiva” e destacou que há expectativa de um acordo nas próximas semanas.

Segundo Vieira, Trump prometeu orientar sua equipe a iniciar de imediato as negociações bilaterais, com o objetivo de solucionar rapidamente as pendências comerciais. A suspensão das tarifas impostas ao Brasil é vista como um dos principais resultados esperados pelo governo brasileiro.

“Não há motivo para desavenças”, afirma Lula

Durante o diálogo, Lula enfatizou a importância de manter relações de respeito e cooperação entre os dois países. “Não há nenhuma razão para que haja desentendimentos entre Brasil e Estados Unidos”, declarou o presidente.

Ao ser questionado sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump respondeu que “se sente mal pelo que ele passou”, mas evitou comentar se o assunto foi tratado diretamente na reunião.