29 de outubro de 2025
"Birô agro" promete destravar crédito para produtores rurais
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Uma parceria entre a Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), o Banco Central e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) vai dar origem ao chamado “birô agro”, um modelo inédito de integração de dados e inteligência financeira voltado a pequenos e médios produtores rurais. A proposta voltada ao crédito rural, que vem sendo apresentada em fóruns internacionais, promete corrigir uma distorção histórica: embora o agronegócio represente cerca de 25% do PIB nacional, o setor responde por apenas 12% do crédito concedido no país.

“Há algo errado quando um setor que move um quarto da economia brasileira acessa tão pouco crédito”, afirma Elias Sfeir, presidente da ANBC. Segundo ele, o problema central está na falta de informação sobre os tomadores.

“Cerca de 80% dos pequenos e médios agricultores têm crédito negativo não porque são maus pagadores, mas porque o banco não tem visibilidade, não sabe quem é o produtor. Falta informação do tomador, e isso reduz a confiança do sistema financeiro”, explica. O “birô agro” surge como alternativa a esse cenário.

A parceria prevê o compartilhamento de dados entre o Banco Central (BC) e o Ministério da Agricultura, permitindo que os birôs de crédito construam um painel de supervisão sobre as linhas de financiamento rural. O sistema oferecerá indicadores e métricas que ajudarão o governo federal a desenhar políticas públicas mais precisas e o BC a monitorar o desempenho do crédito no setor que engloba os produtores rurais.

“É uma parceria público-privada que traz benefícios para todos, mas o maior beneficiado será o agricultor familiar e o pequeno produtor”, resume Sfeir. O modelo foi apresentado recentemente ao Banco Mundial e vem chamando atenção pela inovação.

“Estamos criando um paradigma de crédito no mundo. O tema está se tornando referência internacional, e o Brasil é pioneiro nessa abordagem”, afirma o presidente da ANBC, que participa do Futurecom 2025, em São Paulo — um dos maiores eventos de tecnologia e inovação da América Latina.

Sfeir integra o painel “Future Agro: embarcando inovações para um agro mais verde e competitivo”, ao lado de lideranças do setor de tecnologia e sustentabilidade. Para o executivo, o crédito é a chave da produtividade e da sustentabilidade no campo.

O crédito rural é uma alavanca da competitividade. Quando aplicado com discernimento, ele se transforma em uma ferramenta de incentivo à sustentabilidade, gerando ganhos para o produtor e para a sociedade”, afirma.

Ele defende também a criação de um “score de crédito agro”, que reconheça as especificidades do setor e amplie o acesso a financiamentos com juros mais justos aos produtores rurais. “Um modelo de avaliação específico torna o sistema mais inclusivo e atrai capital privado e internacional, com foco em sustentabilidade”, destaca.

Sfeir lembra que, em 2024, o crédito voltado ao agronegócio somou R$ 400 bilhões em linhas públicas e R$ 600 bilhões em operações privadas — números expressivos, mas ainda insuficientes diante do potencial do setor. “O espaço para crescer é enorme. E isso só será possível com informação e tecnologia”, afirma. Ele acrescenta que a ANBC vem discutindo também novas fronteiras de financiamento, como o crédito cross-border — operações de empréstimo entre países —, já utilizadas em mercados asiáticos.

“Enquanto aqui ainda discutimos desigualdade, a Ásia já fala em prosperidade. Precisamos ajustar o foco”, provoca. Presente em debates internacionais e com atuação no Brasil e no exterior, a ANBC vem se consolidando como referência na modernização do crédito e na integração de dados entre instituições públicas e privadas.

“Ter as mesmas conversas com as mesmas pessoas esperando resultados diferentes é insano. Nosso papel é provocar novas discussões e trazer soluções que já estão sendo aplicadas lá fora. O ‘birô agro’ é um passo nessa direção”, aposta Sfeir.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/biro-agro-promete-destravar-credito-para-pequenos-produtores-rurais/