A Itaipu Binacional está desembolsando R$ 820 milhões para a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR). O pedido para retomada das obras, que foram paralisadas por uma década por divergências contratuais e por questionamentos no Tribunal de Contas da União (TCU), foi uma das prioridades elencadas por Lula (PT) tão logo ele assumiu a Presidência da República, em 2023.
Foi Lula quem estipulou a prioridade à nova gestão brasileira da Itaipu, ainda em 2023. A usina hidrelétrica é a fonte dos recursos, que estão assim divididos: R$ 754 milhões para terminar as obras (40% estava pronto antes da paralisação) e R$ 65 milhões para desapropriação do prédio onde já funcionam diversos cursos da universidade.
“Serão investidos cerca de R$ 820 milhões para a execução da primeira etapa do campus, incluindo a construção e a aquisição do prédio atualmente desapropriado, conhecido como J1”, calculou o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri (PT), em visita às obras nesta segunda-feira (3).
O investimento no campus principal, batizado de Arandu, refere-se apenas à primeira fase do projeto idealizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que inclui os edifícios administrativos, salas de aula, restaurante e biblioteca, além do sistema viário interno.
Diretor da Itaipu chegou a admitir que R$ 800 milhões para a Unila era um valor muito alto
Em entrevista concedida à Gazeta do Povo, há pouco mais de dois anos, o diretor-geral do lado brasileiro da usina admitiu que o valor estipulado — na época já se falava em R$ 800 milhões — era muito alto. Ele havia afirmado ser favorável à adaptação do projeto para se chegar a um valor mais baixo, o que não aconteceu.
A coordenação da obra está a cargo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (Unops), que retomou as obras no mês de setembro. O marco inicial da retomada foi a concretagem das salas de aula do novo campus da Unila.
Antes do reinício das obras, os projetos passaram por uma revisão para atualizar as tecnologias existentes. Com as modificações implementadas, os órgãos envolvidos prometem que será possível economizar 30% da energia. As estruturas existentes (os cerca de 40% da obra que estava levantada) também passaram por avaliações que atestaram sua higidez.
“As adaptações são necessárias porque 10 ou 15 anos em termos de tecnologia de construção mudam muita coisa. Atualizamos a iluminação, o sistema de climatização e as normas técnicas, respeitando a arquitetura original”, detalhou o gerente de projetos da Itaipu, Rafael Esposel, gerente de projetos do Unops. De acordo com ele, as melhorias implementadas focam em eficiência energética e manutenção, além da sustentabilidade.
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Com a mudança no governo federal, de Jair Bolsonaro (PL) para Lula, a Itaipu Binacional alterou seus rumos de atuação, mais do que apenas a substituição dos nomes que compõem a diretoria da usina no lado brasileiro — a gestão da hidrelétrica é compartilhada com o Paraguai.
Do governo de Michel Temer (MDB) até Bolsonaro, a Itaipu foi protagonista de grandes obras de engenharia e infraestrutura. Com o retorno da gestão petista, o recado foi claro desde o início: o foco deveria mudar para uma atuação socioambiental.
E a orientação foi implementada rapidamente, o que de maneira prática contempla o reconhecimento e o pagamento de uma dívida histórica da hidrelétrica com povos indígenas que viviam na região oeste do Paraná, na fronteira com o Paraguai.
A área foi alagada pelo reservatório de Itaipu, nas margens do Rio Paraná, no início dos anos de 1980. Entre as ações, o Estado brasileiro e a Itaipu pediram desculpas oficiais ao povo Avá-Guarani.
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Entrega da Unila é prevista para 2027
A primeira etapa está prevista para ser entregue em 2027, com o sistema viário interno finalizado no ano que vem. A obra está “cerca de 8% a 9% adiantada em relação ao cronograma original”, segundo a equipe técnica.
A Unila foi fundada em 2010, na segunda gestão federal de Lula. O projeto da sede da instituição foi um dos últimos do arquiteto Oscar Niemeyer, para um campus que fica dentro da área de abrangência de Itaipu. Niemeyer baseou-se na Universidade de Constantine, na Argélia, para o desenvolvimento da proposta à Unila.
A obra foi dividida em duas etapas, sendo somente a primeira orçada originalmente em cerca de R$ 240 milhões. A construção começou em 2011 e, passados cerca de três anos e seis termos aditivos celebrados entre as partes, o orçamento já ultrapassava os R$ 260 milhões.
A obra se tornou inexequível para o governo e foi abandonada pelo consórcio vencedor da licitação em 2014, com cerca de 40% da construção executada entregue à Unila no início de 2015, ano em que se previa a conclusão. Na sequência, a expectativa sobre a retomada da construção já recaía sobre Itaipu, mas as tratativas não avançaram até o retorno de Lula à Presidência.
Unila conta com 4.130 estudantes de graduação e 952 de pós-graduação. Aproximadamente 40% dos alunos são estrangeiros, de mais de 30 nacionalidades, principalmente da América Latina e do Caribe. (Foto: Projeção/Unops)Reitora defende integração regional e destaca estudo de uso medicinal da Cannabis
Durante a visita às obras, a reitora da Unila, Diana Araujo, ressaltou que a universidade tem papel fundamental na integração regional. “A Unila é uma política pública de integração. É bilíngue, internacional e forma gestores, pesquisadores e lideranças para toda a América Latina. A consolidação dessa infraestrutura é essencial para o nosso crescimento”, afirmou.
A reitora também destacou o impacto econômico e social da instituição em Foz do Iguaçu. “Temos um orçamento anual de R$ 217 milhões que movimenta a economia local e geramos pesquisa aplicada com impacto direto na sociedade, como o projeto de Cannabis medicinal, que já atendeu mais de 400 pacientes”, pontuou.
A Unila conta com 4.130 estudantes de graduação e 952 de pós-graduação, além de cerca de mil servidores entre docentes e técnicos administrativos. Aproximadamente 40% dos alunos são estrangeiros, de mais de 30 nacionalidades, principalmente da América Latina e do Caribe.
Com a conclusão da primeira etapa da sede, a previsão acadêmica é de ampliação de vagas e cursos, além da expansão da pós-graduação e da pesquisa. “Teremos condições de crescer. Vamos aumentar o número de cursos e fortalecer nossos programas de pós-graduação”, adiantou Diana.
Sem previsão para a segunda etapa do projeto, Itaipu informou que novos investimentos dependerão da disponibilidade orçamentária e das negociações tarifárias anuais da empresa. “Não assumimos compromissos prolongados porque a tarifa de Itaipu é renegociada anualmente. Por isso, trabalhamos com segurança dentro da perspectiva de orçamento para 2025 e 2026”, disse Verri.
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Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/obra-unila-ganha-atualizacao-tecnologica-recursos-milionarios-itaipu/
