7 de dezembro de 2025
Mercado ilegal de cigarros financia facções e amplia violência, revela
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O mercado ilegal de cigarros no Brasil movimenta cerca de R$ 10,2 bilhões por ano e tem se consolidado como uma das principais fontes de financiamento de facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Essas organizações utilizam as mesmas rotas logísticas e canais de distribuição empregados em outros mercados ilícitos, como o de drogas e armas. Atualmente, 32% dos cigarros vendidos no país são ilegais.

FGV aponta ligação entre contrabando e crimes violentos
Um levantamento inédito da Fundação Getulio Vargas (FGV), encomendado pela Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), revela uma relação direta entre o comércio ilegal de cigarros e o aumento de crimes violentos. O estudo mostra que cada ponto percentual de crescimento na taxa de ilegalidade está associado a 892 novos casos de tráfico de drogas, 239 homicídios dolosos, 629 apreensões de armas de fogo e 30 latrocínios.

Facções transformam territórios em fontes de renda
Facções ligadas ao narcotráfico expandiram sua atuação para além da venda de drogas, passando a controlar economicamente territórios inteiros. Em muitas comunidades, criminosos impõem o monopólio da venda de produtos e serviços — de cigarros a internet — e cobram “pedágios” de comerciantes e mototaxistas. Esse modelo é mais rentável e menos arriscado do que o tráfico tradicional, segundo a Polícia Federal.

Controle territorial e economia paralela nas favelas
No Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, marcas tradicionais de cigarro estão proibidas de circular. Somente produtos vendidos por traficantes podem ser comercializados em bares e comércios locais. Representantes de empresas de telefonia, bebidas e cigarros relatam ser impedidos de entrar nessas áreas sem pagar propina.

Pesquisadores destacam efeito estatístico do contrabando
“O modelo econométrico mostra correlações, não causalidades, mas é evidente a associação entre a ilegalidade e o avanço da violência”, explica o economista Renan Pieri, da FGV-SP. A análise foi feita com dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) e da pesquisa Pack-Swap, do IPEC, que monitora o percentual de cigarros ilegais em nove estados.

Evasão fiscal bilionária agrava prejuízo ao país
Além de fortalecer o crime organizado, o comércio clandestino causa perdas anuais de R$ 7,2 bilhões em impostos. Desse total, R$ 3,9 bilhões são federais (IPI e PIS/Cofins) e R$ 3,3 bilhões correspondem ao ICMS estadual e municipal. A recuperação de apenas metade dessa arrecadação perdida poderia gerar R$ 2,7 bilhões adicionais aos cofres públicos.

Demanda constante e fiscalização frágil alimentam o crime
Segundo Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), “a engrenagem que mantém esse mercado é resultado da combinação entre alta demanda, falhas na fiscalização e regulação excessivamente restritiva do setor legal”. Ele ressalta que o combate efetivo ao contrabando exige políticas integradas de segurança e tributação equilibrada.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/mercado-ilegal-de-cigarros-financia-faccoes-e-amplia-violencia-revela-estudo-da-fgv/