6 de novembro de 2025
Castro volta ao páreo por vaga ao Senado no Rio
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A megaoperação contra a facção criminosa Comando Vermelho feita pelo governo do Rio de Janeiro, na semana passada, após autorização da Justiça, foi aprovada pela maioria da população fluminense e deve alavancar a pré-candidatura do governador Cláudio Castro (PL) ao Senado. Nos últimos meses, ele chegou a cogitar permanecer no cargo até o final do segundo mandato, abrindo mão da disputa eleitoral.

A repercussão da operação nos morros cariocas com prisões de traficantes e apreensões de fuzis recoloca Castro no cenário para 2026. Segundo a pesquisa Quaest divulgada no último sábado (1º), a aprovação do governador saltou de 43% para 53% entre agosto e outubro, sendo que na capital o índice foi de 32% para 47% no mesmo período.

Na área da segurança pública, 39% dos eleitores fluminenses classificaram como “positiva” a gestão de Castro no levantamento realizado após a operação Contenção. Em agosto, o percentual era de 22% dos entrevistados satisfeitos com a administração do governador na segurança pública.

O Datafolha também evidenciou que a popularidade de Cláudio Castro alcançou o ponto mais alto desde 2022, conforme levantamento também divulgado no último fim de semana. A pesquisa mostra que 40% dos moradores da capital e da região metropolitana consideram o governo ótimo ou bom, enquanto 34% avaliam como ruim ou péssimo.

Os obstáculos no caminho de Cláudio Castro

Cantor evangélico e ex-vereador do Rio de Janeiro, Castro foi eleito vice-governador nas eleições de 2018 e assumiu o comando do estado em 2021 após o impeachment de Wilson Witzel. No ano seguinte foi reeleito no primeiro turno com apoio do então presidente Jair Bolsonaro (PL), no estado de origem da família do líder da direita brasileira.

Com baixa popularidade e dificuldades na articulação de um nome na tentativa de fazer um sucessor ao governo do Rio, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, chegou a admitir a aproximação da sigla com o prefeito carioca, Eduardo Paes (PSD), cotado como pré-candidato ao governo em 2026. Paes foi reeleito à prefeitura do Rio com o apoio de Lula nas eleições municipais do ano passado.

Outro obstáculo para a candidatura de Castro é o julgamento por suposto abuso de poder político e econômico na campanha de 2022 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nesta terça-feira (4), a ministra relatora Isabel Gallotti votou pela cassação do mandato e a inelegibilidade do governador. O julgamento foi suspenso na sequência por um pedido de visto do ministro Antonio Carlos Ferreira.

Em 2026, cada estado brasileiro irá eleger dois senadores.

Após o apoio de governadores de direita e da aprovação de parte significativa do eleitorado à operação contra o crime organizado, o nome de Castro passou a ocupar um papel de protagonista na política fluminense com influência nos rumos do PL. O governador pode emplacar uma dobradinha ao Senado com Flávio Bolsonaro (PL) e também terá peso nas articulações de uma candidatura de direita, na tentativa de impedir o avanço de Paes no campo conservador. Em 2026, cada estado brasileiro irá eleger dois senadores.

O líder do PL na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Filippe Poubel, declarou que apoia a candidatura ao Senado de Castro, mas que o governador não tem discutido o projeto eleitoral para 2026. O parlamentar considera que o apoio popular deve ser convertido em votos em decorrência do trabalho de Castro, priorizando o combate ao crime organizado.

“Isso reflete [nas urnas], é algo natural. O nome do governador foi impulsionado porque a segurança pública é o pilar do estado. Sem segurança, não temos saúde, educação e lazer”, comenta Poubel. Para ele, é expressivo o crescimento de Castro nas redes sociais. Após a operação Contenção, o perfil oficial de Castro no Instagram ganhou cerca de 1,5 milhão de seguidores.

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Aliança é orquestrada para candidatura dupla do PL ao Senado no Rio de Janeiro

O líder do PL na Alerj defende a candidatura de Castro junto com o senador Flávio Bolsonaro, que buscará a reeleição para mais oito anos de mandato no Congresso Nacional. Para disputar o governo estadual, o pré-candidato do grupo político deve ser o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil).

“O nome do Flávio Bolsonaro já está chancelado para a reeleição pelo PL, e o segundo nome, hoje, seria o de Cláudio Castro. Não há outro nome no estado […] Também sou entusiasta da candidatura do Bacellar e fui o primeiro a me posicionar contra qualquer aceno ao Eduardo Paes“, disse Poubel em entrevista à Gazeta do Povo.

O líder do governo na Alerj, deputado Rodrigo Amorim (União Brasil), confirma as articulações na direita pela eleição de dois senadores ligados ao ex-presidente Bolsonaro e a construção de uma candidatura que possa fazer frente ao projeto político do prefeito carioca.

“O maior nome da direita fluminense é o senador Flávio Bolsonaro, que tem realizado um excelente trabalho e deve buscar a reeleição. O governador Castro também é um nome forte para o Senado. Já afirmou que, se necessário, concluirá o mandato, mas sua candidatura é viável e competitiva, principalmente após o sucesso das ações contra o crime organizado”, comenta o aliado.

Se Cláudio Castro for candidato ao Senado, ele deve deixar o cargo de governador no mês de abril, seis meses antes das eleições de 2026. Neste cenário, Bacellar assume o cargo de governador do estado, o que deve impulsionar a visibilidade política do presidente da Alerj.

Em maio, o então vice-governador fluminense, Thiago Pampolha (MDB), foi indicado por Castro e assumiu o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), abrindo espaço para que Bacellar assumisse o posto. “Bacellar é próximo do campo ideológico e aliado de Cláudio Castro, além de ser habilidoso e respeitado. É do interior, o que é relevante, pois historicamente o interior elege os governadores no Rio. Tem diálogo e reconhecimento fora da capital”, defende Amorim.

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Operação rompe com discurso histórico da esquerda 

O especialista em segurança pública Roberto Motta recorda que desde a ocupação do complexo do Alemão em 2007, a cidade do Rio de Janeiro convive com as operações policiais de combate ao crime, que recebem o apoio popular. No entanto, ele considera que a última operação foi marcada pela falta de adesão ao discurso histórico da esquerda.

Segundo o governo do Rio de Janeiro, 118 armas foram apreendidas na operação, sendo 93 fuzis e mais de 110 suspeitos foram presos na ação mais letal da história da polícia fluminense, com 121 mortes.

“A esquerda adotou a bandeira da defesa do crime — não do criminoso individual, mas do crime como fenômeno institucionalizado. O raciocínio é sempre o mesmo: o criminoso seria uma vítima do sistema capitalista e deveria ser ressocializado, não punido. Essa ideia de ressocialização é uma fantasia ideológica”, analisa Motta.

Ele lembra que a própria militância de esquerda recuou após perceber a baixa adesão ao discurso de que a operação teria sido uma suposta chacina. “Pela primeira vez, a narrativa dominante da mídia não conseguiu se impor. Alguns veículos começaram a tratar a operação como massacre, mas mudaram o tom. Essa mudança é realmente um fato novo, considerando o histórico dessa narrativa”, acrescenta o especialista em segurança pública.

Motta rebateu as críticas de que a operação policial teria sido feita pelo governo do Rio de Janeiro para, supostamente, influenciar a opinião dos eleitores no próximo ano. “A operação recente não teve como objetivo acabar com o tráfico e sequer foi criada pelo governador Castro para gerar impacto eleitoral. Ela foi ordenada pela Justiça. Por isso, o CNJ [Conselho Nacional de Justiça], inclusive, anunciou uma investigação sobre a atuação do juiz que autorizou a operação”, argumenta.

O deputado Rodrigo Amorim afirma que a aprovação de Castro é resultado da política de enfrentamento ao crime organizado em oposição ao governo Lula, que para o parlamentar, “não tem cumprido seu papel e se omitiu na operação”. 

O governador e a base aliada criticam o governo federal pela falta de apoio com blindados das Forças Armadas para derrubar as barricadas, que foram formadas pelo Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão para impedir o avanço da polícia fluminense.

“O governador Cláudio Castro enfrentou o crime organizado, deu segurança jurídica aos policiais, conduziu pessoalmente as operações e bancou, com altivez, os resultados. Essa postura faz com que a população reconheça nele um líder disposto a combater o maior problema, o que naturalmente eleva os índices de aprovação e popularidade”, avalia Amorim.

Metodologia das pesquisas citadas:

  • O levantamento da Quaest ouviu 1.500 pessoas no estado do RJ entre os dias 30 e 31 de outubro, com margem de erro de 3 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.
  • A pesquisa Datafolha ouviu 626 pessoas por telefone na cidade do Rio de Janeiro nos dias 30 e 31 de outubro. A margem de erro é de 4 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/claudio-castro-vaga-senado-rio-de-janeiro-2026/