Um estudo liderado por astrônomos da Universidade Yonsei, na Coreia do Sul, publicado este mês no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, propõe que a expansão do Universo pode já ter entrado em uma fase de desaceleração – o que contraria a visão dominante de que ela segue acelerando sob a ação da chamada energia escura.
A conclusão resulta de uma revisão profunda do brilho de supernovas do tipo Ia, padrão usado há décadas para medir distâncias cósmicas, e pode reabrir o debate sobre a natureza da energia escura e a chamada “tensão de Hubble”.
Desaceleração do Universo e energia escura: o que muda
- Reanálise de supernovas sugere que a aceleração atual do Universo pode não estar acontecendo;
- Correção por idade das estrelas progenitoras altera o brilho “padrão” das supernovas;
- Dados ajustados se alinham melhor a modelos em que a energia escura evolui ao longo do tempo;
- Combinação com medidas de “ecos” do Big Bang reforça o cenário de desaceleração;
- Próximos levantamentos prometem testes mais robustos e independentes.
Nova proposta confronta modelo padrão do Universo
Por mais de duas décadas, a ideia de um Universo em aceleração ganhou força com base nas supernovas do tipo Ia, consideradas “velas padrão”. O novo trabalho, no entanto, sugere que essas explosões não são tão padronizadas quanto se imaginava. A idade das estrelas que dão origem a essas supernovas influencia sutilmente seu brilho: em populações estelares mais jovens, elas parecem mais fracas; em populações mais antigas, mais brilhantes, mesmo após a padronização convencional.
Ao corrigir esse viés de idade em uma amostra ampla de galáxias hospedeiras, os pesquisadores notaram que os dados de supernovas deixam de se ajustar confortavelmente ao modelo cosmológico ΛCDM com uma constante cosmológica invariável.
Em vez disso, passam a concordar melhor com cenários favorecidos por resultados recentes do projeto Instrumento Espectroscópico de Energia Escura (DESI), que se apoiam em oscilações acústicas de bárions (BAO) – “ecos” da expansão primordial – e na radiação cósmica de fundo em micro-ondas, o brilho residual do Big Bang. Em um comunicado, os autores explicam que, juntos, esses conjuntos de dados sugerem uma energia escura que enfraquece e evolui ao longo do tempo.

“Nosso estudo mostra que o Universo já entrou em uma fase de expansão desacelerada na época atual e que a energia escura evolui com o tempo muito mais rapidamente do que se pensava anteriormente”, diz o professor Young-Wook Lee, autor principal. “Se esses resultados forem confirmados, isso representará uma grande mudança de paradigma na cosmologia desde a descoberta da energia escura, há 27 anos.”
Os pesquisadores lembram que análises recentes do DESI combinaram supernovas não corrigidas com medidas de BAO e apontaram uma desaceleração apenas no futuro distante. A equipe de Yonsei, ao aplicar a correção de idade, chega a uma leitura diferente: a desaceleração já teria começado. “Em contraste, nossa análise, que aplica a correção do viés de idade, mostra que o Universo já entrou em uma fase de desaceleração hoje”, afirma Lee.
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Descoberta reinterpreta o papel da energia escura
Para fortalecer a evidência, os cientistas conduzem um “teste livre de evolução”, focado apenas em supernovas de galáxias jovens e coevas (da mesma época) ao longo de toda a faixa de distâncias. Os primeiros resultados, segundo eles, reforçam a principal conclusão.
A próxima geração de observações promete acelerar a checagem. “Nos próximos cinco anos, com o Observatório Vera C. Rubin descobrindo mais de 20 mil novas galáxias hospedeiras de supernovas, medições precisas de idade permitirão um teste muito mais robusto e definitivo da cosmologia das supernovas”, afirma o pesquisador Chul Chung, um dos líderes do estudo.

Se confirmada, a hipótese de que a expansão já desacelera mexe em peças centrais da cosmologia contemporânea. Ela reinterpreta o papel da energia escura – possivelmente variável no tempo – e oferece um novo ângulo para a tensão de Hubble, o descompasso entre diferentes maneiras de medir a taxa de expansão do cosmos.
Na prática, esse avanço metodológico também transborda para outras áreas: técnicas de calibração fina, sensores mais precisos e análise de dados em grande escala tendem a repercutir em campos como imagem científica, satélites e até diagnósticos médicos. Ao ampliar nosso entendimento do Universo, a pesquisa também oferece perspectiva e senso de lugar – algo que, em última instância, influencia escolhas coletivas, políticas de ciência e bem-estar social.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/11/07/ciencia-e-espaco/universo-pode-estar-pisando-no-freio-diz-novo-estudo/
