8 de novembro de 2025
Antigos aliados do PT buscam apoio do PL nas eleições
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A possibilidade de viabilizar candidaturas para as eleições de 2026 com apoio do PL tem aproximado políticos com histórico de militância na centro-esquerda e antigos aliados de Lula à sigla mais identificada com a direita conservadora brasileira. O espólio político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – que está inelegível e cumpre prisão domiciliar – é cobiçado por opositores que almejam os governos estaduais.

Os casos mais notórios são os do ex-candidato a presidente Ciro Gomes (PSDB) e do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Ex-governador cearense, Ciro Gomes foi ministro do governo Itamar Franco e do primeiro mandato presidencial de Lula. No mês passado, ele retornou ao ninho tucano após 10 anos no PDT, partido de centro-esquerda comandado por Carlos Lupi.

Pela sigla, Ciro Gomes foi candidato a presidente nas eleições de 2018 e 2022, quando se colocava como uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e Lula, com inúmeros ataques direcionados ao então candidato da direita. O histórico e o estilo polêmico dele não devem impedir o apoio do PL a uma possível candidatura ao governo do Ceará, o que ficou evidente na filiação ao PSDB.

O evento contou com a presença do ex-candidato a prefeito de Fortaleza e deputado federal André Fernandes (PL), uma das principais lideranças estaduais da legenda no Ceará. No dia, Gomes rebateu as críticas à aliança com o PL para a coligação que deve enfrentar o atual governador e pré-candidato à reeleição, Elmano de Freitas (PT).

“Do Ceará para frente é quase tudo afinidade e algumas desavenças que nós vamos amadurecer, fraternalmente”, disse Ciro Gomes a André Fernandes, a quem chamou de “jovem talento”. O apoio ao ex-governador teve o aval de Bolsonaro e do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que revelou recentemente ter aberto mão de processos na Justiça contra Ciro Gomes para atraí-lo ao grupo de oposição cearense.

A aliança política ainda tem o apoio do ex-deputado Capitão Wagner, presidente cearense do União Brasil, que também abriu mão de três processos contra Ciro Gomes. O pré-candidato participou da filiação do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio ao União Brasil, na última quarta-feira, e declarou que atacava o ex-adversário por causa do irmão Cid Gomes (PSB).

Ciro rompeu relações políticas com Cid, ex-governador do estado e atual senador que pode apoiar à reeleição do governador petista no Ceará, após atritos com Elmano de Freitas. “Por solidariedade cega ao meu irmão […] eu não queria nem saber quem era o Capitão Wagner. Só queria saber de atacar porque ele era adversário agressivo do meu irmão”, declarou Ciro Gomes.

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Direita rejeita aliança entre PL e Paes nas eleições do Rio de Janeiro

Se no Ceará o acordo entre PL e Ciro Gomes está encaminhado para enfrentar o PT nas eleições de 2026, no Rio de Janeiro o prefeito Eduardo Paes terá muita dificuldade na tentativa de aproximação ao grupo mais conservador da política fluminense, apesar de aceno do cacique Valdemar Costa Neto.

No final de outubro, Paes participou de um evento do PSDB no Rio de Janeiro junto com o presidente estadual do PL, o deputado federal Altineu Côrtes. No palanque, o prefeito carioca insinuou que estaria com o PL nas eleições ao governo “por amor ao Rio”. Em setembro, Paes também saiu em defesa do pastor Silas Malafaia, uma das principais lideranças religiosas da política fluminense e aliado de Bolsonaro.

Água e óleo não se misturam. Não há hipótese de caminhar com o Paes.

Líder do PL na Alerj, Filippe Poubel (PL-RJ)

O deputado estadual Filippe Poubel (PL), líder do PL na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ameaça deixar o partido se a sigla apoiar o prefeito carioca e não descarta uma debandada dos parlamentares do PL. “Ele é braço direito e soldado do Lula no Rio de Janeiro […] Se o partido caminhar com o Paes, eu e outros deputados deixaremos a legenda. Água e óleo não se misturam. Não há hipótese de caminhar com o Paes”, afirmou Poubel em entrevista à Gazeta do Povo.

O líder do governo no Legislativo fluminense, Rodrigo Amorim (União Brasil), rechaçou a possibilidade de a direita apoiar o projeto estadual de Eduardo Paes. Amorim é próximo da família Bolsonaro e irmão do líder do PL na Câmara Municipal do Rio, o vereador Rogério Amorim.

Os deputados estaduais do União e do PL articulam a coligação em apoio ao presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União), pré-candidato ao governo fluminense. Amorim classifica Paes como um “camaleão” na política e afirma que o prefeito do Rio tenta se descolar de Lula após o fracasso de gestão no governo federal e a queda de popularidade do petista no estado do Rio, majoritariamente conservador, na avaliação do deputado.

“Paes busca se aproximar do eleitorado de centro-direita, mas comete erros. O primeiro foi, recentemente, provocar o PL em um ato do PSDB, fazendo piadas e antecipando movimentos políticos desnecessários”, disse o adversário político, que foi candidato a prefeito carioca em 2024.

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Polarização e interesses regionais pesam nas alianças com desafetos políticos

Para o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino, as articulações políticas com antigos desafetos mostram que a influência da polarização dos últimos anos resiste e deve ser determinante até as eleições de 2030, pelo menos.

“Na medida em que você se distancia de um dos lados, acaba caindo inevitavelmente próximo ao outro. É difícil engrenar uma candidatura legítima de terceira via no meio da polarização que atravessamos no país. Talvez, em 2030, a gente comece a desenhar um cenário diferente”, comentou Consentino.

No caso do prefeito carioca, ele considera que Paes procura se posicionar como um candidato de centro por uma questão estratégica eleitoral. Por outro lado, isso exige a capacidade de articulação política com grupos antagônicos, apesar do ambiente fortemente influenciado pela polarização, agravado pelo debate ideológico em torno da segurança pública após a megaoperação no Rio.

Além disso, o cientista político pontua que os partidos tomam rumos distintos em cada estado, levando em conta a realidade política local. “Nesses casos, os interesses regionais superam as questões nacionais. A lógica estadual e municipal é muito distinta da lógica federal.”

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Crime organizado deve ser principal assunto em debate no Rio e no Ceará

Os estados do Rio de Janeiro e Ceará enfrentam um grande problema em comum, principalmente nas capitais: o domínio territorial das facções do crime organizado. Além da megaoperação nos morros cariocas, uma ação policial em Fortaleza terminou com a morte de sete suspeitos de ligações com o Comando Vermelho, na semana passada. A capital cearense tem registrado a expansão das facções com dominação de territórios e até a expulsão de moradores de suas residências.

A segurança pública deve dominar o debate nas eleições, tanto na corrida presidencial como na disputa pelos governos estaduais em 2026. “O avanço das facções criminosas dominando territórios é assustador e vergonhoso. Precisamos formar uma ‘facção do bem’, um movimento jovem comprometido com a paz, a ética e a construção de oportunidades legítimas para os nossos jovens”, declarou Ciro Gomes, antecipando o debate, logo no evento de filiação ao PSDB.

O deputado do PL André Fernandes disse que recebeu críticas pelo acordo com Ciro, movimento considerado “arriscado” por parte do eleitorado conservador cearense. Além da aliança estratégica para derrotar o PT, ele ressalta a necessidade de enfrentar o crime organizado. “Tenho respondido que mais arriscado é o que o povo do Ceará está enfrentando quando sai de casa, isso quando a facção não expulsa o morador da residência”, rebate.

Já o deputado fluminense Rodrigo Amorim comparou a megaoperação contra o crime organizado, comandada pelo governo do Rio, com a política pública do prefeito carioca na área da segurança e lembrou da reformulação guarda municipal armada na capital, alvo de diversas críticas nos primeiros meses do novo mandato de Paes. 

“Ele [Paes] tem se omitido na segurança pública. Poderia contribuir com ações de ordenamento urbano, fiscalização de atividades ligadas ao crime, como ferros-velhos, e remoção de barricadas, mas não faz.”

A Gazeta do Povo procurou Paes e Ciro Gomes, por meio da assessoria de imprensa dos políticos, mas não teve retorno de ambos sobre as articulações eleitorais até a publicação desta reportagem.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/antigos-aliados-lula-apoio-pl-candidaturas-estaduais-2026/