10 de novembro de 2025
Dino D’Santiago fala em Paris de “uma nova Lisboa feita
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por Lusa,    9 Novembro, 2025


Fotografia via Facebook do artista

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O artista luso-cabo-verdiano Dino D’Santiago abriu hoje, em Paris, um festival que celebra os 50 anos de independência dos países africanos de língua portuguesa saudando “uma nova Lisboa” que se renova no tempo, “feita de cruzamentos de povos”.

“Lisboa nu bai Paris” – “Lisboa vai a Paris” em crioulo cabo-verdiano -, o festival concebido por Dino D’Santiago em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian para celebrar os 50 anos das independências, realizou-se este fim de semana em Paris.

Em declarações à Lusa à margem do concerto de sábado à noite, Dino D’Santiago considerou ser importante falar da capital portuguesa porque, 50 anos depois das independências, “nasceu uma nova Lisboa”, que “é uma filosofia que se renova com o tempo”, e “mais um fragmento dessa história feita de cruzamentos de povos”.

“É um manifesto de convivência, um sonho de um lugar onde todos os corpos se sintam em casa”, disse.

“Lisboa nu bai Paris” define-se como um espaço de encontro entre artistas, músicos e pensadores de diferentes origens. Na abertura, o festival propôs uma conversa aberta ao público, gratuita, entre o artista Dino D’Santiago e a filósofa Luisa Semedo, sobre o legado da independência dos países de África de língua portuguesa.

Para Luisa Semedo, o colonialismo continua a ser uma realidade nestes países, apesar de já terem passado cinquenta anos desde a independência, sendo o maior desafio “chegar a uma verdadeira independência”. “Não basta dizer agora somos independentes, é preciso viver essa independência, apesar das dificuldades económicas”, afirmou.

A filósofa apelou ainda às novas gerações de ativistas para que “não traiam os valores dos revolucionários de antigamente”, citando Amílcar Cabral, figura emblemática da independência, e sublinhando que a luta revolucionária pela independência não tem fim porque “os próprios revolucionários, como Amílcar Cabral, sabiam que esta luta era um processo e, portanto, é uma luta que não tem fim”.

Para Dino D’Santiago, “os jovens estão muito à frente, misturam culturas, usam t-shirts de Angola ou Cabo Verde com orgulho”. Para além de Lisboa, é “Portugal que está a transformar-se, com miúdos a falar crioulo no metro, sejam brancos ou negros”.

O festival representa um movimento contemporâneo de afirmação da africanidade dos afro-portugueses, segundo o artista, que considera que é mais fácil para estas populações viverem em Portugal hoje do que há 20 anos.

“Se fosse adolescente atualmente, “seria mais fácil”, diz, apontando que vê pelas sobrinhas “uma aceitação natural, um orgulho em usar o cabelo afro, em falar crioulo, em vestir padrões africanos”.

Esta evolução, considera, acabou por ter também um impacto nas gerações que conheceram a luta pela independência: “Mesmo os nossos pais estão a mudar: falam crioulo, ensinam aos netos”.

Em 50 anos, estas mudanças são também visíveis nos gostos musicais dos portugueses, que colocam nos topos dos rankings artistas de África de língua portuguesa. No entanto, a extrema-direita avança em Portugal, mas isso não assusta Dino D’Santiago, que afirma que “a extrema-direita parece maior por causa das redes sociais, mas o povo é mais forte e quer ser feliz”.

“A música africana sempre trouxe felicidade”, afirmou.

O festival “Lisboa nu bai Paris” foi aberto pela artista cabo-verdiana Kady, neta da voz da rádio Libertação, Amélia Araújo, sentiu-se diretamente tocada pela independência tocou-a diretamente porque a sua “avó foi combatente da luta de libertação: “Sinto que estar aqui é como se eu estivesse a dar continuidade a esse legado, a honrá-la, e a todos os combatentes”, disse à Lusa.

A programação do festival conta também com artistas dessa nova geração lusófona como Fattú Djakité, Nídia, DJ Marfox,

EU.CLIDES, Umafricana e Soluna, entre outros.

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Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/dino-dsantiago-fala-em-paris-de-uma-nova-lisboa-feita-de-cruzamentos-de-povos/