15 de novembro de 2025
A luta dos trabalhadores num mundo em ebulição
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ALTAMIRO BORGES

O mundo passa por um período de incertezas, tensões e retrocessos, fenômenos que afetam diretamente a vida e as lutas dos trabalhadores. O capitalismo atravessa uma crise prolongada e sistêmica, e o capital joga todo seu ônus nas costas dos explorados, com mais desemprego, menos salários e precarização do trabalho.

A crise também acirra as contradições entre as nações, gerando guerras e conflitos – com gastos cada vez maiores em armas e milhares de mortos. Os EUA, como um império decadente, tornam-se ainda mais agressivos, promovendo tarifaços e ameaçando os povos do mundo inteiro.

Esse cenário sombrio serve de base para o crescimento de partidos neofascistas em vários países. A extrema direita se aproveita do caos econômico e do descrédito das instituições para disseminar ódio, preconceitos e violência.

Essas tendências destrutivas, porém, não são irrefreáveis. Há contratendências, como as expressas na constituição do bloco do Brics, na ascensão de novas potências econômicas, com destaque para a China, e no despontar de um mundo multipolar. A resistência dos trabalhadores também se faz presente em várias partes do planeta, como greves, protestos e alguns êxitos eleitorais.

A CRISE SISTÊMICA DO CAPITALISMO

A crise sistêmica do capitalismo fica evidente nas baixas taxas de crescimento das economias dos EUA, União Europeia e Japão, no desmonte dos Estados de bem-estar social, na retirada de direitos trabalhistas e no aumento vertiginoso das desigualdades sociais.

O projeto neoliberal, sob hegemonia do capital financeiro, agravou essa crise com seu receituário de desmonte do Estado, da nação e do trabalho. Segundo dados do Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) global cresceu 3,2% em 2022 e 2,7% em 2023 e 2024, o que comprova o grave quadro de estagnação econômica.

O mais dramático é que na crise os ricos ficam cada vez mais ricos, com o aumento da concentração de renda e riquezas, e os pobres afundam na miséria. Estudo da Oxfam, divulgado em junho passado, mostra que a fortuna dos 1% mais ricos cresceu US$ 33,9 trilhões nos últimos 10 anos – valor suficiente para acabar com a pobreza em 22 vezes. “Enquanto isso, mais de 3,7 bilhões de pessoas permanecem na miséria”, afirma o relatório da renomada ONG.

Nessa fase regressiva e destrutiva do capitalismo, os trabalhadores são as maiores vítimas. Na busca para manter e ampliar seus lucros, o capital intensifica a concorrência por produtividade, aumentando a exploração do trabalho. O desenvolvimento tecnológico, que deveria servir ao bem-estar da humanidade, é apropriado pelos ambiciosos capitalistas.

Através das plataformas digitais, controladas por poderosas big techs (gigantes da tecnologia), há um vertiginoso processo de precarização do trabalho, de fragmentação da classe trabalhadora e de fragilização da sua luta e organização coletiva. Os chamados “novos empreendedores” – uma farsa para camuflar a brutal exploração – não possuem qualquer proteção social e trabalham em longas jornadas e com baixo rendimento.

Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de janeiro passado destaca que “o déficit global de empregos atingiu 402 milhões em 2024”, que o número de trabalhadores na informalidade retornou aos níveis pré-pandemia da Covid, com cerca de 2 bilhões de informais, e que as maiores vítimas do desemprego são os jovens – com uma taxa global de 12,6%.

O CRESCIMENTO DAS FORÇAS NEOFASCISTAS

A crise capitalista, que esgarça o tecido social e frustra as perspectivas de futuro da sociedade, estimulou o crescimento de forças neofascistas, que pregam o ultraliberalismo na economia, o autoritarismo na política e o obscurantismo nos valores civilizatórios.

A incapacidade de resposta das instituições liberais-democráticas e a ausência de alternativas progressistas mais consistentes serviram de caldo de cultura para a extrema direita. Através de uma intensa guerra cultural, que ganhou impulso com a difusão do ódio e preconceito no esgoto digital, essas correntes seduziram inclusive parcelas dos explorados.

Os EUA são o epicentro desse movimento internacional da extrema direita, com a volta ao poder do “imperador” Donald Trump. Na Europa, neofascistas já governam vários países, como a Itália, e cresceram eleitoralmente na Alemanha, França, Espanha, Portugal, entre outros. Na sofrida América Latina, “El Loco” Javier Milei chegou ao poder com a sua destrutiva motosserra e as forças de direita já comandam a maioria dos países da região.

120 CONFLITOS ARMADOS NO MUNDO

Nesse mundo caótico e disruptivo, aumentam as disputas por territórios, riquezas e influência geopolítica. Estudo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), publicado no final de 2024, apontou a existência de 120 conflitos armados, envolvendo 60 dos 193 países do mundo – o que significa que 31% das nações enfrentam situações de guerra. Cálculos subestimados indicam que eles causaram 200 mil mortes, milhões de feridos e dezenas de milhões de deslocados das suas casas e terras no ano passado.

Apenas os senhores da guerra e a indústria das armas ganham com essa carnificina. Os gastos militares globais bateram recorde de US$ 2,7 trilhões em 2024. Os EUA seguem como maior gastador, com um orçamento de defesa de US$ 1 trilhão no ano passado.

O principal laboratório desse genocídio se dá atualmente na Faixa de Gaza, com a ação criminosa do Estado nazi-sionista de Israel. O carniceiro Benjamim Netanyahu prega abertamente a limpeza étnica e a “anexação permanente” do território da Palestina. Os palestinos estão proibidos até de receber remédios e alimentos e todos os dias idosos e crianças morrem de fome. Pesquisa de um instituto de Harvard, de julho passado, estimou em 377 mil mortos nos escombros da região.

A DITADURA DO IMPERADOR DONALD TRUMP

O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA só agrava os males do planeta. Com maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, controle da Suprema Corte e apoio dos bilionários – com destaque para os donos da big techs –, o neofascista tenta “tornar a América grande novamente” (Maga), numa política agressiva para ressuscitar o império em decadência.

No âmbito interno, seu governo persegue os imigrantes, ataca a liberdade de imprensa, asfixia as universidades e hostiliza o sindicalismo e todas as formas de organização da sociedade civil. No plano externo, ele ameaça anexar o Canadá e a Groelândia, incorporar o Canal do Panamá e construir um “resort de luxo” na devastada Faixa de Gaza.

Negacionista, ele abandonou o Acordo de Paris e a Organização Mundial de Saúde (OMS), cortou programas de ajuda humanitária, recolocou Cuba na infame lista dos países terroristas e ampliou o bloqueio econômico à Venezuela. Com sua guerra tarifária, Donald Trump tenta chantagear o restante do mundo. Toda essa arrogância imperial prova a fragilidade dos EUA e tem como objetivo enfraquecer o Brics e derrotar seu maior concorrente, a China.

* Este artigo tem como base a contribuição ao debate no 11º Congresso do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo), realizado no final de outubro.

Fonte: https://horadopovo.com.br/a-luta-dos-trabalhadores-num-mundo-em-ebulicao/