Os irmãos Valmirei e Volnei Feltrin trocaram a cultura do fumo pela pitaia e encontraram uma nova fonte de renda no campo. Em 2010, depois de verem uma reportagem sobre a fruta, decidiram arriscar em algo totalmente novo. Começaram com 125 pés da planta em Turvo (SC), mesmo sem experiência no cultivo. A aposta deu certo.
Quinze anos depois, o Recanto das Pitayas, como chamaram a propriedade, soma 14 mil pés e uma colheita anual entre 90 e 120 toneladas. A produção abastece supermercados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. “Temos uma estrutura consolidada e conseguimos viver bem só da pitaia”, contou Valmirei Feltrin à Gazeta do Povo.
A trajetória da fruta-do-dragão
A pitaia, também chamada de fruta-do-dragão, é originária das regiões tropicais e subtropicais da América, incluindo o Brasil, e pertence à família dos cactos. O nome popular vem da aparência escamosa da casca, que lembra as representações míticas do dragão asiático.
O Brasil possui uma espécie nativa, a Selenicereus setaceus, conhecida como “Saborosa”, com gosto equilibrado e levemente ácido. Outras variedades foram introduzidas com o tempo, como a Selenicereus costaricensis, de casca vermelha e polpa roxa, e a Selenicereus undatus, de casca vermelha e polpa branca.
Elas são as mais cultivadas comercialmente. Há ainda a Selenicereus megalanthus, de casca amarela e polpa branca, considerada a mais doce entre elas.
O cultivo da fruta no Brasil é relativamente recente e ganhou força nos últimos 20 anos. O país está entre os dez maiores produtores do mundo, embora ainda distante de China e Vietnã, líderes globais.
A fruta se destaca não apenas pela aparência exótica, como também por suas propriedades funcionais. É rica em fibras, antioxidantes, vitaminas e minerais, podendo ser consumida in natura ou processada em sucos, sobremesas, corantes e até cosméticos.
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Pesquisa transforma a pitaia em uma cultura de alto rendimento
A história dos irmãos Feltrin é reflexo de uma ampla transformação no campo brasileiro. O cultivo de pitaia, antes restrito a poucas regiões, vem crescendo em ritmo acelerado em praticamente todos os estados. De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados (DF) Fábio Gelape Faleiro, o país vive um “momento de virada”.
“O último dado oficial do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), de 2017, indicava cerca de 1.409 toneladas. Hoje, estimamos mais de 15 mil toneladas por ano”, comparou. O estado de São Paulo lidera a produção nacional, seguido por Santa Catarina, Pará e Minas Gerais.
A planta, por ser tropical, se adapta bem a diferentes condições de solo e clima, o que favorece sua expansão. No entanto, até pouco tempo atrás, os produtores enfrentavam um grande desafio com a polinização manual. Como a flor da pitaia abre à noite, era necessário acordar de madrugada para realizar o processo e garantir a frutificação.
Em 2023, a Embrapa Cerrados deu um passo decisivo ao lançar as cinco primeiras cultivares brasileiras da fruta: BRS Lua do Cerrado, BRS Luz do Cerrado, BRS Granada do Cerrado, BRS Minipitaya do Cerrado e BRS Âmbar do Cerrado. As novas variedades são resultado de décadas de cruzamentos, seleção e testes de campo iniciados nos anos 1990. São as primeiras cultivares da fruta registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
A Embrapa Cerrados lançou cinco cultivares de pitaia. (Foto: Divulgação/Embrapa Cerrados)Novas cultivares eliminam a polinização manual e ampliam o cultivo
As variedades desenvolvidas pela Embrapa são caracterizadas como autocompatíveis e autoférteis, ou seja, dispensam a polinização manual. “O produtor não precisa mais acordar de madrugada para garantir a frutificação. As plantas fazem isso sozinhas”, explicou Faleiro. Cada cultivar tem características próprias e atende a diferentes perfis de mercado e regiões produtoras.
A BRS Granada do Cerrado, de casca vermelha e polpa roxa, se destaca pela alta produtividade, que pode ultrapassar 40 toneladas por hectare. A BRS Âmbar do Cerrado, de casca amarela e polpa branca, é a mais doce. Também existe a BRS Minipitaya que tem frutos menores e sabor intenso, o que a torna atraente para nichos gastronômicos e a indústria de alimentos.
Além do melhoramento genético, a Embrapa e seus parceiros desenvolveram um sistema completo de manejo, com recomendações sobre plantio, irrigação, podas, tutoramento e colheita. O objetivo é padronizar a produção e oferecer segurança técnica a novos produtores.
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Mercado cresce e impulsiona a organização dos produtores
O preço da fruta varia entre R$ 5 e R$ 80 o quilo, conforme a variedade e o período da safra. Entre elas, a pitaia amarela é a que costuma atingir os maiores valores. Essa variação incentiva os produtores a planejarem a colheita em diferentes épocas, usando estufas e irrigação controlada para prolongar o ciclo produtivo.
O apelo visual da polpa colorida impulsionou o consumo em restaurantes e cafeterias, consolidando o apelido de “ouro rosa”. Pequenas exportações tiveram início, principalmente para Europa e América do Norte — o potencial de crescimento é considerado significativo.
Projetando competitividade, pesquisadores e órgãos de extensão têm incentivado o cooperativismo entre produtores. “Quando há concentração em uma única cidade, o mercado local satura rapidamente. As cooperativas ajudam a distribuir a produção e a negociar melhores preços”, afirmou Faleiro.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/sao-paulo/pitaia-ouro-rosa-conquista-produtores-brasileiros/
