As mulheres no Brasil continuam arcando com a maior parte do trabalho de cuidado não remunerado, e a desigualdade permanece profunda. Um estudo inédito da Organização Internacional do Trabalho (OIT), realizado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), mostra que brasileiras dedicam, em média, 9,8 horas a mais por semana a atividades de cuidado do que os homens. Entre mulheres negras, essa carga é mais que o dobro: chega a 22,4 horas semanais.
Os dados reforçam um cenário estrutural que restringe a autonomia econômica das mulheres e limita suas oportunidades profissionais. Segundo o relatório, a sobrecarga de cuidados interfere diretamente na permanência no mercado de trabalho, no acesso à qualificação e nas chances de progressão na carreira.
Mulheres deixam o mercado após maternidade
O estudo revela um dado particularmente alarmante: metade das mulheres deixa o mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do primeiro filho. No mesmo período, os homens tendem a aumentar sua renda. A informação evidencia como a divisão desigual de responsabilidades domésticas e de cuidado penaliza mães, enquanto reforça vantagens econômicas masculinas.
Para a OIT e o MDS, o fenômeno contribui para ampliar disparidades de renda e aprofundar desigualdades de gênero, especialmente entre mulheres negras, que acumulam jornadas mais longas, menor acesso à formalização e maiores obstáculos à ascensão profissional.
Impacto na formação e na progressão profissional
Além do afastamento temporário —ou permanente— do mercado, a sobrecarga limita o tempo disponível para qualificação profissional. Cursos de formação, especialização e atividades complementares, como participação em redes de networking, tornam-se mais difíceis às mulheres que acumulam as tarefas de cuidado.
O relatório aponta que esse quadro afeta não só o presente, mas também o futuro: interrupções na carreira reduzem a probabilidade de promoção, dificultam retorno a postos de maior remuneração e contribuem para a feminização da pobreza. Entre mulheres negras, o ciclo se intensifica pela intersecção entre racismo estrutural e desigualdade de gênero.
Corresponsabilidade como eixo de política pública
O estudo reforça que políticas de corresponsabilidade são essenciais para reverter o quadro. Isso inclui ampliação de creches, flexibilização de jornadas, estímulo à licença parental compartilhada, expansão de serviços públicos de cuidado e campanhas de mudança cultural voltadas à divisão mais equilibrada das tarefas domésticas.
Segundo a OIT e o MDS, investir em infraestrutura de cuidado não é apenas uma política social, mas também uma estratégia econômica: mais mulheres no mercado significa aumento de produtividade, elevação da renda familiar e maior dinamismo econômico.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/mulheres-brasileiras-dedicam-quase-10-horas-semanais-a-mais-do-que-os-homens-em-trabalhos-de-cuidado-nao-remunerados/
