19 de novembro de 2025
Sindicalização cresce pela primeira vez em 12 anos, mas segue
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O percentual de trabalhadores sindicalizados no Brasil voltou a crescer em 2024, após seis anos consecutivos de queda, segundo dados da Pnad Contínua divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE. O movimento interrompe uma tendência de retração que se intensificou após a reforma trabalhista de 2017, que encerrou a contribuição sindical obrigatória.

Do total de 101,3 milhões de pessoas ocupadas com 14 anos ou mais, cerca de 9,1 milhões estavam associadas a sindicatos em 2024 — o equivalente a 8,9% dos trabalhadores. O índice representa alta de 0,5 ponto percentual em relação a 2023, quando a taxa atingiu a mínima histórica de 8,4%.

Mesmo assim, o patamar atual é o segundo menor da série iniciada em 2012, ano em que a sindicalização alcançava 16,1% da população ocupada.

Impacto da reforma trabalhista e mudanças no perfil

Para o analista do IBGE William Kratochwill, o aumento pode refletir uma percepção de necessidade de reorganização entre parte dos trabalhadores. “É possível que uma parcela dos trabalhadores tenha percebido a necessidade de se filiar novamente a entidades para buscar seus direitos no ano passado”, avaliou.

Ele lembra que a queda mais acentuada ocorreu após a reforma trabalhista, quando a contribuição obrigatória deixou de existir. “A associação a sindicatos já vinha perdendo espaço naturalmente. Diversos fatores podem explicar a redução [na série], mas, quando chega 2017, há uma queda brusca”, observou. “Houve a mudança de legislação com relação a cobrança sindical e tudo mais. Naturalmente, isso pode ter causado a forte queda”, acrescentou.

Entre 2023 e 2024, o número de associados subiu de cerca de 8,3 milhões para quase 9,1 milhões — ainda distante do auge de 2013, quando 14,5 milhões eram sindicalizados.

Taxa cresce, mas permanece envelhecida

O avanço de 812 mil novos sindicalizados veio majoritariamente de trabalhadores mais velhos. Segundo o IBGE, 67,4% desse aumento corresponde a pessoas com 40 anos ou mais, o que demonstra, de acordo com William, ausência de renovação nos sindicatos.

As menores taxas continuam entre os jovens. Em 2024, apenas 1,6% dos trabalhadores de 14 a 19 anos eram sindicalizados. Entre aqueles de 20 a 29 anos, a taxa foi de 5,1%. Já os grupos de 40 a 49 anos e de 50 a 59 anos apresentaram as maiores proporções: 11,2% e 12,1%, respectivamente.

“Talvez esteja faltando investimento nos mais jovens. O sindicalismo estar perdendo tantas pessoas [ao longo da série] é porque não tem atendido às necessidades, às demandas, ao que o trabalhador almeja”, disse William. “Pode ser que agora, dado um tempo muito grande sem um sindicato bem organizado, as pessoas estejam identificando a necessidade de se reorganizar, de voltar a lutar pelos direitos.”

Setor público e empregos formais impulsionam aumento

A abertura de vagas no setor público e a criação de empregos formais no setor privado também ajudam a explicar a retomada da sindicalização. Ambas as categorias têm as maiores taxas de associação.

Em 2024, 18,9% dos trabalhadores do setor público eram sindicalizados, assim como 11,2% dos empregados com carteira assinada. Entre trabalhadores domésticos (2,6%), informais do setor privado (3,8%) e profissionais por conta própria (5,1%), a sindicalização segue baixa.

Regiões mostram trajetórias distintas

O crescimento da sindicalização não foi uniforme pelo país. De 2023 para 2024, a taxa subiu no Sudeste (de 7,9% para 9,2%) e no Sul (de 9,3% para 9,8%). O Norte apresentou leve alta, passando de 6,9% para 7%.

Já o Nordeste registrou pequeno recuo, de 9,5% para 9,3%. O Centro-Oeste também caiu, de 7,2% para 6,9%.

Apesar da recuperação regional em 2024, todas as grandes regiões têm índices inferiores aos de 2012. Em três delas — Sul, Norte e Centro-Oeste — a sindicalização se reduziu a menos da metade no período.

Cooperativas perdem força e formalização avança

A Pnad mostrou ainda baixa adesão a cooperativas de trabalho. Entre 29,8 milhões de empregadores e trabalhadores por conta própria, apenas 1,3 milhão (4,3%) era associado a essas instituições em 2024, abaixo de 2023 (4,5%) e distante de 2012 (6,3%). O Sul tem a maior adesão (8,2%), e o Sudeste, a menor (3,1%).

Por outro lado, o registro de CNPJ entre empregadores continua alto: 80% tinham cadastro em 2024. Entre trabalhadores por conta própria, a formalização avançou de 15% em 2012 para 25,7% em 2024, impulsionada pelo crescimento dos microempreendedores individuais.

Mercado de trabalho indica reorganização gradual

A combinação entre leve retomada da sindicalização, expansão da escolaridade e aumento da formalização aponta para um mercado de trabalho em reorganização após anos de crise e mudanças estruturais. Para especialistas, o futuro do sindicalismo dependerá da capacidade de atrair jovens, se modernizar e responder a demandas de uma força de trabalho cada vez mais heterogênea.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/sindicalizacao-cresce-pela-primeira-vez-em-12-anos-mas-segue-longe-do-nivel-pre-reforma-trabalhista-diz-ibge/