CCR/Motiva anuncia venda de 17 aeroportos brasileiros para empresa mexicana

Após privatizações, Brasil agora enfrenta desnacionalização de aeroportos

A empresa Motiva (ex-CCR) anunciou nesta terça-feira (18) a venda da operação de 20 aeroportos na América Latina para a empresa estrangeira Asur, grupo mexicano que administra o Aeroporto de Cancún. Segundo a empresa, os aeroportos do grupo movimentam cerca de 45 milhões de passageiros por ano.

O valor do negócio é de R$ 11,5 bilhões, incluindo R$ 6,5 bilhões em dívidas associadas aos aeroportos. 

Segundo a Motiva, a venda ocorre com o objetivo de reduzir a alavancagem, termo usado para indicar quando uma empresa opera com mais dívidas do que recursos próprios. A previsão da empresa é de que a conclusão do processo aconteça em 2026, após aprovação pelo poder concedente e pelos órgãos de defesa da concorrência.

Segundo a companhia, até o fechamento do negócio, a Motiva seguirá operando os aeroportos, mantendo o quadro atual de funcionários e assegurando o cumprimento dos contratos vigentes e investimentos previstos.

Dos 20 aeroportos da carteira da Motiva, 17 deles estão espalhados por todas as regiões do Brasil, em estados como Minas Gerais e Paraná, e outros três estão localizados em Curaçao, Costa Rica e Equador.

No Brasil, a Motiva controla as operações nos aeroportos de São José dos Pinhais (PR), Belo Horizonte, Goiânia, Pelotas (RS), São Luís, Uruguaiana (RS), Pampulha (MG), Bacacheri (PR), Bagé (RS), Foz do Iguaçu (PR), Imperatriz (MA), Joinville (SC), Londrina (PR), Navegantes (SC), Palmas, Petrolina (PE) e Teresina (PI).

A privatização dos aeroportos brasileiros foi iniciada em 2011, durante o governo Dilma com a entrega da gestão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante (Natal) e ganhando força com os leilões de grandes terminais como Guarulhos e Brasília em 2012. O modelo retirou a operação e a responsabilidade dos principais aeroportos brasileiros da estatal Infraero entregando para a iniciativa privada.

DESNACIONALIZAÇÃO

O anúncio da venda da operação de 17 aeroportos brasileiros pela CCR para o grupo mexicano Asur acende um sinal de alerta sobre um processo crescente de desnacionalização da nossa infraestrutura.

A rede de aeroportos vendida não inclui fundamentais em capitais e cidades estratégicas das cinco regiões do Brasil. A transferência do controle operacional para um conglomerado estrangeiro significa que decisões cruciais sobre investimentos, tarifas, expansão e prioridades de voo passarão a ser tomadas a partir de um escritório no exterior, cujos interesses primários são o lucro de acionistas e a estratégia global do grupo, não necessariamente as necessidades do desenvolvimento regional brasileiro.

A Motiva assegura que, até o fechamento do negócio, os investimentos previstos serão mantidos. No entanto, o que acontece após 2026 torna-se uma incógnita.

A transferência do controle de uma parcela significativa dos aeroportos nacionais para mãos estrangeiras coloca em risco a soberania logística e o desenvolvimento de longo prazo do Brasil.