Troféu Raça Negra homenageia o legado cultural e político de Leci Brandão

Artista e deputada foi agraciada com a estatueta dourada por sua contribuição à cultura e à luta do povo negro

A 25ª edição do Troféu Raça Negra, realizada nesta terça-feira (18) em São Paulo, homenageou a trajetória da cantora e referência histórica do samba, Leci Brandão. Aos 81 anos, deputada estadual pelo PCdoB foi reverenciada por sua contribuição artística, política e social à cultura afro-brasileira.

Ao chegar ao evento, a deputada destacou o simbolismo de ter construído seu legado em São Paulo, apesar de ser nascida no Rio de Janeiro. “Eu estou muito emocionada porque eu sou carioca de Madureira, mas esse estado aqui, essa cidade, virou a chave da minha vida, me deu todas as oportunidades que uma mulher preta precisa ter.”

Leci também dedicou o momento à memória de sua mãe. “Eu não fiz nada de mais, não. Deus que me deu emoção, me deu sabedoria pra poder construir tudo isso, mas a grande sabedoria que eu tive foi de uma mulher servente de escola pública, dona Lecy de Assumpção Brandão, minha mãe, que já está nos braços de Deus.”

Ovacionada ao receber a estatueta no palco, a artista reforçou em discurso divulgado nas redes sociais a dimensão simbólica do prêmio. “Pessoas como eu, negros, negras, repletos de beleza, inteligência, competência, e, sobretudo, de alegria. Essa visão nos revigora, dá força, inspiração e esperança. O Troféu Raça Negra é um importante reconhecimento cultural”.

“Me enche de emoção, gratidão e responsabilidade. Minha trajetória sempre esteve ligada à luta, à arte e ao compromisso com o meu povo, e ver essa história celebrada na 8ª Virada da Consciência representa um gesto de profundo respeito e afeto. (…) Que esta homenagem inspire ainda mais a valorização da memória, da educação e da cultura como caminhos essenciais para fortalecer a consciência negra no nosso país. Seguimos juntos com amor, dignidade e esperança, elevando cada vez mais a voz do nosso povo”, disse.

A própria biografia de Leci sintetiza a razão dessa escolha. Carioca, ela iniciou sua carreira no começo dos anos 1970 e rompeu barreiras ao tornar-se a primeira mulher a integrar a ala de compositores da Mangueira. Com 25 álbuns gravados e presença decisiva na história do samba, expandiu sua atuação pública ao ingressar na política: foi eleita deputada estadual por São Paulo em 2010 e reeleita em 2014 e 2018, mantendo uma trajetória marcada pela defesa da cultura negra, de direitos sociais e da diversidade.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também prestou reverência à trajetória da parlamentar. “O Troféu Raça tem essa grande missão. É um grande prazer para nós, porque é um momento onde nós podemos celebrar o nosso povo, a nossa gente, a nossa cultura e celebrar Leci Brandão”, destaca.

TROFÉU RAÇA NEGRA

Criado e organizado pela ONG Afrobras em parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares, o Troféu Raça Negra reconhece figuras que contribuem para a inclusão social e o combate ao racismo, consolidando-se como um marco anual de afirmação cultural e cidadã.

Nesta edição especial de bodas de prata, o prêmio entregou 20 estatuetas — 19 delas em prata e uma, a dourada, destinada a Leci.

Com condução dos mestres de cerimônia Erika Januza e Samuel de Assis, a noite reuniu apresentações de artistas que simbolizam diferentes vertentes da produção negra no país. Subiram ao palco Seu Jorge, Mano Brown, Rappin’Hood, Keila Regina, Marcio Art, Luedji Luna, Pinha Presidente, Drik Barbosa, Adriana Moreira e Dodô, reforçando o caráter plural e festivo da premiação.

O evento também prestou tributos a outras personalidades. O vocalista do Grupo Pixote foi agraciado, assim como o coreógrafo José Carlos Arandiba, o Zebrinha. As homenagens ampliaram o alcance da celebração, valorizando diferentes expressões artísticas e trajetórias negras de referência.