A presença de facções criminosas chega a 45% dos municípios que compõem a Amazônia Legal. Das 772 cidades da região, 344 apresentam alguma presença de facções. O aumento é de 32% em relação a 2024, quando 260 cidades amazônicas registravam a presença dos grupos criminosos. Todos os nove estados da região — Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Amapá, Tocantins e Maranhão — possuem facções em atividade.
É o que revela pesquisa divulgada na quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre violência, criminalidade e atuação de facções criminosas na região. Está é a 4ª edição do estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”, que conta com parceria do Instituto Clima e Sociedade, do Instituto Itausa, do Instituto Mãe Crioula e do Laboratório Interpretativo Laiv. O trabalho foi apresentado na Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP 30), que ocorre em Belém.
De acordo com a pesquisa, são 17 facções criminosas diferentes identificadas pelos pesquisadores com presença na região, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Chama a atenção a presença até de grupos criminosos internacionais, como o Tren de Aragua, da Venezuela, e quadrilhas compostas por ex-guerrilheiros das Farc, da Colômbia.
Quanto mais perto das fronteiras fica a cidade, maior a presença de facções.
De acordo com o fórum brasileiro, o crescimento está diretamente ligado ao controle das rotas de tráfico de drogas na região, como no Alto Solimões. Crimes locais, entre eles o garimpo ilegal, também contribuíram para a expansão dos grupos criminosos. A Polícia Federal (PF) apreendeu 118 toneladas de cocaína na Amazônia entre 2019 e 2024, com um aumento de 84,8% no período.
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“A expansão das facções criminosas constitui um dos principais desafios à segurança pública, à governança territorial e à soberania nacional na Amazônia. Observa-se, nos últimos anos, um processo de interiorização e diversificação das dinâmicas criminais, com a consolidação de rotas estratégicas para o tráfico de drogas, armas, minérios e madeira, conectando a região aos mercados nacional e internacional”, afirma o relatório executivo do estudo.
Isso se reflete na presença dos grupos criminosos: quanto mais perto das fronteiras com Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela fica a cidade, maior a presença de facções: o Acre, por exemplo, que faz divisa com Peru e Bolívia, tem presença das facções criminosas em 100% dos seus 22 municípios. Já o Tocantins, por outro lado, na divisa com o Nordeste e longe das fronteiras, tem 12% das 139 cidades com registro de grupos criminosos.
Facções criminosas presentes na Amazônia
- 1. Comando Vermelho (CV)
- 2. Primeiro Comando da Capital (PCC)
- 3. Amigos do Estado (ADE)
- 4. Bonde dos 40 (B40)
- 5. Primeiro Comando do Maranhão (PCM)
- 6. Família Terror do Amapá (FTA)
- 7. União Criminosa do Amapá (UCA)
- 8. Comando Classe A (CCA)
- 9. Bonde dos 13 (B13)
- 10. Bonde dos 777 (dissidência do CV)
- 11. Tropa do Castelar
- 12. Piratas do Solimões
- 13. Bonde do Maluco (BDM)
- 14. Guardiões do Estado (GDE)
- 15. Tren de Aragua (da Venezuela)
- 16. Estado Maior Central (da Colômbia)
- 17. Ex-Farc Acácio Medina (da Colômbia)
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Segundo o estudo, o CV tem influência em 83% do total de cidades com presença de facções, chegando a 286 cidades — seja de forma hegemônica ou em disputa com outros grupos criminosos. Originário do Rio de Janeiro, o CV domina o crime organizado em 202 cidades amazônicas, enquanto disputa a hegemonia com rivais em outras 84, de acordo com os dados do fórum. Houve crescimento de 123% da presença da facção na Amazônia desde 2023, quando estava em 128 cidades.
O PCC está em 90 municípios, com controle da criminalidade em 31 e disputando o domínio em outros 59. A facção teve leve oscilação na presença registrada há dois anos, quando aparecia em 93 cidades.
“O Comando Vermelho mantém hegemonia nas rotas fluviais, especialmente no eixo do rio Solimões, em articulação com a produção peruana e os cartéis colombianos. O escoamento das drogas segue em direção a centros portuários estratégicos como Manaus, Santarém, Barcarena, Belém e Macapá, utilizando embarcações regionais, lanchas rápidas, submersíveis e ‘mulas’ humanas.
A facção também disputa territórios em dezenas de cidades para o mercado varejista da droga, além de operar em garimpos”, afirma o estudo. O PCC, por sua vez, “atua na região visando a internacionalização de seus mercados, especialmente no âmbito das redes transnacionais do narcotráfico”.
“Para tanto, tem intensificado o uso de rotas aéreas clandestinas, aproveitando pistas de pouso em garimpos ilegais e unidades de conservação. Já a rota oceânica via Suriname vem ganhando importância para o tráfico marítimo, conectando os estados do Amapá e Pará a mercados internacionais, com uso frequente de barcos de pesca e embarcações de pequeno porte”, expõe o relatório.
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Cracolândias amazônicas
A pesquisa aponta que a atuação de facções resultou em aumento do uso de “óxi”, espécie de variante mais forte do crack, e no surgimento de cracolândias em cidades da região da tríplice fronteira com Peru e Colômbia, como Tabatinga e Benjamin Constant, no Amazonas.
Segundo a pesquisa, em entrevistas com autoridades policiais e municipais, a maior parte dos furtos e pequenos roubos nas cidades é atribuída a dependentes químicos que buscam sustentar o vício, alimentando um ciclo de insegurança de baixa intensidade, mas de alta frequência, que gera medo e altera o modo de vida nas cidades, principalmente as de menor porte.
Entre as regiões mais afetadas pelo surgimento das cracolândias estão Umariaçu e Belém do Solimões. A pesquisa destaca ainda que terras indígenas do Alto Solimões – são 41 delas no total – têm sido usadas como corredores logísticos do tráfico, áreas de armazenamento e pontos de circulação de drogas.
A pesquisa ainda ressalta que, em 2024, 8.047 pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais nos 772 municípios que compõem a Amazônia Legal. A taxa de 27,3 homicídios por 100 mil habitantes é 31% superior à média nacional. O estado mais violento da região e do país foi o Amapá, com taxa de 45,1 por 100 mil habitantes em 2024.
Terras indígenas do Alto Solimões têm sido usadas como corredores logísticos do tráfico, áreas de armazenamento e pontos de circulação de drogas.
O fórum ainda ressalta que foram registrados 13.312 casos de estupro e estupro de vulnerável de meninas e mulheres na Amazônia Legal — 36,8% acima da média nacional. A região enfrenta tendência contrária ao restante do país nos casos de violência sexual: enquanto o Brasil registrou leve queda, a Amazônia teve aumento de 4,3%; 77% das vítimas são vulneráveis (menores de 14 anos ou pessoas incapazes de consentir).
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Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/tren-de-aragua-cv-pcc-disputam-influencia-faccoes-criminosas-amazonia/
