Nove em cada dez brasileiras já sofreram algum tipo de violência ao se deslocar à noite para atividades de lazer, sendo a maioria alvo de agressões de cunho sexual — desde cantadas inconvenientes até importunação e assédio. Para pelo menos 10% delas, percursos feitos para ir a bares, restaurantes, baladas ou espaços culturais resultaram em estupro, proporção que dobra entre mulheres da comunidade LGBTQIA+.
Os dados integram o novo relatório do Instituto Patrícia Galvão, elaborado em parceria com o Instituto Locomotiva e com apoio da Uber. O medo de quase todas as mulheres (98%) de vivenciar situações de violência durante a noite se confirma quando o levantamento demonstra que o risco aumenta conforme fatores como raça, classe e orientação sexual se somam à identidade de gênero.
O estudo mostra que 72% das entrevistadas já receberam olhares insistentes ou flertes indesejados — índice que chega a 78% entre jovens de 18 a 34 anos. Mulheres pretas são as mais atingidas nos episódios de importunação e assédio, agressões físicas, estupros e racismo. Em todos esses indicadores, a proporção de pretas vitimadas é maior do que a de outros grupos.
Além das violências sexuais, 34% relataram ter sido vítimas de assalto, furto ou sequestro relâmpago. Um quarto das mulheres (24%) sofreu discriminação por características pessoais que não a raça — percentual que chega a 48% entre mulheres LGBTQIA+.
Os trajetos feitos a pé (73%) ou de ônibus (53%) são os mais associados a riscos, embora outros meios de transporte também apresentem índices relevantes: carro particular (18%), carro por aplicativo (18%), metrô (16%), trem (13%), motorista particular (11%), bicicleta (11%), motocicleta por aplicativo (10%) e táxi (9%). A segurança é o principal critério de escolha do transporte (58%), seguido por conforto (12%) e praticidade (10%).
A insegurança tem afetado diretamente a vida social: 63% das brasileiras — e 66% das mulheres negras — já desistiram de sair de casa por medo de violência. Quase metade (42%) presenciou agressões contra outra mulher durante a noite, e pouco mais da metade dessas testemunhas (54%) relatou ter prestado algum tipo de ajuda.
Entre as vítimas, 58% foram acolhidas por alguém próximo, desconhecido ou funcionário do local, e 53% decidiram voltar para casa após o episódio. Apenas 17% procuraram a polícia, enquanto uma parcela ainda menor entrou em contato com a Central de Atendimento à Mulher.
Para tentar reduzir a vulnerabilidade, a maioria avisa alguém de confiança sobre o destino e o horário de retorno (91%), evita locais desertos ou mal iluminados (89%) e busca companhia para ida e volta (89%). Muitas também mudam hábitos e vestimentas: 78% evitam usar roupas ou acessórios específicos, e 58% levam peças extras para cobrir o corpo.
A pesquisa ouviu 1,2 mil mulheres de 18 a 59 anos, com dados coletados em meados de setembro deste ano.
*Fonte: Agência Brasil
Fonte: https://oimparcial.com.br/brasil/2025/11/violencia-no-lazer-noturno-atinge-9-em-cada-10-brasileiras-aponta-relatorio/
