A consolidação da região amazônica como um dos grandes corredores de transporte de drogas da América Latina por facções criminosas como Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho (CV) e Família do Norte, desde pelo menos 2017, abriu uma rota para a “maconha gourmet” produzida na Colômbia chegar ao Brasil. O produto ganha espaço entre traficantes e usuários no mercado de entorpecentes nacional, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
É o que aponta relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em parceria inédita com a Direção Nacional de Inteligência da Colômbia, antecipado no Brasil pelo jornal Folha de S. Paulo no final de outubro e confirmado pela Gazeta do Povo, junto com informações de investigações da Polícia Federal (PF) coletadas pela reportagem.
A maconha colombiana é considerada de melhor qualidade, mais forte e mais cara que a maconha paraguaia, que tradicionalmente abastece a maior parte do país. Enquanto um grama da maconha paraguaia fica em cerca de R$ 5 em São Paulo, a colombiana chega a custar até R$ 30 o grama.
O produto tem chamado a atenção dos traficantes fornecedores — é cada vez mais comum oferecerem o produto paraguaio e o colombiano paralelamente. A maior pureza e os efeitos mais potentes, por sua vez, têm atraído mais usuários.
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Valor da droga aumenta conforme adentra no Brasil
De acordo com informações do relatório da Abin, um quilo da maconha colombiana custa cerca de 150 dólares na fronteira da Colômbia com o Brasil, ou cerca de nove vezes o valor pelo qual é vendida na área de produção colombiana. Na região de Manaus, este valor sobe para em torno de 1,4 mil dólares o quilo. A droga chega ao litoral do Nordeste por cerca de 2,9 mil dólares o quilo. No Sudeste, o valor final pode chegar a cerca de 5,6 mil dólares o quilo.
Segundo investigações da Polícia Federal, a maconha colombiana entra no Brasil por rotas já estabelecidas pelo narcotráfico para trazer cocaína e pasta-base da droga. Um desses caminhos sai da Colômbia, passa pela Venezuela e entra no Brasil pela fronteira com Roraima.
Outro desce em direção ao Peru e Bolívia e entra em território brasileiro pelos estados do Acre, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A partir daí, é distribuída nacionalmente por quadrilhas associadas a diversas facções criminosas, principalmente o PCC, que domina o tráfico de drogas em São Paulo, principal mercado consumidor nacional, e o Comando Vermelho, predominante no Rio de Janeiro (segundo maior mercado de drogas do país) e em regiões do Nordeste.
“Maconha gourmet” colombiana é plantada em sofisticadas estufas nas montanhas de Cauca
Esse tipo de droga também é chamado na Colômbia de maconha de alta octanagem, por causa das grandes concentrações de THC, a principal substância ativa da planta. Há quase 10 anos começaram do lado de lá da fronteira os relatos sobre a existência de sofisticadas estufas usadas para plantar a maconha nas encostas das montanhas durante a noite, na região de Cauca.
O “triângulo dourado”, como é conhecida na Colômbia a região que compreende os municípios de Miranda, Caloto e Corinto, chega a concentrar a produção de cerca de 60% da maconha ilegal plantada por lá, de acordo com informações do governo do país vizinho. Em 2024, o governo colombiano estimava em pelo menos 13 mil o número de plantações ilegais de maconha ativas na região.
Em meados de 2019, a região chamou a atenção de toda a Colômbia quando as autoridades do país vizinho aplicaram uma estratégia muito criticada para combater as plantações ilegais: cortar a eletricidade dessas populações com o propósito de combater o cultivo ilegal, medida que não foi capaz de romper uma cadeia de produção que prospera na sombra do narcotráfico de cocaína.
No Brasil, as apreensões crescem
O interesse do mercado nacional reflete-se nas apreensões da maconha colombiana realizadas pela Polícia Federal nos últimos anos. De acordo com série histórica de 26 anos, de 1995 até 2014 praticamente não havia apreensão de maconha na fronteira e nas rotas fluviais utilizadas por facções criminosas como PCC e CV para trazer cocaína da Colômbia para o Brasil pelo Amazonas.
Em 2014, no entanto, a PF apreendeu a primeira tonelada de maconha colombiana chegada por ali. Os 1.342 quilos eram quase 10 vezes mais que os 143 quilos que tinham sido apreendidos no ano anterior. Na última década, nunca mais foi apreendida menos de uma tonelada anualmente por ali.
Em junho deste ano, a Polícia Federal e o Exército apreenderam quase 900 quilos de maconha colombiana no Amazonas durante investigações da operação Ágata 2025. A droga estava escondida em um sítio na Ilha de Sarapó, às margens do Rio Negro, no município de São Gabriel da Cachoeira.
O local servia como depósito para o escoamento de drogas da região de fronteira entre Brasil e Colômbia, com destino à região metropolitana de Manaus e de outros estados. Segundo a PF, as investigações vão continuar até a identificação e a responsabilização dos envolvidos com a carga ilícita apreendida.
De acordo com balanço da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, apenas no primeiro semestre deste ano as forças de segurança estaduais apreenderam 20,3 toneladas de “maconha gourmet” colombiana em todo o estado — a maior parte em grandes carregamentos sendo transportados pelos rios ou escondida em áreas de floresta fechada. Em 2024, 28,2 foram toneladas de maconha no estado e, em 2023, 20,7 toneladas.
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Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/maconha-gourmet-colombiana-segue-rota-cocaina-pelo-amazonas/
