A dívida bruta do Brasil voltou a crescer e atingiu 78,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em outubro, equivalente a R$ 9,9 trilhões. Os dados, divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira (28), mostram aumento de 0,6 ponto percentual em relação ao mês anterior e reforçam a preocupação de analistas sobre a trajetória da dívida pública.
O indicador, que leva em conta o endividamento do governo federal, do INSS e de estados e municípios, é um dos principais termômetros usados por investidores para avaliar a sustentabilidade fiscal do país. A comparação com o PIB permite identificar se a dívida cresce mais rápido do que a economia — e, portanto, se tende a se tornar insustentável.
Juros elevados continuam impulsionando a dívida
O avanço mensal foi influenciado diretamente pelos gastos com juros, que sozinhos adicionaram 0,9 ponto percentual à dívida. O impacto do crescimento do PIB, que retirou 0,3 ponto percentual do indicador, evitou uma alta ainda maior.
Segundo cálculos do Banco Central, cada ponto percentual de aumento na Selic — mantida atualmente em 15% ao ano —, quando preservado por 12 meses, eleva a dívida bruta em R$ 55,6 bilhões, o equivalente a 0,44 ponto do PIB. Com isso, o custo da política monetária segue sendo o principal motor de expansão do endividamento.
No acumulado do ano, a dívida bruta já subiu 2,1 pontos percentuais do PIB, também influenciada sobretudo pelas despesas com juros.
Dívida líquida sobe e chega a 65% do PIB
A dívida líquida do setor público, que desconta ativos como reservas internacionais e créditos do governo, também cresceu. Em outubro, avançou 0,2 ponto percentual e chegou a 65% do PIB, somando R$ 8,1 trilhões.
A elevação acompanha o movimento da dívida bruta e reflete, além dos juros elevados, as dificuldades do governo em produzir superávits suficientes para compensar o custo do endividamento.
Setor público tem superávit em outubro, mas acumula déficit no ano
O setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 32,4 bilhões em outubro. O resultado engloba União, estados, municípios e estatais — exceto Petrobras e bancos públicos — e ficou abaixo dos R$ 36,9 bilhões registrados no mesmo mês de 2024.
O desempenho positivo foi puxado pelo governo central, que teve superávit de R$ 36,2 bilhões. Já estados e municípios anotaram déficit de R$ 3,6 bilhões no período.
As empresas estatais tiveram déficit de R$ 149 milhões em outubro, acumulando rombo de R$ 7,45 bilhões entre janeiro e outubro. O número é fortemente influenciado pela situação financeira dos Correios, cujo déficit primário deve alcançar R$ 5,8 bilhões este ano, segundo estimativas do governo.
Nos últimos 12 meses encerrados em outubro, o setor público acumula déficit de R$ 37,7 bilhões, o equivalente a 0,3% do PIB. Embora o governo Lula tenha estabelecido meta fiscal de resultado zero para 2024, a legislação permite uma margem negativa de até R$ 31 bilhões. A conta ainda é afetada por despesas fora da regra, como parte dos precatórios.
Juros nominais chegam a R$ 987 bilhões em 12 meses
Outra pressão sobre as contas públicas é o custo total dos juros nominais, que somou R$ 113,9 bilhões apenas em outubro. No acumulado de 12 meses, o montante chegou a R$ 987,2 bilhões — 7,88% do PIB —, nível que ilustra o impacto do atual patamar da taxa básica de juros sobre a capacidade do governo de equilibrar as contas.
Analistas destacam que a combinação de juros elevados, crescimento econômico moderado e dificuldade em produzir superávits consistentes dificulta a estabilização da dívida nos próximos anos.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/divida-publica-bruta-atinge-786-do-pib-e-chega-a-r-99-trilhoes-mostra-bc/
