3 de dezembro de 2025
PF prende presidente da Alerj, suspeito de vazar informações sobre
Compartilhe:

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (3) o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), acusado de ter interferido em investigações contra o crime organizado e, sobretudo, de ter adiantado ao então deputado estadual TH Joias que ele seria alvo da Operação Zargun, deflagrada em setembro. A ação, batizada de Operação Unha e Carne, levou à determinação de prisão e afastamento de Bacellar do comando da Alerj por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Segundo a PF, as suspeitas contra o parlamentar estão diretamente ligadas ao suposto vazamento de dados sigilosos da ofensiva que prendeu Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, investigado por tráfico, corrupção, lavagem de dinheiro e envolvimento com o Comando Vermelho (CV). Em setembro, o ourives havia assumido o mandato como suplente, mas perdeu a cadeira após ser preso. As ordens judiciais contra Bacellar foram autorizadas por Moraes, que apontou “fortes indícios” de que o deputado atuou para favorecer interesses criminosos. Consta na decisão que ele teria contribuído para a “obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo Estadual”.

A prisão ocorreu dentro da Superintendência da PF no Rio, na Praça Mauá. Bacellar havia sido “convidado” para uma “reunião” pelo superintendente Fábio Galvão e recebeu voz de prisão no instante em que chegou ao prédio. Seu celular foi imediatamente apreendido. No mesmo momento, agentes recolheram R$ 90 mil no carro dirigido pelo deputado. TH Joias também foi levado para prestar esclarecimentos, mas permaneceu em silêncio.

A Alerj divulgou que ainda não recebeu notificação formal sobre a operação e que, “assim que tiver acesso a todas as informações, irá tomar as medidas cabíveis.”

As suspeitas da PF se apoiam em fatos que teriam ocorrido na véspera da Operação Zargun. Segundo apuração revelada por investigações, Bacellar teria telefonado para TH Joias no dia 2 de setembro, advertindo que mandados seriam cumpridos contra ele e orientando a eliminação de provas. O ourives, de acordo com os relatos, chegou a preparar uma mudança às pressas — inclusive com uso de caminhão-baú — antes de deixar seu condomínio na Barra da Tijuca.

A possibilidade de vazamento já havia sido mencionada no próprio dia da operação pelo procurador-geral de Justiça do Rio, Antonio José Campos Moreira, ao afirmar que “houve uma certa dificuldade” para localizar o parlamentar. Segundo o procurador, TH saiu do condomínio por volta das 21h40, deixando a residência “completamente desarrumada, o que pode sugerir uma fuga e o desfazimento de vestígios de fatos criminosos”. Ele só foi encontrado horas depois, na casa de um amigo no mesmo bairro.

Além da prisão, Moraes ordenou oito mandados de busca e apreensão, um deles no gabinete de Bacellar na Alerj. Houve também ordem de intimação para medidas cautelares adicionais. A operação se desenvolve no contexto das determinações do STF no julgamento da ADPF das Favelas, que exigiu da PF investigações estruturadas sobre grupos criminosos violentos e suas conexões com agentes do Estado.

TH JOIAS

TH Joias havia sido preso em 3 de setembro em duas operações simultâneas — uma autorizada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) e outra pelo Tribunal de Justiça do RJ. As ações miravam esquemas que envolviam tráfico internacional de armas e drogas, corrupção e lavagem de dinheiro. A PF afirma ter identificado “um esquema de corrupção envolvendo a liderança da facção no Complexo do Alemão e agentes políticos e públicos”, suspeitos de fornecer proteção e informações sigilosas ao Comando Vermelho.

De acordo com o Ministério Público Federal e o MPRJ, TH utilizou o mandato para favorecer a facção, chegando a nomear comparsas para cargos na própria Alerj. Nas investigações da Operação Zargun, a PF saiu às ruas para cumprir 18 prisões preventivas e 22 buscas, além de bloquear R$ 40 milhões em bens. A corporação sustenta que a facção “infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade e acesso a informações sigilosas, além de importar armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais.”

Já a Operação Bandeirante, conduzida pela Procuradoria-Geral de Justiça, resultou em denúncias por associação ao tráfico e comércio ilegal de armas de uso restrito. As investigações apontam vínculos estáveis com o CV em territórios como Maré, Alemão e Parada de Lucas. O grupo é acusado de intermediar compras de drogas e armas, operar equipamentos antidrones para dificultar ações policiais e movimentar grandes volumes de dinheiro vivo.

O advogado do presidente da Alerj, Bruno Borragini, classificou a operação como excessiva. Segundo ele, a prisão é “totalmente desproporcional” e o parlamentar “não praticou nenhuma conduta ativa” para impedir as apurações. O defensor também negou que Bacellar tenha repassado informações sigilosas a TH Joias e afirmou que a iniciativa do contato não partiu do deputado: “Ao que tudo indica, o contato teria partido do próprio Thiego (TH), e não do Rodrigo. Ele não falou nada, o Rodrigo nem respondeu”, declarou.

STF

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizou a prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar, abriu uma nova frente de apuração ao determinar que fossem enviados ao tribunal dados completos sobre o funcionamento interno do governo fluminense no dia da prisão de Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias. A Corte exigiu acesso a informações do Sistema Eletrônico de Informações (SEI) e do Diário Oficial do Estado, com logs de criação, alteração, assinaturas e disponibilização de documentos administrativos.

O pedido foca na manobra que, segundo a Polícia Federal, ocorreu em 3 de setembro, poucas horas após a prisão de TH. Logs solicitados pelo STF devem detalhar a sequência exata dos atos que levaram à exoneração de Rafael Picciani e, na mesma velocidade, à nomeação de Rodrigo Dantas Scorzelli para o comando da Secretaria de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro.

Para a PF, a movimentação — descrita no despacho como uma “célere manobra regimental” realizada em articulação entre o governo do estado e a Alerj — teve um objetivo político imediato: garantir o retorno de Rafael Picciani ao posto e, assim, retirar TH Joias da linha sucessória da Casa, já que ele era suplente do cargo. Os investigadores classificam a iniciativa como uma tentativa de construir uma “estratégia imediata de controle de danos”, destinada a afastar a Alerj do desgaste provocado pela prisão de um deputado acusado de negociar armas e manter vínculos com o Comando Vermelho.

A decisão do STF também ressalta que TH mantinha relação de proximidade com Bacellar e com o governador Cláudio Castro (PL), marcando presença frequente em eventos institucionais do Executivo e do Legislativo. O ministro Alexandre de Moraes incluiu no despacho um trecho que aprofunda a suspeita de motivação política por trás da manobra:
“Tal articulação serve como forte indício de que o vazamento de informações pode ter tido como objetivo primário a proteção de agentes políticos aliados à organização criminosa”, diz o texto.

A análise dos logs do SEI e do Diário Oficial deve esclarecer quem acessou, alterou e assinou os documentos no intervalo crítico que sucedeu a prisão de TH Joias — e se houve coordenação entre atores do Executivo e da Alerj para reorganizar cargos estratégicos com a intenção de blindar figuras politicamente expostas.

Fonte: https://horadopovo.com.br/pf-prende-presidente-da-alerj-suspeito-de-vazar-informacoes-sobre-prisao-do-traficante-th-joias/