CPMI do INSS convoca Zema e dono do Master para apurar irregularidades no crédito consignado

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS aprovou a convocação do empresário Daniel Bueno Vorcaro, dono do Banco Master, e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, para prestar depoimento sobre possíveis irregularidades na oferta de crédito consignado a aposentados e pensionistas. 

A presença de Zema foi motivo de debate entre governistas e oposição. Parlamentares que defendiam a convocação afirmaram que empresas ligadas ao governador, como a Zema Financeira, teriam sido beneficiadas pela Medida Provisória 1.106, que ampliou a possibilidade de concessão de empréstimos consignados a beneficiários de programas sociais. Embora a oposição sustente que houve favorecimento no mercado, aliados de Zema argumentam que o governador se desligou oficialmente das empresas da família em 2018, antes de assumir o cargo, e que a convocação atende a interesses políticos, especialmente às vésperas das eleições municipais e estaduais. A defesa afirma ainda que a atividade da instituição financeira seguiu regras do setor bancário e que a investigação deve focar práticas ilegais e não disputas partidárias.

A decisão foi tomada em reunião realizada nesta quinta-feira (04), como parte da investigação sobre denúncias de fraudes, cobranças indevidas e favorecimento de instituições financeiras ligadas ao setor. Além da convocação, os parlamentares aprovaram a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático de Vorcaro, medida que busca aprofundar a análise das operações do banco no mercado de consignados, especialmente nas modalidades de cartão consignado e reserva de margem, que concentram a maior parte das reclamações de beneficiários.

Segundo integrantes da CPMI, o Banco Master aparece com destaque entre as instituições com mais registros de queixas envolvendo empréstimos com desconto direto do benefício do INSS e operações vinculadas a programas sociais, o que levou os investigadores a concluir que o depoimento de Vorcaro é essencial para esclarecer a extensão das práticas adotadas pelo banco.

A CPMI também pretende ouvir representantes de outros bancos que atuam no segmento de consignados, entre eles Daycoval, Pan, Agibank e BMG, além de solicitar relatórios do Coaf sobre movimentações financeiras consideradas suspeitas envolvendo empresas que operam com esse tipo de crédito. As investigações parlamentares ocorrem em paralelo à Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, que apura um esquema de fraudes em empréstimos consignados e descontos irregulares em benefícios do INSS, com suspeita de desvio bilionário e participação de intermediários que atuavam para aprovar contratos em nome de idosos e pessoas vulneráveis.

Com as novas convocações, os parlamentares dizem buscar esclarecer responsabilidades individuais, entender a participação das instituições privadas no crescimento das reclamações e identificar possíveis elos entre empresas financeiras e agentes públicos. Caso a CPMI confirme irregularidades, o relatório final poderá recomendar indiciamentos, sugerir mudanças na legislação e encaminhar provas ao Ministério Público e à Polícia Federal para abertura de ações judiciais. O depoimento de Vorcaro e Zema está previsto para as próximas semanas e deve se tornar um dos momentos centrais da investigação, com potencial de ampliar a pressão sobre o setor bancário e provocar impacto político relevante.