7 de dezembro de 2025
mansão de ditador no litoral atrai visitantes
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A casa da família Stroessner continua a atrair olhares no litoral do Paraná, onde o ex-presidente do Paraguai Alfredo Stroessner viveu por dois meses, logo após ser deposto do cargo em 1989. A mansão, localizada no balneário Brejatuba, em Guaratuba (PR), é mantida pela família com poucas mudanças em relação ao período em que abrigou o general, o que ainda atrai os turistas do país vizinho.

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A breve passagem pelo litoral paranaense antecedeu sua mudança definitiva para Brasília, onde passou 17 anos em exílio silencioso. Funcionários lembram que mal viam Alfredo Stroessner naquele período em Guaratuba, onde a discrição marcou os primeiros dias do ditador, que cruzou a fronteira em 5 de fevereiro de 1989, após 35 anos de governo no Paraguai.

Há 41 anos como caseiro da mansão, Basílio Guzman veio do Paraguai com a esposa, para assumir o trabalho, a convite do ex-presidente. Aos 76 anos, ele lembra com carinho de Stroessner. “Não é como as pessoas falam por aí. Há muita conversa fiada. Era um homem simples, reservado, dedicado à família”, defende.

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Regime de Alfredo Stroessner foi marcado por repressão, vítimas e exílio no Brasil

Militar da ala mais conservadora do Partido Colorado, Alfredo Stroessner chegou ao poder após participar do golpe que derrubou Federico Chávez, em 1954. Logo depois, venceu a eleição convocada para legitimar o novo governo — disputa em que concorreu sozinho.

Naquele período, a influência política era tamanha que a segunda maior cidade do Paraguai recebeu seu nome: Puerto Stroessner, hoje Ciudad del Este. A filiação ao Partido Colorado, aliás, tornou-se condição quase obrigatória para acessar empregos públicos e até serviços essenciais, como atendimento médico.

Stroessner permaneceu no comando por 35 anos, até ser deposto em 1989 por um golpe articulado por Andrés Rodríguez, general e aliado de longa data. Em seguida, buscou e obteve exílio no Brasil, que não atendeu aos pedidos de extradição feitos pelo Paraguai, onde o ditador respondia a acusações de homicídio e outras violações de direitos humanos.

Segundo opositores do general, o regime Stroessner foi responsável por milhares de torturas, estupros e assassinatos ocorridos entre 1954 e 1989, com cerca de 900 desaparecidos. O general morreu em 2006, após complicações cirúrgicas. A família decidiu enterrá-lo em Brasília, já que o Paraguai não concederia honrarias ao foragido.

Alfredo Stroessner consolidou um dos regimes mais longos e repressivos da América do Sul, marcado por perseguições e milhares de vítimas.Alfredo Stroessner permaneceu no exílio em Brasília por 17 anos. (Foto: Antonio Scorza/AFP)

Paraguaios visitam mansão e praça em homenagem a Stroessner

Além da mansão histórica, a praça inaugurada em 1980 e batizada com o nome de Alfredo Stroessner, ainda recebe turistas em Guaratuba. O elo é reforçado pela praia dos Paraguaios, local que ganhou o apelido pela presença constante de visitantes do país vizinho.

O caseiro Basílio Guzman conta que o ex-presidente tinha um grande apreço pelo Brasil, já que o avô dele foi imigrante no Rio Grande do Sul. “O avô de Stroessner veio da Alemanha. Ali ele construiu a vida, mas com o tempo, o pai de Alfredo Stroessner mudou-se para o Paraguai e ali fez sua família. Por isso, as raízes da família passam pelo Brasil”, recorda.

Inaugurada em 1980, a praça dedicada ao ditador segue como ponto simbólico da presença paraguaia em Guaratuba — mesmo após o fim da ditadura.Inaugurada em 1980, a praça dedicada ao ditador segue como ponto turístico. (Foto: Albari Rosa/Arquivo Gazeta do Povo)

Familiares de Stroessner frequentam Guaratuba nos finais de ano

A mansão em Guaratuba preserva o ambiente encontrado por Stroessner no final da década de 1980. Guzman relata que a família Stroessner continua a visitar a residência no litoral com a mesma frequência de antes. “Eles sempre visitam, principalmente no fim do ano. Poucas melhorias foram necessárias no imóvel. Está quase tudo do mesmo jeito. Se o senhor Stroessner voltasse hoje, encontraria tudo como sempre foi”, afirma.

A pedagoga Rocio Bevervanso, ex-secretária da Educação e também do Turismo em Guaratuba, pesquisa a história da cidade há muitos anos. Ela relata que a relação do turista paraguaio com o município tem registros desde 1960.

“Muitos paraguaios investem em Guaratuba, quer em locações, propriedades, rede hoteleira, restaurantes, passeios de barco pela baia de Guaratuba, sempre favorecendo o comércio local. A praça dos Paraguaios, inaugurada na gestão do então prefeito Antônio Franco Ferreira da Costa Filho (1977-1981), foi uma homenagem, uma vez que os paraguaios elegeram Guaratuba para curtirem suas férias de verão”, comenta.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/alfredo-stroessner-mansao-litoral-mantem-viva-a-memoria-de-ditador-paraguaio/