8 de dezembro de 2025
“Em algum momento, no futuro, vamos perceber que a energia
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Mumford & Sons / Fotografia via Facebook da banda

Há bandas que sobrevivem ao sucesso e há bandas que sobrevivem ao silêncio. Os Mumford & Sons tiveram de lidar com os dois: depois de se tornarem um nome global do folk‑rock, optaram por, em vez de repetir a fórmula, desaparecer durante quase sete anos para regressarem com Rushmere, um disco de renascimento criativo de um quarteto reduzido a trio e que nasceu de um encontro informal entre três amigos com instrumentos por perto “no caso de nos apetecer tocar”.

Com Dave Cobb, o produtor que quis gravar o disco Rushmere como quem apenas abre a cortina e mostra uma banda a tocar ao vivo, os Mumford & Sons enredaram num crescendo criativo que leva agora ao capítulo seguinte, Prizefighter, que será lançado a 13 de Fevereiro de 2026. Com co-produção de Aaron Dessner no estúdio deste no estado de Nova Iorque, os Mumford & Sons assinalam estes meses como um dos períodos mais criativos e colaborativos da sua história. Outrora mais fechados na criação musical, a banda decidiu abrir a porta a colaboradores externos como Gracie Abrams, Chris Stapleton ou o próprio Dessner, e também a vozes de escrita como Justin Vernon, Brandi Carlile ou Finneas. Curiosamente, explicam, quanto mais deixavam outras pessoas entrar no processo, mais sentiam que as novas canções soavam a algo profundamente “Mumford & Sons”.

Se Rushmere pareceu ser um regresso às raízes, Prizefighter parece resumir o estado de espírito: não apenas a ideia de alguém que continua de pé depois de muitos golpes, mas também a convicção de que a banda está a compor, gravar e tocar melhor do que nunca, equilibrando juventude e experiência. À pergunta sobre o que diriam a alguém que ficou pelo primeiro álbum e só agora regressa, respondem apontando para este novo material como a versão mais adulta e confiante daquilo que sempre quiseram fazer: canções que têm prazer em cantar e que, esperam, possam acompanhar quem as ouve nos seus próprios combates.

Minutos antes do concerto esgotado no Campo Pequeno, sentámo-nos com Ben Lovett (BL) e Ted Dwane (TD) para dois dedos de conversa sobre como os Mumford & Sons parecem confortáveis com a ideia de continuarem “no ringue”: a levar e a dar golpes, a abrir espaço a novas vozes, mas a luta de sempre: compor música que seja tão relevante para a banda como para quem a ouve e acompanha.

Passaram sete anos sem lançar álbuns e depois lançaram Rushmere, que muitos consideram isso como um novo regresso às origens. Rushmere foi intencional e reflexo de como a banda era quando escreveram este álbum, ou apenas canções que surgiram durante esses sete anos?

BL: Na verdade, nunca partimos com uma receita específica ou um destino final. Quando nos reunimos para começar a trabalhar, não sabíamos realmente o que estávamos a fazer. Apenas nos reunimos para tomar um café e garantimos que houvesse instrumentos disponíveis. Pouco depois, estávamos a fazer mais música do que a tomar café. Quando nos alinhamos há um espírito de colaboração entre nós três, há uma espécie de intersecção de interesses e musicalidade que vem à tona e nem sempre sabemos a direcção que isso vai tomar.

TD: Nós só orientamos e a música surge, e desde que seja agradável e estejamos todos entusiasmados com as mesmas coisas, as músicas saem. E acho que, ao escolhermos trabalhar com o Dave Cobb como produtor do álbum e na sua concepção de criar um álbum em que parecia que tínhamos aberto a cortina e havia apenas uma banda ali, sem muitos artifícios e muita produção, tivemos uma abordagem mais humana e directa. Fizemos muitas gravações ao vivo e foi algo que nos atraiu bastante, tendo sido um excelente próximo capítulo da nossa banda.

Mumford & Sons / Fotografia via Facebook da banda

O próximo capítulo é Prizefighter, que foi criado num cenário também muito bonito, que é Long Pond, de Aaron Dessner. Este parece ser também o período mais prolífico da vossa carreira.

TD: Acho que, de certa forma, sim. É certamente o mais prolífico desde o início. E o que é interessante é que quando se faz o primeiro álbum, é tudo o que se fez até aquele momento. Nós fazemos música colectiva e individualmente há muito mais tempo, desde a nossa adolescência e, eventualmente, tivemos a oportunidade de gravar o nosso primeiro álbum. Mas o que aconteceu entre Rushmere e Prizefighter foi, no dia-a-dia, um período muito prolífico, porque sinto que estávamos a partir com a intenção de trazer novamente músicas ao mundo. Parecia algo necessário e que simplesmente fluía.

E ter Aaron Dessner na produção, Gracie Abrams e Chris Stapleton, também contribuiu para isso?

BL: Sim, ajuda a ter uma gama mais ampla de ferramentas e instrumentos. Na composição, trabalhar com pessoas como Justin Vernon [que ajudou a escrever a canção que dá nome ao álbum] e Brandi Carlile e Finneas e todas essas vozes diferentes que foram encontrando espaço na composição também foi uma grande parte disso. Historicamente, os nossos álbuns eram feitos apenas pelos membros da banda na composição e éramos os únicos a gravá-los. Prizefighter é a primeira vez em que – e acho que tem muito que ver com o que aconteceu em Rushmere – nos sentimos confiantes e seguros o suficiente no que fazemos para termos essas ideias contestadas e aprimoradas para serem até o cerne das canções. E tem sido interessante que, ao fazermos isso, pareça ainda mais Mumford & Sons.

TD: Apesar de toda essa influência externa, Prizefighter parece um álbum essencialmente Mumford & Sons. Então, acho que aprendemos algo com isso, que não devemos ter medo de permitir a colaboração no processo de um álbum e, com sorte, isso manter-nos-á com a mente aberta para álbuns futuros.

Prizefighter significa alguém que resiste. Sentiram, na composição destes álbuns, que a banda estava revigorada e pronta para mais histórias?

BL: Sim, sentimos. E no auge da vida. Porque não é apenas por resistirmos, mas por estarmos ainda a lutar. Sentimos que ainda estamos a lutar. E acho que sentimos que, em muitos aspectos, a composição, a gravação, os espectáculos parece, ser o melhor de nós. E talvez o que estávamos a fazer há 10 anos, há 15 anos, tenha sido uma aprendizagem para chegarmos aí.

TD: Como se estivéssemos estado a aprender a fazer o que fazemos agora, e agora fazemo-lo com confiança e habilidade. Conhecemo-nos melhor do que nunca, harmonizamo-nos melhor do que nunca, conseguimos construir um espectáculo e conseguimos fazê-lo. É óbvio que, em algum momento no futuro, iremos perceber que a energia, a idade e todas essas coisas não vão ser iguais, mas, neste momento, acho que nos sentimos jovens e experientes, o que para mim é um Prizefighter.

O que diriam a alguém que ouviu o vosso primeiro álbum, depois viveu noutro mundo e depois voltou? Como daria uma actualização sobre a banda?

TD: Que deveria ouvir o nosso novo trabalho. Acho que todas as bandas são iguais e estamos sempre mais entusiasmados com o nosso trabalho mais recente. Quando se faz o primeiro álbum e, talvez, em todos os primeiros álbuns, há uma dose muito útil de ingenuidade e de arrogância juvenil associada. Acho que isso ajuda. Estávamos num ambiente muito colaborativo quando fizemos estes discos também. Depois de termos navegado juntos pelas nossas vidas nos últimos 20 anos, há uma segurança que o Ben falava, uma confiança que não tínhamos desde o início. Tínhamos isso na ingenuidade e agora temos isso numa versão um pouco mais adulta que conquistámos. Acho que isso faz com que essa música pareça para nós a melhor versão do que tentamos fazer, que é compor músicas que adoramos cantar e com as quais, pelo menos assim o esperamos, as outras pessoas se identifiquem. Foi para isso que trabalhamos. Tudo o resto é uma espécie de distração. Quando nos reunimos como fizemos para começar Rushmere, dá para sentir quando estamos todos a fazer aquela coisa específica que os Mumford & Sons fazem quando se juntam, o que é uma sensação óptima.

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Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/entrevista-mumford-sons-em-algum-momento-no-futuro-vamos-perceber-que-a-energia-e-a-idade-nao-vao-ser-iguais-mas-neste-momento-sentimo-nos-jovens-e-experientes/