Imagine que o seu corpo é uma máquina complexa e a medula óssea é a “fábrica” responsável por produzir o combustível que o mantém vivo: o sangue. Quando essa fábrica apresenta falhas graves, a única solução pode ser substituir o maquinário com defeito por um novo e saudável. É aqui que entra a medicina, a ciência e a solidariedade.
O transplante de medula óssea (TMO) é um procedimento que salva milhares de vidas anualmente, mas ainda é cercado de mitos. Diferente do que muitos pensam, não é uma cirurgia complexa de “troca de órgãos” para quem recebe, mas sim um processo delicado de renascimento celular.
O que é a medula óssea?
Para entender o transplante, primeiro precisamos desmistificar o órgão. A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos (popularmente conhecido como “tutano”). Ela não deve ser confundida com a medula espinhal (que fica na coluna vertebral e transmite impulsos nervosos).
A função da medula óssea é vital: é nela que são produzidas as células-tronco hematopoéticas, responsáveis por gerar as hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos, nossa defesa) e plaquetas (coagulação).
Como é feito o transplante de medula óssea?
O transplante visa substituir uma medula doente ou deficitária por células saudáveis. Para o paciente que recebe, o procedimento é surpreendentemente simples aos olhos: parece uma transfusão de sangue comum. A nova medula entra pela veia e, guiada pela biologia, encontra seu caminho até o interior dos ossos, onde se instala e começa a produzir novas células sanguíneas.
No entanto, a coleta (para o doador ou para o próprio paciente, no caso de autotransplante) pode ser feita de duas formas principais, conforme explica o Instituto Nacional de Câncer (INCA):
- Punção direta (Cirúrgica): A medula é retirada do interior dos ossos da bacia (crista ilíaca) através de punções.
- A agulha: São utilizadas agulhas especiais, mais grossas que as de injeção comum, projetadas para aspirar a parte esponjosa do osso.
- Dor e Anestesia: O procedimento é feito em centro cirúrgico, sob anestesia (peridural ou geral), durando cerca de 90 minutos. O doador não sente dor durante a coleta. Após o efeito da anestesia, pode haver um desconforto no local, similar a uma queda ou batida.
- Internação: Exige internamento de 24 horas.
- Aférese (Coleta por veia periférica): O doador toma um medicamento por alguns dias para aumentar a produção de células-tronco, que transbordam para o sangue.
- Uma máquina filtra o sangue do doador, retira as células-tronco e devolve o restante do sangue para o corpo. Não requer internação ou anestesia, mas pode causar desconforto temporário no corpo devido à medicação.
Armazenamento e indicações
Quando a medula não é infundida imediatamente no paciente, ela pode ser congelada (criopreservação) em tanques de nitrogênio líquido.
Mas por que alguém precisa disso? O transplante é indicado para doenças que afetam as células do sangue, como leucemias (câncer no sangue), linfomas, anemias graves e algumas doenças autoimunes. Segundo especialistas, o transplante é a principal esperança de cura quando a quimioterapia convencional não é suficiente para “zerar” a doença. Saiba mais sobre as etapas do tratamento no site do INCA.

Como ser doador de medula óssea?
Ser doador de medula é diferente de ser doador de sangue. Na doação de sangue, você vai ao hemocentro e doa na hora. Na medula óssea, você se cadastra em um banco de dados e fica “em espera”.
Leia mais:
- Oncologia: 5 tratamentos inovadores contra câncer que você precisa conhecer
- Células-tronco: o que são, tipos e para que servem?
- Como o teste de DNA funciona e comprova a paternidade de uma pessoa?
Para se tornar um doador voluntário no Brasil, é necessário realizar um cadastro no REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) em um hemocentro. É coletada uma pequena amostra de sangue (5ml) para análise genética (tipagem HLA).
Atenção: Você não doa medula com regularidade. Seus dados ficam no sistema. Se, e somente se, aparecer um paciente compatível com você em qualquer lugar do Brasil (ou do mundo), você será contatado para realizar a doação. A chance de encontrar um doador compatível fora da família é difícil, podendo chegar a 1 em cada 100 mil, por isso quanto mais cadastros, melhor.
Requisitos básicos
Para se cadastrar, é preciso:
- Ter entre 18 e 35 anos (atualmente, para novos cadastros no Brasil).
- Estar em bom estado geral de saúde.
- Não ter doenças infecciosas ou incapacitantes, câncer ou doenças do sistema imunológico.
Benefícios e condições tratadas
O maior benefício é imaterial: a possibilidade real de salvar uma vida. O corpo do doador repõe a medula doada em poucas semanas. Este ato de solidariedade é crucial para tratar cerca de 80 doenças diferentes. O Instituto de Cardiologia e Transplantes do DF detalha como a compatibilidade é essencial para o sucesso nesses casos.
Pode ser feita de duas formas: por punção com agulha nos ossos da bacia (em centro cirúrgico) ou por aférese (filtragem do sangue através de uma máquina, similar à doação de sangue, mas mais demorada).
Para quem recebe, não dói (é como receber soro na veia). Para quem doa via cirurgia, há anestesia, então não há dor no ato; apenas um desconforto local nos dias seguintes.
O principal benefício é a substituição de células doentes por saudáveis, oferecendo a cura ou remissão prolongada para doenças graves como leucemia, linfomas e anemias severas que não respondem a outros tratamentos.
O post Como é feito o transplante de medula óssea? apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/12/17/medicina-e-saude/como-e-feito-o-transplante-de-medula-ossea/
