O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) iniciou a coleta de assinaturas em apoio ao padre Júlio Lancellotti por meio de um abaixo-assinado intitulado “Padre Júlio Lancellotti Fica! (padrejuliofica.com.br”). A manifestação de solidariedade acontece após a decisão da Arquidiocese de São Paulo de encerrar a transmissão da missa celebrada pelo religioso nas redes sociais e o seu afastamento das plataformas digitais.
“Jesus também foi questionado por caminhar com os pobres e enfrentar a indiferença. A história nos lembra que o amor cristão, quando é vivido de verdade, incomoda”, destaca o texto do manifesto.
A decisão da diocese foi anunciada pelo próprio Lancelotti durante a celebração da tradicional missa, do último domingo (14), celebrada na Paróquia São Judas Tadeu, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo. Na ocasião, o padre informou que deixaria de transmitir as celebrações pelas redes sociais e que também suspenderia sua presença nessas redes sociais. “Hoje é a última vez que essa missa será transmitida, até que haja ordem contrária. A partir de domingo que vem haverá só missa presencial”, afirmou o religioso.
A Arquidiocese de São Paulo, liderada pelo arcebispo cardeal Dom Odilo Scherer, disse em nota que a decisão diz “respeito ao âmbito interno da Igreja”. “Essas questões foram tratadas em uma conversa entre o arcebispo e o padre” e que teria como propósito “recolhimento e proteção” ao pároco. “Padre Júlio já se pronunciou a respeito por meio de uma nova divulgada por ele nas mídias sociais”, continua o comunicado.
A medida adotada pela diocese provocou surpresa e levantou dúvidas, além de especulações sobre o real motivo da determinação. Uma delas era a de que o padre Júlio seria transferido de paróquia, informação desmentida por meio de um comunicado publicado no perfil do pároco no Instagram, na terça-feira (15). “As redes sociais não estão sendo movimentadas por um período de recolhimento temporário. Não procede a informação sobre transferência da Paróquia São Miguel Arcanjo”, completa o texto.
Desde o anúncio, um movimento de solidariedade e apoio ao religioso, que preside a Pastoral do Povo de Rua, tem ganhado força na sociedade. As manifestações vão desde entidades que atuam com a população em situação de vulnerabilidade social, sindicais, religiosas, políticas e políticas. Todas elas no sentido de reconhecimento do imprescindível trabalho que padre Julio desempenha em defesa dos mais necessitados.
Em meio a esse movimento, também há críticas à decisão da Igreja sugerindo que padre Julio estaria sendo alvo de censura e de “silenciamento”. Ao mesmo tempo, também surgem posicionamentos de compreensão e de respeito à decisão da autoridade religiosa.
“A transmissão de uma missa, a palavra de Deus, eu não enxergo como algo bem-visto banir ou censurar. Eu acho que a casa de Deus é um local de acolhimento, não de censura e de privações”, disse ao HP, o sheik Rodrigo Jalloul, que atua ao lado do padre Julio nas ações em apoio à população de rua e é amigo de longa data do religioso.
“Eu respeito muito a pessoas de do Dom Odilo e, falando dos dois lados, eu não acredito que para Dom Odilo seja fácil tomar uma decisão dessas, se reunir com o Padre Julio e propor que ele não utilize mais as redes sociais e não transmita a missa”, continua o líder muçulmano.
Além do sheik Rodrigo Jallou, outra liderança a prestar solidariedade ao padre Julio, o pastor Leandro Rodrigues, da igreja inclusiva Habitar, em São Paulo, disse à Hora do Povo, esperar que “a Arquidiocese repense sua decisão em limitar a comunicação do Padre Julio Lancelotti”. Segundo ele, “por meio dela (da palavra do padre), a fé de muitos é fortalecida”. E justificou: “Em Tiago 2:17 está escrito que a fé sem obras é morta e o Padre Júlio age como Jesus ao ensinar por meio do exemplo. Isso certamente aborrece quem vive em trevas no mundo espiritual. Que Deus mantenha a força do Padre Júlio, pois grande é o galardão de Deus em sua vida”, concluiu o líder evangélico.
A mobilização em torno do padre Júlio ganhou ainda mais força com um manifesto assinado por cerca de 40 organizações que atuam junto à população vulnerável. O documento foi enviado nesta terça-feira ao cardeal Dom Odilo Scherer, solicitando a revisão das medidas adotadas.
EXEMPLO DE SOLIDARIEDADE
Outra personalidade que procurou compreender a decisão do líder da Igreja Católica em São Paulo foi o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT), conhecido por sua luta em defesa dos direitos humanos e apoiador da causa de Julio Lancelotti. “Conversei com ele hoje e ele está tranquilo. Ele entende que o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, optou por preservá-lo ao pedir a suspensão”, explicou o parlamentar em suas redes sociais nesta terça (16). “O trabalho do Padre Júlio continua, bem como suas missas dominicais”, continuou.
“Sou testemunha do importante e formidável trabalho diário que o Padre Júlio desempenha junto com a população em situação de rua por meio da Pastoral do Povo da Rua”, completou Suplicy.
“Padre Julio é um grande exemplo de solidariedade e amor ao próximo; por seus valores, porém, é constantemente atacado e difamado pela extrema direita. Espero que o padre volte logo às redes e não seja afastado das ruas”, defendeu a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ).
O pastor e também deputado federal pelo Rio de Janeiro, Henrique Vieira (PSOL), declarou apoio ao pároco. Toda minha solidariedade ao padre @padrejulio.lancellotti diante da decisão da Arquidiocese de São Paulo de restringir suas transmissões de missas e sua presença nas redes. Sua atuação pastoral sempre foi pública, transparente e profundamente comprometida com os mais pobres”, disse Vieira. “Que o diálogo e o cuidado prevaleçam!”, defendeu.
Entre as manifestações públicas, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região destacou a trajetória do sacerdote. Em nota, a entidade afirmou que Padre Júlio Lancellotti, “reconhecido nacionalmente por seu trabalho junto à população em situação de rua”, tem sido alvo recorrente de ataques de parlamentares e grupos da extrema direita que, segundo o sindicato, buscam deslegitimar sua atuação social, humana e pastoral.
Para a entidade, a decisão ocorre em meio a um contexto de “perseguição política e tentativa de silenciamento de uma das principais vozes em defesa dos excluídos no país”. O presidente da entidade, Leandro Soares, também ressaltou que “o trabalho do padre Júlio nunca foi apenas assistencial. Ele é social, humano e também político, porque enfrenta a desigualdade e denuncia injustiças. Silenciar essa voz é algo grave”, apontou.
Fonte: https://horadopovo.com.br/religiosos-e-liderancas-politicas-prestam-solidariedade-ao-padre-julio-lancellotti/
