18 de dezembro de 2025
Parece que a Ciência reinventou a roda para a exploração
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Uma equipe da KAIST (Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia) e do UEL (Laboratório de Exploração Não Tripulada) desenvolveu uma roda robótica sem ar, inspirada em origami, pensada para enfrentar alguns dos terrenos mais extremos da Lua. 

A peça consegue mudar de tamanho e foi projetada para explorar fendas profundas e tubos de lava, áreas consideradas estratégicas para futuras missões lunares.

A ideia é atacar um problema antigo da exploração espacial: como levar rovers pequenos, mais leves e baratos, a lugares onde hoje só veículos grandes conseguiriam chegar (e mesmo assim sob alto risco). 

Ao permitir que robôs compactos superem obstáculos, a nova roda pode abrir caminho para missões mais seguras e flexíveis.

Roda muda de tamanho para chegar onde rovers atuais não chegam

Tubos de lava e poços naturais da Lua chamam atenção porque funcionam como escudos naturais contra radiação cósmica e variações extremas de temperatura. São ambientes promissores para futuras bases humanas. O problema é chegar até eles. As entradas costumam ser íngremes, instáveis e cheias de obstáculos que travam rovers convencionais logo no início da descida.

Pesquisadores apostaram numa roda sem ar e sem juntas, capaz de se transformar usando a flexibilidade de sua estrutura (Imagem: Pedro Spadoni via ChatGPT)

Uma alternativa estudada por engenheiros é o uso de enxames de rovers pequenos, em vez de um único robô grande. Se um falhar, os outros seguem operando. O entrave está no tamanho: rovers compactos usam rodas pequenas, que simplesmente não conseguem vencer declives acentuados ou degraus naturais presentes nesses terrenos lunares.

Criar uma roda que possa variar de diâmetro parece a solução óbvia, mas isso sempre esbarrou em limitações práticas. Na Lua, o ambiente é hostil: o vácuo, a poeira extremamente abrasiva e o risco de soldagem a frio (quando partes metálicas grudam entre si) tornam articulações, dobradiças e juntas mecânicas um ponto fraco crítico.

Foi para contornar esse cenário que a equipe da KAIST e do UEL propôs uma abordagem diferente. Em vez de mecanismos tradicionais, eles apostaram numa roda sem ar e sem juntas, capaz de se transformar usando a flexibilidade de sua estrutura. Assim, o rover pode viajar compacto e só “crescer” quando o terreno exigir.

Estrutura flexível, sem dobradiças, pensada para sobreviver ao ambiente lunar

O segredo da roda está na sua arquitetura. Inspirada em princípios do origami e na chamada ponte de Leonardo da Vinci, a estrutura usa tiras metálicas elásticas organizadas num padrão helicoidal. Essas tiras se sustentam mutuamente, sem necessidade de parafusos, dobradiças ou adesivos (justamente os elementos mais vulneráveis no ambiente lunar).

Nova roda pra rovers andarem na Lua em trilha de terra
Nova roda pensada para rovers usa tiras metálicas elásticas organizadas num padrão helicoidal, de forma que se sustentam mutuamente (Imagem: Arquivo pessoal via New Atlas)

Na prática, a roda consegue se expandir de cerca de 230 milímetros para quase 500 milímetros de diâmetro. Essa mudança acontece por deformação contínua da estrutura, não por partes que giram ou se articulam. O resultado é uma roda que exige pouca energia para ser compactada, mas resiste bem a cargas verticais e impactos durante o deslocamento.

Os pesquisadores testaram o sistema em solo lunar simulado, acoplando as rodas a um rover experimental. Elas demonstraram boa tração em superfícies soltas, venceram obstáculos com inclinação de até 34 graus e absorveram impactos severos sem perda de integridade estrutural. Em ensaios mais extremos, a roda resistiu a quedas equivalentes a uma descida de 100 metros na gravidade lunar.

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Segundo a equipe, a robustez também vem do cuidado com os materiais. Foram usados aços elásticos tratados termicamente, semelhantes aos encontrados em trenas metálicas, além de validações com modelos térmicos pensados para suportar variações de até 300 °C entre o dia e a noite na Lua. 

Para os pesquisadores, a tecnologia já se mostra prática e confiável para futuras missões, ainda que desafios como energia e comunicação continuem no radar.

A pesquisa foi publicada nesta semana, na edição de dezembro da revista científica Science Robotics.

(Essa matéria usou informações de New Atlas e KAIST.)

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/12/18/ciencia-e-espaco/parece-que-a-ciencia-reinventou-a-roda-para-a-exploracao-espacial/