Enquanto o patrimônio líquido da Enel no Brasil avançou 51% entre 2020 e 2025, a empresa reduziu de forma expressiva seu quadro de trabalhadores em São Paulo no mesmo período. Levantamento do jornal Brasil de Fato, feito a partir dos relatórios de administração da concessionária, mostra que o total de empregados caiu 25,13%, passando de cerca de 26.962 para 20.185 pessoas, uma redução de aproximadamente 7 mil postos de trabalho.
A maior parte dos cortes ocorreu entre os terceirizados. O contingente desse grupo recuou de 21.114 para 15.521 trabalhadores. Entre os funcionários próprios, o número caiu de 5.848 para 4.664. Os dados de 2025 consideram informações até o terceiro trimestre, enquanto os números de 2020 correspondem ao primeiro ano completo de atuação da empresa no Brasil.
No período analisado, a concessionária — que atende 15,6 milhões de clientes nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará — atribuiu a diminuição do número de colaboradores a um processo de reestruturação societária.
Para Ikaro Chaves, engenheiro eletricista e ex-funcionário do sistema Eletrobras, a lógica que orienta esse movimento está ligada à busca por maior rentabilidade. Segundo ele, como a receita das distribuidoras é regulada pela Aneel e o consumo de energia tende a ser relativamente estável, a principal alternativa para ampliar o lucro passa pela redução de custos operacionais.
Dentro da lógica de “fazer mais ou menos para conseguir baixar a tarifa para o consumidor”, o custo de mão de obra acaba sendo tratado como o principal item “gerenciável”. “Eles vão repassar todo o custo com aquisição de equipamentos, vão repassar esse custo para o consumidor, agora, porque não tem como. Se o equipamento quebrou, tem que ser substituído. Se o equipamento chegou no final da vida útil, ele tem que ser substituído para manter o processo. Agora, qual é o custo que eles vão, então, gerenciar? O custo de mão de obra”, afirma.
Segundo Chaves, essa estratégia tem impacto direto no sistema elétrico, especialmente diante de eventos climáticos extremos. A redução das equipes de manutenção preventiva fragiliza a infraestrutura, enquanto a diminuição dos times responsáveis pela manutenção corretiva compromete a velocidade das respostas em situações de emergência.
O efeito dessa combinação ficou evidente durante o apagão provocado por um ciclone extratropical na região metropolitana de São Paulo. Entre os dias 9 e 11 de dezembro, cerca de 2,2 milhões de imóveis chegaram a ficar sem energia elétrica no pico da ocorrência. Até a terça-feira (16), ao menos 30 mil clientes ainda permaneciam sem luz.
Chaves destaca que, “em condições normais, o sistema elétrico funciona praticamente sem precisar de pessoas”, já que é “muito automatizado”. No entanto, ele ressalta que “é nos momentos de instabilidade que a ausência de pessoal de manutenção se torna evidente, pois o sistema não passou pela manutenção preventiva e não há equipe para fazer a manutenção corretiva”, diz.
Fonte: https://horadopovo.com.br/lucro-que-apaga-enel-reduz-7-mil-empregos-em-sp-enquanto-patrimonio-cresce-51/
