A expansão acelerada dos data centers nos Estados Unidos tem provocado uma reação cada vez mais organizada de comunidades locais, que passaram a questionar os impactos ambientais, energéticos e econômicos desses empreendimentos. Em 2025, disputas contra novos projetos ganharam força e, de forma incomum, reuniram apoio tanto de eleitores democratas quanto republicanos, especialmente em nível municipal e estadual. As informações são do The Verge.
O avanço da oposição já produziu resultados concretos. De acordo com levantamento da consultoria Data Center Watch, desenvolvedores cancelaram ou adiaram 20 projetos após enfrentarem resistência popular apenas no segundo trimestre do ano. Esses empreendimentos representam cerca de US$ 98 bilhões em investimentos propostos, sendo US$ 24,2 bilhões bloqueados e US$ 73,7 bilhões postergados entre março e junho. O número supera o registrado entre 2023 e o primeiro trimestre de 2025, quando 16 projetos haviam sido barrados ou adiados.
Crescimento dos data centers pressiona energia e água
O aumento da oposição acompanha a própria expansão do setor. Segundo a empresa imobiliária CBRE, o estoque de data centers nos quatro maiores mercados da América do Norte — Virgínia do Norte, Chicago, Atlanta e Phoenix — cresceu 43% em um ano. Paralelamente, surgiram planos para grandes instalações em outras regiões do país, muitas vezes próximas a comunidades residenciais.
O principal ponto de atrito está no consumo de recursos. A demanda por eletricidade dos data centers deve crescer 22% até o fim do ano, impulsionada pelo uso de chips mais potentes para aplicações de inteligência artificial. Um único rack de servidores de alta densidade pode consumir energia equivalente à de 80 a 100 residências. Além disso, a necessidade de resfriamento e de geração de eletricidade faz com que o setor também utilize grandes volumes de água, com estimativas apontando consumo anual comparável ao uso doméstico de milhões de lares até 2028.
Essas preocupações levaram, por exemplo, ao abandono de um projeto do Google em Franklin Township, no estado de Indiana, após moradores questionarem o impacto do data center sobre o fornecimento de água e eletricidade. Outros empreendimentos, mesmo em operação, continuam enfrentando resistência e possíveis ações judiciais relacionadas à poluição do ar e ao aumento de custos para consumidores locais.
Política, subsídios e reação popular
Os conflitos envolvendo data centers também entraram no debate político. O aumento das tarifas de energia foi tema sensível em eleições estaduais recentes, especialmente em regiões com alta concentração dessas instalações. Em estados como Virgínia, conhecida como “data center alley”, moradores e especialistas passaram a apontar o setor como um dos fatores de pressão sobre os preços da eletricidade.
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Como resposta, alguns estados começaram a rever incentivos fiscais e benefícios concedidos aos desenvolvedores. Em Dakota do Sul, a rejeição de um projeto de lei que previa isenções tributárias levou à suspensão de um campus de IA estimado em US$ 16 bilhões. Outros estados introduziram propostas para limitar subsídios ou proteger consumidores de aumentos indiretos nos custos de energia.
Entre as principais reivindicações de comunidades e organizações ambientais estão:
- maior transparência sobre consumo de energia e água;
- limites a incentivos fiscais considerados excessivos;
- garantias de que custos não sejam repassados aos moradores;
- regras mais rígidas para controle de poluição.
No âmbito nacional, mais de 230 grupos ambientais e de saúde pediram uma moratória na construção de novos data centers, argumentando que as políticas atuais não são suficientes para evitar impactos negativos sobre comunidades vizinhas. Com eleições legislativas se aproximando, analistas avaliam que a disputa em torno dos data centers deve ganhar ainda mais espaço no debate regulatório e político dos Estados Unidos.
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