A pré-candidatura de Carlos Bolsonaro (PL) ao Senado por Santa Catarina se consolidou como um dos temas mais sensíveis do cenário político catarinense às vésperas das eleições de 2026. O movimento, que envolve a troca de domicílio eleitoral e a renúncia do mandato de vereador pelo Rio de Janeiro — oficializada no dia 11 de dezembro — produziu reações negativas entre eleitores que tradicionalmente votam na direita.
Dados da pesquisa Neokemp Pesquisas, realizada nos dias 1º e 2 de dezembro com 1.008 entrevistados em 95 cidades, mostram que a resistência à candidatura existe, mas não inviabiliza o projeto eleitoral do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao mesmo tempo em que a maioria dos entrevistados rejeita a ideia de um candidato “de fora” de Santa Catarina, Carlos aparece tecnicamente empatado com a deputada federal Caroline de Toni (PL) nas simulações de voto para o Senado.
O cenário indica que a força eleitoral do sobrenome Bolsonaro em Santa Catarina colide com a expectativa de valorização das lideranças locais, que construíram suas trajetórias políticas no estado. A maneira como esse paradoxo será administrado, especialmente no interior do PL, tende a ser decisiva para definir se a eventual candidatura de Carlos Bolsonaro se consolidará na direita catarinense.
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O levantamento da Neokemp Pesquisas aponta que a maior resistência à pré-candidatura de Carlos Bolsonaro está relacionada à sua origem política. Quando questionados se são a favor ou contra a candidatura do ex-vereador do Rio de Janeiro ao Senado por Santa Catarina, a maioria dos entrevistados (60,5%) defende que ele deveria concorrer pelo seu estado de origem.
Por outro lado, 30% do eleitorado são favoráveis à pré-candidatura e considera positiva a decisão de Carlos disputar uma vaga por Santa Catarina. Outros 5,1% afirmaram que a candidatura é indiferente e não veem problemas, enquanto 4,5% disseram não ter opinião formada.
O dado revela que a rejeição não se ancora em divergência ideológica até pelo fato de Santa Catarina ser um dos estados onde a direita possui maior densidade eleitoral. Parte significativa do eleitorado demonstra resistência à ideia de deslocamento do filho “02” de Bolsonaro sem identidade política com o estado e sem uma trajetória construída localmente.
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A expectativa de valorização de lideranças catarinenses aparece de forma ainda mais clara quando a pesquisa aborda diretamente o papel do ex-presidente Jair Bolsonaro. Questionados se ele seria mais coerente ao apoiar candidatos do próprio estado ao Senado, 60,9% dos entrevistados responderam que sim. Outros 24,1% disseram não acreditar que esse apoio precise ser restrito a nomes catarinenses, enquanto 15% afirmaram não ter opinião formada sobre o tema.
O resultado indica que, embora Jair Bolsonaro tenha obtido ampla votação no estado nas duas últimas eleições, parte do eleitorado não transfere automaticamente esse apoio para familiares em disputas fora de seus redutos eleitorais.
A pesquisa da Neokemp também avaliou se a candidatura de Carlos ao Senado por Santa Catarina seria percebida como uma imposição do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os resultados mostram um eleitorado dividido sobre o tema. Para 40,1% dos entrevistados, a iniciativa representaria um desrespeito ao estado, enquanto 40,2% afirmaram não ver problema na candidatura. Outros 19,7% disseram não ter opinião formada.
- Metodologia: 1.008 entrevistados pela Neokemp Pesquisas, em 95 cidades de Santa Catarina, entre os dias 1 e 2 de dezembro de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 3,1 pontos percentuais.
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A entrada de Carlos Bolsonaro no cenário catarinense aprofundou debates internos no Partido Liberal. Em outubro, a deputada federal Carol de Toni afirmou que pode deixar o PL caso seja preterida na disputa ao Senado em 2026.
Segundo a parlamentar, o governador Jorginho Mello (PL) teria lhe prometido a vaga, compromisso que estaria sendo revisto diante da defesa do nome do senador Esperidião Amin (PP-SC) para integrar a aliança e garantir tempo de TV à coligação. “Até março, quando abrir a janela partidária, espero resolver isso dentro do meu partido. Se eu não conseguir, vou buscar outro partido para concorrer”, afirmou a deputada, em entrevista à rádio Princesa, de Xanxerê (SC).
Nos bastidores, a Gazeta do Povo apurou que Carol de Toni já recebeu convite do partido Novo. Na família Bolsonaro, ela conta com o apoio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que afirmou que manterá sua posição “independentemente do partido” escolhido pela parlamentar.
O debate interno se aprofundou quando a deputada estadual Ana Campagnolo (PL) criticou publicamente a estratégia de trazer um candidato de fora e cobrou um posicionamento oficial do partido. Carlos Bolsonaro reagiu chamando a parlamentar de “mentirosa”, enquanto o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) saiu em defesa do irmão. Segundo ele, as declarações de Campagnolo foram “totalmente inaceitáveis”.
Em entrevista ao programa Sem Rodeios, da Gazeta do Povo, Campagnolo afirmou que considera a troca de domicílio eleitoral de Carlos Bolsonaro uma “estratégia ruim” para o PL em Santa Catarina.
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Para o analista político e pesquisador em Educação e Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Daniel Pinheiro, a resistência à pré-candidatura de Carlos Bolsonaro decorre, principalmente, da percepção de oportunismo e do contexto específico da direita catarinense. “Embora o estado tenha registrado, em outros momentos, candidaturas de políticos de fora, o movimento causou estranhamento por ocorrer em um cenário em que existiam nomes locais competitivos disputando espaço”, avalia.
De acordo com ele, a reação negativa dentro da própria direita ajudou a amplificar a rejeição no eleitorado. “Quando lideranças que tradicionalmente recebem votos no estado se sentem prejudicadas, essa insatisfação tende a se refletir na opinião pública. Isso pode fortalecer a ideia de que a candidatura não surgiu de forma natural”, considera.
Pinheiro avalia que a defesa pública feita pelo governador Jorginho Mello foi uma tentativa clara de conter danos e blindar politicamente Carlos Bolsonaro. Por ser uma das principais lideranças do PL e da direita em Santa Catarina, o governador tenta unificar a base.
Do ponto de vista estratégico, o analista político afirma que Carlos deve apostar fortemente no sobrenome e na ligação com o pai, Jair Bolsonaro, que mantém forte capital eleitoral no estado. Além disso, considera que a posição de Mello terá força, aliada a uma boa estratégia de marketing, para apagar a imagem de uma candidatura oportunista e conquistar o eleitorado catarinense.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/santa-catarina/carlos-bolsonaro-pode-reverter-desaprovacao-senado-santa-catarina/
