A tradição de montar presépios segue viva em São Luís e continua sendo um dos principais símbolos do período natalino na capital maranhense. Presente em residências, igrejas, praças e prédios públicos, o presépio representa o nascimento de Jesus Cristo e reúne fé, memória afetiva e identidade cultural.
Em muitos bairros da cidade, a montagem do presépio é um costume passado de geração em geração. Famílias se reúnem para organizar as imagens, o cenário e os detalhes que retratam a cena bíblica, transformando o momento em um ritual de convivência e devoção. Em algumas casas, as peças são antigas e carregam histórias que atravessam décadas.
As igrejas também mantêm a tradição com presépios abertos à visitação, que atraem fiéis e turistas durante o mês de dezembro. Além do aspecto religioso, os espaços se tornam pontos de encontro e contemplação, reforçando o significado espiritual do Natal.
Em São Luís, a tradição ganha características próprias ao incorporar elementos regionais. Não é raro encontrar presépios que utilizam materiais artesanais ou fazem referência à cultura local, aproximando a narrativa cristã da realidade maranhense e fortalecendo o vínculo entre fé e cultura popular.
Ao resistir ao tempo e às transformações sociais, a montagem de presépios reafirma valores como simplicidade, solidariedade e esperança. Em meio às luzes e às celebrações, a tradição permanece como um convite à reflexão sobre o verdadeiro sentido do Natal para a população ludovicense.
O antropólogo, pesquisador, artesão e produtor cultural Sebastião Cardoso carrega essa tradição que nasceu na família. Desde criança era acostumado a essas práticas religiosas, de ladainha, de montagem de presépio, coisa que ele cultua até hoje. Para se ter ideia, o presépio dele toma toda a sala de sua casa. Além disso, ele é chamado para montar o símbolo em residências, igrejas, instituições, praças. Algo que ele faz com todo amor.
“Na minha casa sempre teve presépio. Só que era mais simples, né? Era uma casa pequena. Aí depois, quando eu comecei a fazer minhas artes na igreja, na igreja de São Pantaleão, Igreja de Santo Antônio, Igreja de São João, Igreja do Rosário, Igreja de Santana e também no Museu Histórico, Centro de Cultura Popular, uma série de lugares onde eu já fiz presépio grande, como a Concha Acústica de Ribamar, no espigão da Ponta da Areia. Já fiz também outro grande, que foi para a Prefeitura de São Luís, que foi um cenário grande, um presépio vivo.”
Além de montar presépio, decorar igreja, ele também canta repertório específico para ladainha, e para isso aprendeu a cantar em latim.
“Eu fui seminarista por uns anos, me aperfeiçoei um pouco mais no latim e eu canto as ladainhas nas casas, nas igrejas, nos museus, nessa cerimônia que chamamos de Queimação de Palhinha… Eu tenho um grupo de músicos que me acompanha, ou eu faço sozinho. A queimação de Palhinha é muito importante, para fechar o ciclo. Os presépios a gente começa a montar desde final de novembro até véspera de Natal. Eu normalmente gosto de montar até dia 13 de dezembro, que é dia de Santa Luzia”, disse.
Presépio montado novamente no Museu Histórico
Este ano a comunidade, visitantes e turistas, vão poder contemplar novamente o presépio do Museu Histórico e Artístico do Maranhão que foi remontado, após uma década, por Sebastião Cardoso.
Para a gestora do Museu, Amélia Cunha, esse presépio representa muito bem o que seria o Natal numa casa histórica do século XIX, de uma família aristocrática, por ser um presépio muito grande, com manjedoura, com imagens em tamanhos grandes e que mostram o espírito ostentativo e cheio de riqueza, que a casa em si representa dentro dessa imagem de Natal abundante, de família rica.
“Além disso, de representar de forma museológica o Natal dessa casa, o Natal de uma casa de família rica, ele também tem uma importância histórica, pelo fato de Josué Montello, que foi uma pessoa muito importante para o museu, pois criou praticamente junto com outros intelectuais o Museu Histórico (que iria se chamar Museu Regional do Maranhão), ter sido o primeiro padrinho do presépio. Então, tem essa marca de importância sentimental. Montar esse presépio agora, perto dos 53 anos do Museu, é uma forma muito expressiva de dizer que o Museu continua respeitando e honrando essas tradições, honrando a memória das pessoas que passaram por ele. Esse presépio foi batizado por outras pessoas importantes, outros secretários de cultura que também trabalharam em prol da Casa, ele não deixa de ser um marco de memória também, de figuras importantes para a gente, enquanto casa de memória histórica para o Estado”, pontua Amélia.
O presépio do Museu Histórico já está sendo atração. Situado na Rua do Sol, chama atenção de quem passa.
“As pessoas param na porta para tirar fotos. Às vezes as pessoas nem podem entrar, pois estão ocupadas, mas pedem para tirar foto. E aí a gente percebe a importância dessa casa, para a comunidade, para o entorno, para quem passa. A Rua do Sol é uma rua de muito movimento, tem muito comércio, e as pessoas têm essa ligação interessante com a figura do Museu, faz parte do cotidiano das pessoas”, avalia Amélia Cunha.
A origem
Neste anocelebra-se 802 anos do primeiro presépio criado por São Francisco de Assis em 1223, em Greccio, Itália, mantendo a tradição viva e inspirando milhões de pessoas a celebrar o Natal com simplicidade e fé.
Na ocasião, Francisco reuniu moradores para encenar o nascimento de Jesus, usando animais vivos (boi e burro) e uma manjedoura, transformando o local em um altar para a missa, com o propósito de explicar a história do Natal aos aldeões e reviver a humildade do nascimento de Cristo, criando um gesto de evangelização.
Essa tradição se espalhou rapidamente, consolidando-se como um dos símbolos mais amados do Natal em todo o mundo, celebrando a simplicidade e a mensagem central da encarnação de Jesus.
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Fonte: https://oimparcial.com.br/brasil/2025/12/montagem-de-presepios-mantem-tradicao-natalina-em-sao-luis/
