30 de dezembro de 2025
Molécula natural restaura memória em modelos de Alzheimer
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Uma molécula que ocorre naturalmente no organismo humano mostrou potencial para restaurar funções de memória em modelos de Alzheimer. A descoberta vem de um estudo conduzido por pesquisadores da Yong Loo Lin School of Medicine, da National University of Singapore (NUS Medicine), que investiga formas de modificar os próprios mecanismos do envelhecimento para reduzir o impacto de doenças associadas à idade.

A pesquisa identificou que o calcium alpha-ketoglutarate (CaAKG), um metabólito considerado seguro e já estudado no contexto de envelhecimento saudável, foi capaz de reverter alterações cerebrais ligadas à perda de memória em modelos da doença. O trabalho foi publicado na revista científica Aging Cell.

Pesquisadores identificaram molécula já estudada no contexto do envelhecimento como capaz de reverter alterações ligadas à perda de memória (Imagem: Rido / Shutterstock.com)

Foco no envelhecimento e não apenas na doença

O estudo foi liderado pelo professor Brian K. Kennedy, do Departamento de Bioquímica e presidente do programa Healthy Longevity Translational Research Program (TRP), da NUS Medicine. Segundo os pesquisadores, a proposta foi avaliar se o CaAKG poderia melhorar a plasticidade sináptica, restaurar sinais ligados à memória, proteger neurônios de mudanças degenerativas precoces e contribuir para um envelhecimento cognitivo mais saudável.

Essa abordagem aponta para estratégias chamadas de geroprotetoras, que buscam atuar diretamente na biologia do envelhecimento, em vez de focar apenas nos sintomas de doenças específicas, como o Alzheimer. A ideia é reduzir o risco ou retardar o avanço de condições neurodegenerativas ao longo do tempo.

Doença Alzheimer
Em vez de focar apenas nos sintomas de doenças específicas como o Alzheimer, a pesquisa buscou atuar diretamente na biologia do envelhecimento (Imagem: PeopleImages/Shutterstock.com)

Resultados em modelos de Alzheimer

De acordo com os dados apresentados, o CaAKG ajudou as células cerebrais a se comunicarem melhor em modelos da doença de Alzheimer. A substância foi capaz de restaurar a memória associativa, uma das primeiras habilidades cognitivas a ser comprometida nos estágios iniciais da condição.

Os pesquisadores destacam que os níveis de AKG diminuem naturalmente com o avanço da idade. Por isso, a reposição desse metabólito pode representar uma forma de apoiar o envelhecimento saudável do cérebro e reduzir o risco de doenças neurodegenerativas.

Como a molécula atua no cérebro

Para entender os mecanismos envolvidos, a equipe analisou a potenciação de longo prazo (LTP), processo essencial para o fortalecimento das conexões entre neurônios e para a formação de memórias duradouras. Em quadros de Alzheimer, esse mecanismo costuma estar gravemente comprometido. O estudo mostrou que o CaAKG conseguiu normalizar esse processo.

Duas mãos seguram um recorte em forma de cabeça humana, com uma árvore colorida dentro, cujas folhas parecem se desprender. O fundo verde claro destaca a ideia de memória se esvaindo, simbolizando o impacto do Alzheimer.
Molécula conseguiu normalizar mecanismo que costumar ser gravemente comprometido em casos de Alzheimer (Imagem: Berit Kessler / Shutterstock.com)

Além disso, a molécula estimulou a autofagia, sistema de “limpeza” do cérebro responsável por remover proteínas danificadas e manter a saúde dos neurônios. Esse efeito é considerado relevante para a proteção contra alterações celulares precoces.

Nova via identificada pelos pesquisadores

O trabalho também descreve uma via de ação até então não identificada. Segundo o estudo, o CaAKG aumentou a flexibilidade neuronal ao ativar canais de cálcio do tipo L e receptores AMPA permeáveis ao cálcio, sem envolver receptores NMDA, que costumam ser afetados pelo acúmulo de amiloide no Alzheimer.

Outro ponto destacado foi a restauração do chamado synaptic tagging and capture, mecanismo fundamental para conectar eventos e formar memórias associativas. Isso indica que o CaAKG pode apoiar não apenas funções básicas de memória, mas também formas mais complexas de aprendizado, que tendem a se deteriorar precocemente na doença.

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Declarações dos autores do estudo

Em comunicado, o professor Brian K. Kennedy afirmou que os resultados indicam o potencial de compostos associados à longevidade no enfrentamento do Alzheimer. Segundo ele, por se tratar de uma substância já presente no corpo humano, o uso do AKG pode envolver menores riscos e maior acessibilidade no futuro.

A primeira autora do estudo, a pesquisadora Sheeja Navakkode, do Healthy Longevity TRP da NUS Medicine, explicou que o objetivo foi avaliar se um composto inicialmente explorado para ampliar a vida saudável poderia também ter aplicação no contexto do Alzheimer. A pesquisa, segundo ela, abre caminho para novas investigações sobre o uso de moléculas ligadas ao envelhecimento na preservação da função cognitiva.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/12/29/medicina-e-saude/molecula-natural-restaura-memoria-em-modelos-de-alzheimer/