30 de dezembro de 2025
Maior lago artificial do país tem 4 mil km quadrados
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“Delmiro deu a ideia, Apolônio aproveitou, Getúlio fez o decreto e Dutra realizou. O presidente Café, a usina inaugurou”. Na canção “Paulo Afonso”, lançada em 1955, Luiz Gonzaga exalta a obra de engenharia que deu início ao sistema de geração de energia no Nordeste. O “Rei do Baião” não imaginava que, após algumas décadas, o sertão ganharia um lago artificial, que iria aprimorar o funcionamento das usinas de Paulo Afonso e revolucionar a produção hidrelétrica na região castigada pela seca.

Em junho de 1973, as obras da represa de Sobradinho tiveram início no sertão da Bahia, a partir das águas do rio São Francisco, que transformou uma área de 4,2 mil quilômetros quadrados no maior lago artificial do país. São oito barragens com capacidade instalada de 10.460 Megawatts (MW) no sistema sob a gestão da Eletrobras Chesf: Sobradinho, Luiz Gonzaga, Apolônio Sales, Paulo Afonso I, II, III e IV e Xingó.

Além de ter uma das maiores capacidades do sistema com 1.050 MW, a represa de Sobradinho – conhecida como “o mar do sertão” – é responsável por regularizar toda a produção das usinas instaladas ao longo do rio São Francisco. “Sobradinho acumula água durante o período de cheias e libera gradualmente, permitindo regularizar a vazão do rio. Essa função é fundamental para o sistema energético do Nordeste, pois viabiliza que todas as usinas do São Francisco operem próximas da capacidade máxima e de forma contínua”, explica o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales.

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Além da energia, lago artificial beneficia agricultura e navegabilidade

Com 320 quilômetros de extensão, a área do reservatório é equivalente a um quinto do território do estado de Sergipe e, para a construção da barragem, cerca de 70 mil moradores dos municípios do sertão baiano foram removidos para o alagamento, que possibilitou o surgimento do lago artificial em Sobradinho. Em 1979, a primeira turbina das seis instaladas entrou em funcionamento com o represamento do rio São Francisco, que nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais.

“Sobradinho não tem nascente própria, a barragem apenas acumula a água que vem do curso natural do rio”, observa o presidente do Acende Brasil. Segundo a Eletrobras Chesf, a barragem foi projetada para gerar energia e regular o abastecimento de água, com impacto no fortalecimento da agricultura, na preservação do equilíbrio ambiental regional e na navegabilidade do São Francisco.

“Essa grande área de evaporação beneficia o clima local, atenuando a aridez e contribuindo para o equilíbrio da região, que é naturalmente muito seca. […] Atualmente, graças à existência de Sobradinho, os reservatórios do Nordeste estão com cerca de 52% da capacidade total de armazenamento atendida, o que beneficia a estabilidade hídrica e energética”, ressalta Sales.

Sobradinho produz cerca de 1.050 MW, com seis turbinas de 50 MW cada. Os benefícios são de três naturezas:

  • energéticos, por viabilizar não apenas a geração local, como o aumento da potência de todas as usinas subsequentes
  • de irrigação, já que o controle hídrico permite retirar água para uso agrícola
  • ambiental, ao contribuir para o equilíbrio hídrico regional.

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São Francisco, Paulo Afonso e Sobradinho: a história hídrica da região mais seca do país

Filho do engenheiro e político Apolônio Sales, o presidente do Acende Brasil, Cláudio Sales, lembra que o aproveitamento das águas do rio São Francisco começou a ser discutido durante o governo do presidente Getúlio Vargas, na década de 1940. “Quem idealizou o projeto foi meu pai, que era amigo do Getúlio Vargas na época. O decreto de criação da Chesf foi assinado em 1945 por Getúlio e por ele”, relata.

O presidente do Acende Brasil recorda que a história da geração de energia elétrica no Nordeste precede o projeto do pai durante o governo Vargas, com o pioneirismo do industrial Delmiro Gouveia. “Ele montou, na cachoeira de Paulo Afonso, uma pequena casa de máquinas usada para abastecer de energia elétrica os teares instalados próximos à margem do rio. Isso foi algo pioneiro, ainda no início do século passado. Essa história faz parte do folclore e da memória local. Quando se visita Paulo Afonso, é possível ver preservada essa antiga casa de máquinas”, comenta o engenheiro, que seguiu a profissão do pai.

Com a construção do lago artificial em Sobradinho, de acordo com Sales, o sistema de energia elétrica nordestino inovou no planejamento estratégico, com o armazenamento da água necessária para a manutenção da produção hidrelétrica. “O rio São Francisco é uma sucessão de usinas. As primeiras eram chamadas de usinas a fio d’água. Elas possuem reservatórios suficientes apenas para acumular a água que entra na usina, sem capacidade de armazenamento por longos períodos. A água que entra é praticamente igual à que sai. A partir disso, surgiu a ideia de Sobradinho, uma grande barragem de acumulação”, explica Sales.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/maior-lago-artificial-brasil-papel-estrategico-geracao-energia/