Quando se fala em “Sr. Eclipse”, a maioria dos astrônomos amadores e profissionais remete imediatamente a Fred Espenak, um astrofísico norte-americano aposentado que trabalhou no Centro Espacial Goddard, da NASA, e que é muito conhecido por seu trabalho de previsões desse tipo de evento.
O primeiro eclipse solar total que ele viu foi em março de 1970, o que despertou seu interesse por esse fenômeno aos 16 anos. Oito anos depois, Espenak começou a fornecer boletins de eclipses para a NASA, e hoje é autor de muitas obras altamente conceituadas sobre previsões de eclipses.
Muitos caçadores de eclipses que desejam informações sobre episódios passados e futuros, consultam o site EclipseWise.com, plataforma desenvolvida por Espenak dedicada a previsões abrangentes e informações sobre eclipses do Sol e da Lua.
Com certeza, ele é merecedor do título de “Sr. Eclipse”. No entanto, no final do século 19, havia um homem que também poderia ter recebido a mesma designação. Seu nome era Theodor Ritter von Oppolzer.
Quem foi o “Sr. Eclipse” do século 19
Nascido em Praga, na antiga Tchecoslováquia (hoje, República Tcheca), em 26 de outubro de 1841, ele era filho de um cirurgião renomado, Johann Oppolzer, e de Maria, por sua vez filha de um químico.
Em 1850, a família mudou-se para Viena, capital da Áustria, e foi lá que o jovem Theodor frequentou a escola, e logo se percebeu que ele tinha um talento excepcional para números e matemática. Enquanto seu pai o incentivou a seguir seus passos para estudar medicina, o principal interesse de Theodor era nas ciências físicas, mais especificamente astronomia.
Ainda assim, ele concluiu um Ph.D. em medicina, aos 23 anos. No entanto, o nome de “Oppolzer” estava se tornando muito mais conhecido na astronomia graças à publicação de artigos técnicos sobre as órbitas de vários asteroides e cometas. Ele tinha apenas 21 anos quando publicou seu primeiro artigo sobre a órbita do cometa Thatcher, um corpo brilhante que apareceu em 1861 e que sabemos hoje ser responsável pelos meteoroides que produzem a chuva anual de meteoros Líridas de abril.
Em 1866, começou a lecionar astronomia teórica e geodésica na Universidade de Viena. Ele não só provou que era um calculista altamente proficiente – que supostamente memorizou os valores de 14 mil logaritmos – como também fez observações astronômicas diretamente de seu próprio observatório privado.
Equipado com uma cúpula giratória, um telescópio refrator de 7 polegadas, um buscador de cometas de campo largo e um círculo meridiano, Oppolzer era capaz não apenas de observar asteroides e cometas, como também de derivar órbitas para eles.
Em 1868, ele participou de uma expedição a Áden, no Mar Arábico, para observar um eclipse solar. Esse evento celeste o fascinou e logo ele começou a estudar eclipses que ocorreram durante a história antiga. Mas acabou sendo uma tarefa frustrante, porque, naquela época, quase não havia guias de referência que pudessem ser consultados sobre eclipses de séculos anteriores.
Catálogo com mais de 13 mil episódios
Oppolzer estava determinado a criar um catálogo de eclipses como nenhum outro. Ele não queria apenas listar datas; queria fornecer cálculos precisos para qualquer ponto da Terra, tanto para eclipses passados quanto futuros. Isso parecia impossível no século 19, mas o pesquisador estava decidido.
Ele se baseou nos trabalhos de Peter Andreas Hansen, um astrônomo alemão-dinamarquês famoso por aprimorar teorias e tabelas das órbitas dos corpos do Sistema Solar. Hansen publicou em 1838 um livro sobre o movimento da Lua, que elevou a precisão da mecânica celeste. Essas tabelas foram usadas até 1923 e serviram como base para Oppolzer.
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Para os cálculos, Oppolzer começou com cinco voluntários, divididos em dois grupos para verificar a precisão das soluções. No entanto, o trabalho árduo fez com que todos desistissem. Em 1882, ele contratou cinco homens, pagando um florim por eclipse solar, o que equivalia ao custo de um almoço. Este incentivo fez a diferença, e em 22 de outubro de 1885, o manuscrito “Canon der Finsternisse” foi concluído.
O catálogo de Oppolzer incluía 8 mil eclipses solares e 5,2 mil eclipses lunares, abrangendo mais de 33 séculos, de 1208 a.C. a 2161 d.C. Sem computadores eletrônicos, tudo foi feito com lápis e papel, totalizando mais de 10 milhões de figuras em 242 volumes de fólio grosso. Wilhelm H.C. Carton, em 1987, descreveu o “Canon” como um dos maiores feitos computacionais da era pré-eletrônica.
Infelizmente, o trabalho exaustivo contribuiu para a morte precoce de Oppolzer, aos 45 anos, logo após revisar a folha de prova final do seu trabalho. O “Canon” foi publicado alguns meses depois, em 1887, e permaneceu a referência principal por quase 80 anos.
Em 1962, a Dover Publications reimprimiu a obra, traduzida para o inglês por Owen Gingerich, com um prefácio de Gingerich e do especialista em eclipses Donald H. Menzel. Hoje, cópias do material são raras e valiosas.
Apesar de algumas críticas quanto às coordenadas limitadas para a trilha da totalidade dos eclipses solares, os cálculos de Oppolzer eram altamente precisos. Seu trabalho, realizado com uma equipe de apenas 10 pessoas, é impressionante para qualquer época.
Enquanto Fred Espenak hoje é conhecido como “Sr. Eclipse”, Oppolzer, o “Sr. Eclipse” do século 19, quase caiu no esquecimento.
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