21 de setembro de 2024
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Pesquisa realizada pela Genial/Quaest entre abril e maio com 183 dos 513 deputados federais da Câmara revelou que a grande maioria dos parlamentares no Brasil são cristãos, e suas crenças religiosas estão cada vez mais presentes em suas atividades parlamentares, inclusive entre os membros da esquerda, que antes se consideravam menos suscetíveis a essa influência.

Dos deputados entrevistados, 60% são católicos e 30% são evangélicos. O restante está dividido entre outras religiões (3%), sem religião (6%) e aqueles que preferiram não responder (1%). Do total de entrevistados, 67% afirmaram que a fé influencia seu trabalho em Brasília, enquanto 23% negaram essa influência e 9% disseram que isso depende do tema em questão.

Comparando com pesquisa anterior realizada pelo mesmo instituto em agosto de 2023, houve aumento significativo na proporção de parlamentares que admitiram a influência de sua religiosidade em seu trabalho legislativo. O aumento foi observado tanto entre os evangélicos quanto entre os católicos.

Parlamentares de direita, que tendem a ter discursos mais relacionados à religião, são os mais propensos a incluir esses temas em sua atuação política. Esse aumento na predisposição para integrar questões religiosas na atividade parlamentar também foi observado entre os deputados de centro.

Na esquerda, a opinião é mais dividida, com 48% dos entrevistados rejeitando a influência da religião em suas decisões parlamentares e 46% admitindo essa influência. Esse é um aumento significativo em relação à pesquisa anterior, onde apenas 25% dos parlamentares de esquerda admitiram a influência da religião.

Especialistas apontam que esse aumento na influência da religião no Congresso pode ser reflexo do aumento dos debates sobre valores religiosos na sociedade. Além disso, a mobilização da religião em diversas agendas políticas também pode estar contribuindo para essa tendência.

A fatia parlamentar influenciada por uma crença inchou rápido demais, o que causa estranhamento, mas a tendência em si faz sentido, de acordo com o cientista político Vinicius do Valle. “Está tendo um entendimento progressivo na sociedade de que manifestar religiosidade é importante”.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) protagonizou um dos episódios mais simbólicos dessa cobrança do eleitorado por fé ao perder a prefeitura paulistana, em 1985. A derrota foi em parte creditada à fama de ateu. Em 1994, em campanha presidencial, FHC fez questão de declarar que “sempre acreditou em Deus”.

Os petistas Lula e Dilma Rousseff também tiveram que prestar contas sobre seu cristianismo. Em 2010, sua primeira eleição, Dilma era vista com desconfiança por responder em sabatina à Folha três anos antes, quando questionada se acreditava em Deus: “Eu me equilibro na questão”. Presidenciável, disse que vencer um câncer a havia reaproximado da fé e defendeu um retorno aos “valores éticos e morais”.

Mesmo o agnóstico Getúlio Vargas teve que fazer concessões à então toda-poderosa Igreja Católica, nomeando Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil em 1931.

Ex-presidente da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) diz “falar o óbvio”, de que “é impossível separar o ser humano de suas crenças”, e acha bom que colegas “estejam deixando as máscaras de lado”.

Aliado do pastor Silas Malafaia, aponta ainda “uma enorme confusão” no conceito de Estado laico. Ele não pressupõe vácuo religioso. Teria como prerrogativa, isso sim, “respeitar e proteger todas as religiões” sem ser um “Estado ateu, apesar de ser dever do Estado também respeitar e proteger os ateus”.

Para Chico Alencar, deputado do Psol-RJ que se define como cristão “de formação católica, recebido na comunhão anglicana e cada vez mais ecumênico”, a pesquisa Genial/Quaest revela aspectos positivos e negativos.

De bom, mostra que a fé “não está dissociada da vida”. Vira problema, contudo, quando “as preocupações de cristandade, entre aspas”, servem de desculpa para “reproduzir mandatos, ter prestígio, poder e voto, e isso ofende a ideia do Estado laico”.

Com informações da Folha de S. Paulo.  

Fonte: https://agendadopoder.com.br/pesquisa-revela-que-deputados-cada-vez-mais-utilizam-a-fe-em-suas-atividades-parlamentares-67-do-total/