24 de novembro de 2024
O que causou a tragédia no Rio Grande do Sul?
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Você já deve ter lido ou ouvido falar que nenhum brasileiro venceu o Prêmio Nobel. Isso não é exatamente verdade. Em 2007, o climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, fez parte da equipe internacional de cientistas que recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Junto com o ex-vice-presidente americano Al Gore, os pesquisadores do IPCC (painel da ONU sobre mudanças climáticas) foram premiados pelo papel de alertar sobre os riscos do aquecimento global e lutar pela preservação ambiental.

Além disso, ele integra o grupo Planetary Guardians (Guardiões do Planeta), que reúne pesquisadores e ativistas em prol de estudos e análises sobre ação climática e proteção de comunidades vulneráveis. 

Então, ninguém melhor do que uma referência mundial em estudos climáticos, para elucidar o que, de fato, explica a tragédia no Rio Grande do Sul. 

Climatologista Carlos Nobre em entrevista ao Olhar Digital News. Crédito: YouTube/Olhar Digital

Rio Grande do Sul: calor do oceano influenciou na tragédia

Em entrevista ao Olhar Digital News na noite de terça-feira (4), Nobre foi didático ao descrever a situação. “O que um planeta mais quente faz? Os oceanos todos, por exemplo, bateram recorde de temperatura em 2023 e 2024, principalmente a partir de maio do ano passado. Nunca, desde o último período inter-glacial, os oceanos estiveram tão quentes Quando o oceano vai ficando mais quente, ele evapora muito mais água. Quando a temperatura da superfície do oceano passa de 26,5ºC e chega a 27ºC, a evaporação é muito grande. O combustível das chuvas é o vapor d’água. Então, quando você tem mais vapor d’água na atmosfera, e aí você tem um fenômeno meteorológico que causa chuvas, essas chuvas vão ser mais fortes. E, em muitos lugares, quando você tem chuva muito forte, isso induz, em outros locais, uma seca muito forte”. 

Segundo Nobre, quase todos esses fenômenos extremos são eventos atmosféricos e oceânicos naturais, no sentido de que eles existem no nosso planeta há milhões e milhões de anos. “Mas, com o planeta mais quente, esses fenômenos se tornam mais intensos e batendo recordes. Além da maior chuva da história do Rio Grande do Sul, em fevereiro de 2023, na cidade de São Sebastião (SP), tivemos a maior chuva por 24 horas da história do Brasil (600mm)”.

Deslizamento de terra causado por fortes chuvas na praia de Boiçucanga, cidade de São Sebastião, SP, no Carnaval de 2023. Imagem: Nelson Antoine – Shutterstock

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Fenômenos meteorológicos que sempre existiram estão mais intensos

O climatologista pondera que existem alguns novos fenômenos extremos que nunca aconteceram e são devido ao planeta estar mais quente, “mas a quase totalidade é composta por eventos que sempre aconteceram, só que agora – com a atmosfera mais quente, os oceanos mais quentes, mais vapor d’água – esses eventos estão ficando muito mais fortes. Mais extremos”. 

Nobre cita como exemplo o que tem acontecido atualmente na cidade de Santos, litoral de São Paulo. “Choveu, em 24 horas, 121mm. Chuva assim era uma coisa muito rara até décadas atrás. Agora, é um fenômeno meteorológico comum”. 

A maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Crédito: Maurício Tonetto/Secom RS

Então, segundo ele, foi isso que aconteceu no Rio Grande do Sul. “Tem um sistema de chuva muito comum do Hemisfério Sul que a gente chama de Ondas de Rossby (ondas atmosféricas que existem para misturar o ar frio subpolar com o ar quente subtropical). Isso sempre existiu, há centenas de milhões de anos. E o que acontece agora é que às vezes você tem uma alta pressão no Oceano Pacífico, e ela fica estacionada. Então, ela mantém uma baixa pressão ali no leste da América do Sul e uma alta pressão ao norte. Essa alta pressão ficou bloqueada. Então, ela não deixava a baixa pressão que leva a frente fria sair. Essa foi a causa da chuva”. 

Nobre continua: “Essa alta pressão bem em cima do centro-oeste fez com que acelerasse muito o fluxo de umidade que vem da Amazônia, que nós chamamos de rios voadores. Só que essa alta pressão que estava bloqueada fez com que esses rios voadores fossem mais volumosos ainda, transportando mais vapor d’água, que alimentou os sistemas de chuva. Essa mesma alta pressão sobre o centro-oeste trouxe tempo seco e calor para essa região e o sudeste”. 

O climatologista reforça que esses são fenômenos meteorológicos que sempre existiram, há milhões de anos. “Mas agora, com o planeta mais quente, todos esses fenômenos estão ficando mais intensos e até quebrando recordes”. 

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/06/05/ciencia-e-espaco/brasileiro-que-recebeu-nobel-explica-tragedia-climatica-no-rs/