Ministros que representam partidos do Centrão no governo federal não veem condições para mobilizar as bancadas de suas legendas para votações de projetos fora da pauta econômica. Segundo titulares dessas pastas, o acordo para o embarque na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na transição após a eleição de 2022 se deu exclusivamente em temas da área.
Na reunião com o núcleo de articulação política do governo na segunda-feira passada, Lula determinou que os líderes do governo passem a cobrar dos ministros os votos para os projetos que tramitam no Congresso. Em entrevista ao jornal O GLOBO, o líder do governo no Senado e um dos principais conselheiros do presidente, Jaques Wagner (PT-BA), disse que a ideia é começar a fazer reuniões com os titulares das pastas e as bancadas para perguntar: “Cara pálida, e aí? Você está sentado aqui, quantos votos tem o teu partido quando eu preciso?”.
Três ministros ouvidos de forma reservada afirmaram que, em pautas econômicas, é possível conseguir um apoio maciço dos parlamentares de seus partidos aos projetos de interesse do governo, mas quando forem a voto projetos de costumes ou de endurecimento da legislação penal, como foi o caso da proposta que restringiu a saidinha de presos, os representantes do Centrão com assento na Esplanada “lavam as mãos”.
Pressão das redes
Os titulares das pastas alegam que os deputados não seguem orientação partidária para esses temas porque votam com base na pressão que recebem de eleitores pelas redes sociais. Por isso, não há como atender a demanda do governo. Um desses ministros argumenta que a dificuldade das legendas em controlar seus parlamentares ficou explícita com o voto da deputada petista Mária do Rosário (RS) pela derrubada do veto de Lula ao trecho do projeto que restringe a saidinha de presos.
Diante desse cenário, para evitar derrotas como vistas na semana passada, o único caminho, segundo um outro ministro, seria o governo buscar um acordo com os presidentes da Câmara e do Senado para que pautas de costumes ou ligadas a endurecimento da legislação penal não sejam mais colocadas em votação.
Há ainda a avaliação de que neste momento, diante da necessidade de sinalizações à oposição bolsonarista mirando as eleições da presidência das duas Casas, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) estão mais propensos a colocar em pauta projetos de interesse da ala mais conservadora do Congresso. Os dois precisam do apoio desse grupo de parlamentares para eleger sucessores em fevereiro.
Alguns dos titulares das pastas comandadas pelo Centrão acreditam também que Lula não terá como escapar de fazer uma reforma ministerial para reorganizar a base, depois das eleições municipais, para a segunda metade do mandato.
Há um entendimento de que o governo poderia ter uma situação mais tranquila, se Lula decidir se dedicar mais ao contato com os parlamentares, mesmo que não assuma diretamente a operação dos acordos.
Na sessão do Congresso do dia 28, além da derrubada do veto presidencial ao ponto central da lei que restringe saídas temporárias de presos, houve a manutenção da decisão, tomada ainda na gestão de Jair Bolsonaro, de dificultar a punição à disseminação de desinformação eleitoral. Foi derrubado ainda o veto a um artigo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que desestimula a destinação de verbas do Executivo a ações favoráveis ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), ao aborto e à agenda LGBT+.
Com informações do GLOBO.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/cobrados-pelo-governo-ministros-do-centrao-lavam-as-maos-e-so-garantem-votos-de-suas-bancadas-nas-pautas-economicas/