O São João da Thay começa nesta sexta (7), tendo atraído diversas celebridades para o Maranhão, sejam atrações ou apenas presenças no evento. Atrás do palco, o comando é de uma artista mais discreta, de trajetória não tão incomum ao showbiz: dividida entre o estrelato sob os holofotes e o presente reinado exclusivo aos bastidores.
Diretora artística do megashow, Andrezza Cruz retoca o roteiro, focada e séria. No controle, precisa erguer a voz ao menos uma vez, podendo ser ouvida de longe mesmo sob as estrondosas passagens musicais e o temporal que cai sobre o terreno do São João da Thay.
A profissional esbanja simpatia desde o primeiríssimo contato com O IMPARCIAL, escancarando o carisma que conquistou a polêmica Marlene Mattos, a cultuada Xuxa — e mais uma legião de fãs — em 1995: quando Andrezza, com apenas 15 anos, foi coroada Paquita da Nova Geração, criada pela diretora para o programa Xuxa Park. Além dos programas de TV, Andrezza ainda gravou dois discos com o grupo e fez filmes. (Mais após a imagem)
Em bate-papo com O IMPARCIAL, ela antecipa o vindouro documentário das paquitas, relembra a época em que compunha o imaginário dos fãs do universo Xuxa (enquanto realizava seus próprios sonhos de fã), algumas polêmicas, os primeiros passos em direção e produção; e detalha o momento atual, no comando do evento que parece reprojetar São Luís e o Maranhão a nível nacional. Veja:
Já tinha vindo ao Maranhão antes do São João da Thay?
Estivemos aqui em um show com a Xuxa. E a família do meu pai é toda de São Luís do Maranhão.
A Thaynara OG a reconheceu dos tempos de paquita?
Quando começamos a trabalhar juntas, sim. Porém, o Bruno [Lima, produtor do evento] me reconheceu muito mais, falou que ia às gravações. Ele disse, “Dezza, eu tenho foto com você!” Acho que a vida nos faz conexões interessantes. (Mais após a imagem)
Que lembranças guarda da época ao lado de Xuxa?
Tenho muita gratidão por tudo o que vivi. Só lembranças maravilhosas, pois desejava muito. Frequentava muito [o Xou da Xuxa, antes de ser paquita], já havia feito testes e perturbava muito o Berry [Oswald Berry, argentino e coreógrafo de longa data da apresentadora]. (Mais após a imagem)
Hoje, pra mim, é muito gratificante olhar para trás. Já estive muito no palco, então conheço a experiência. Nos bastidores, sei exatamente o que espero.
É muito legal quando as pessoas vêm ao show e me “descobrem” aqui.
Como os anos como assistente de palco a prepararam para o que faz agora, sendo as paquitas presenças frequentes na frente e atrás das câmeras?
Teve todo um aprendizado de olhar o trabalho do outro. Quando paquita, isso acontecia demais.
Como o convívio com a diretora Marlene Mattos — amiga próxima e empresária de Xuxa por quase 20 anos — influencia no seu trabalho hoje? O que ela ensinou?
Quando entrei, a Marlene era a nossa chefe, alguém em um mundo extremamente machista, principalmente na época.
A gente [por exemplo] não precisa brigar para ser respeitado. Trago coisas boas, não só dela, mas da Xuxa também. (Mais após a imagem)
Como é o seu relacionamento com Xuxa hoje?
Ela sempre foi meu ídolo. É louco ter a possibilidade de troca com alguém que eu via na TV, parecendo tão inatingível. Na verdade, que bom que não é.
Que rumos tomou após o período como paquita?
Quando deixei o grupo em 2000, fui estudar. Tive muitas oportunidades, mas não queria ser atriz. [O duo pop com Giselle Delaia, também ex-paquita] não era o que me seduzia. Eu gostava mesmo era de organizar algo para mostrar. Em produção, descobri que gostava de cuidar do produto.
Um documentário sobre as paquitas — “Pra Sempre Tão Bom” — será lançado em breve. O que você pode adiantar?
Vai ser muito interessante ver coisas que nunca foram faladas ou vistas. Há muita coisa curiosa pra gente debater e entender.
Muito tem se criticado sobre não ter havido meninas negras, ou de outras raças nos grupos. Como isso é abordado no documentário?
A gente fala sobre a falta de representatividade, até porque, na minha geração, nós éramos morenas. Até chegar aquele comercial da Wella [publicidade típica do final dos anos 1990 hoje contoversa, para a qual a geração de Andrezza tingiu os cabelos de loiro]. (Mais após a imagem)
Quando entramos, foi justamente para mudar a norma [das loiras]. Quase tivemos uma paquita negra, a Michelle Martins [que chegou bem perto de ser escolhida, chamando a atenção da impensa na época], que depois virou atriz. Pra nós, ser loira não era uma obrigatoriedade.
Também tinha a Adriana Bombom, que está no documentário. Ela era sim uma de nós, ensaiávamos, fazíamos tudo juntas. Ela só foi escalada [por Marlene Mattos] para ser a Bombom. (Mais após a imagem)
De volta à relação com Xuxa: ela sempre incentivou muito suas paquitas em carreiras pós-grupo. Xuxa viu uma produtora ou diretora em você, logo cedo?
Criei uma relação muito bacana com a Xuxa na época do Mundo da Imaginação [infantil diário nas manhãs da Globo, de 2002 a 2004]. Tinha ido morar em São Paulo e trabalhava na produtora do meu marido.
Xuxa então me puxou de volta para perto, trabalhando com seleção de crianças para o Mundo da Imaginação. Eu as gravava mandando recados, para que Xuxa aprovasse. Foi quando ela disse que eu fazia muito bem aquilo — e plantou uma sementinha em mim, que fui regando. (Mais após a imagem)
O Roberto Talma [renomado diretor global, falecido em 2015] também me incentivava e eu relutava um pouco, até ser promovida [na Globo]. Ali, me encontrei. Comecei como assistente de direção até assumir a direção do TV Xuxa em 2011.
Como é a Andrezza Cruz diretora e produtora?
Sou muito tranquila. Não gosto de esporro, dessa coisa frenética. Gosto de uma equipe feliz, adoro dar risada, confraternizar. Porém, às vezes encontramos algumas barreiras — primeiro por ser mulher.
Os sucessos na TV de Xuxa formaram outras diretoras hoje prestigiadas na Globo. Consegue observar alguma mudança no cenário atual, comparado a sua época como paquita? Há mais mulheres?
A Mariana Richard e a Richard [gêmeas idênticas e Irmãs Metralha nos antigos programas de Xuxa] e a Ana Paula Guimarães [a Catu, uma das paquitas originais] são diretoras maravilhosas, hoje na dramaturgia da Globo.
A Catu está dirigindo o nosso documentário. Graças a Deus isso tem mudado, mas ainda há muito chão.
Sente falta de estar no palco?
Hoje, não — apesar dele ser muito sedutor. Quem já esteve lá, ama estar. Mas hoje gosto mais de produzir algo no palco. [Por exemplo] dirigindo a Thay na apresentação.
Como você chegou ao São João da Thay?
Fui indicada por um diretor do Rio de Janeiro. Tive um encontro com Bruno [Lima, produtor] e trocamos uma ideia. Em 2022, comecei a fazer o São João da Thay [no Multicenter Sebrae]. Fiquei muito encantada, pois foi a primeira vez que fiz um evento, um show ao vivo.
Fazia mais TV e musicais. Aí, fizemos o primeiro. Foi um desafio, eu trouxe um formato diferenciado. Não era um palco que [por exemplo] tinha uma passarela. Em 2023, pensei, “vamos monstar num lugar aberto”. O diferencial da edição de 2024 são os três palcos. (Mais após a imagem)
Entendemos que o São João da Thay não é só um show, mas um programa de TV com atrações diversas a todo momento. Havia uma demanda muito grande.
Você é uma bailarina profissional e tem uma escola de dança, a Academia Andrezza Cruz (ADAC) em Duque de Caxias (RJ). Qual a sua especialidade em dança?
Tenho a escola já há 19 anos. Gosto muito de ballet clássico e jazz, o que mais fiz ao longo da vida, desde criança.
Já aprendeu alguma dança típica do São João do Maranhão?
Temos uma produtora cultural, a Emira, que faz parte do Cacuriá de Dona Teté. Ela já me ensinou uns passinhos… Infelizmente, quando estou aqui [dirigindo o show], não consigo ir a nenhum arraial. Fico pê da vida com isso! [risos]
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2024/06/andrezza-cruz-a-trajetoria-desde-as-paquitas-ate-o-comando-do-sao-joao-da-thay-em-sao-luis/