Foi um ano de muita campanha de marketing (até na Paris Fashion Week) e a promessa de que seria o futuro dos smartphones. Mas, desde que foi lançado, em abril, o Ai Pin, da Humane, vem se mostrando um grande fracasso, observa o The New York Times.
E o pior é que isso foi previsto pelo casal de fundadores da empresa, Bethany Bongiorno e Imram Chaudhri. Pouco antes de o aparelho ser enviado a jornalistas para experimentação, eles reuniram seus funcionários e pediram que se preparassem, pois as críticas poderiam ser decepcionantes.
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Após o lançamento do vestível alimentado por IA, que custa US$ 699 (R$ 3.736,92, na conversão direta), as críticas realmente vieram. Um disse que o Ai Pin estava “totalmente quebrado”; outros, que tinha “falhas gritantes”. Teve um que foi além: “o pior produto que já revi”.
Uma semana depois das análises negativas, a Humane começou a conversar com a HP, visando um negócio que valeria por mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,34 bilhões), informaram ao periódico três pessoas familiarizadas com o assunto.
Outros compradores em potencial surgiram, mas não houve nenhuma proposta nem por parte da HP, nem por parte de outras empresas. O Times procurou a HP para saber sobre o assunto, mas não obteve resposta. O Olhar Digital não conseguiu contato com a assessoria de imprensa da companhia.
Para avançar nas negociações, a Humane contratou o banco de investimento Tidal Partners por US$ 28 bilhões (R$ 149,69 bilhões) e, também, para gerenciar rodada de financiamento que a avaliaria em US$ 1,1 bilhão (R$ 5,88 bilhões), conforme três fontes que estão a par do assunto. A Bloomberg já tinha informado sobre potencial venda da Humane.
Ai Pin: da enorme expectativa para o fracasso
- O Times lembra que, para desenvolver seu dispositivo, a Humane arrecadou US$ 240 milhões (R$ 1,28 bilhão);
- Entre seus investidores, estão Sam Altman (OpenAI) e Marc Benioff (Salesforce). Este último avaliou a startup em US$ 1 bilhão (R$ 5,34 bilhões);
- Foram cinco anos desenvolvendo o Ai Pin, visando perturbar a hegemonia dos smartphones;
- Em abril, a empresa disse ter recebido dez mil pedidos de seu dispositivo, mas esperava vender 100 mil em 2024, disseram duas fontes ao Times;
- Para piorar, a Humane enfrenta saídas de funcionários e mudou sua política de devolução para atender aos pedidos cancelados;
- E a situação só piora. Na quarta-feira (5), pediu a seus clientes que não usem mais o estojo de carregamento do gadget por risco de incêndio relacionado à bateria.
Em entrevista, Bongiorno e Chaudiri evitaram comentar sobre possível venda da Humane, tampouco sobre possível nova arrecadação de fundos. Mas afirmaram que suas ambições relacionadas ao Ai Pin seguem as mesas, reconhecendo, todavia, que há diferenças em testar um produto e realmente utilizá-lo no dia-a-dia.
“Você não sabe tudo antes do lançamento”, disse Bongiorno. Por sua vez, Chaudhri pontuou que, com as análises dos produtos, os testadores, “definitivamente, gostariam que pudéssemos resolver algumas dessas coisas de maneira um pouco diferente”.
As informações sobre a situação da Humane foram baseadas em entrevistas realizadas com 23 funcionários e ex-funcionários, além de consultores e investidores, que pediram anonimato por não estarem autorizados a falar publicamente sobre o assunto, ou que temiam retaliação.
Ainda, vários dos empregados atuais e que não estão mais na startup afirmaram que os fundadores da Humane optaram por manter a positividade e relevar as críticas, levando-os a desconsiderar avisos sobre a baixa duração da bateria, contrastando com o alto consumo de energia do dispositivo “revolucionário”.
Os mesmos funcionários alegaram que um engenheiro de software sênior da empresa foi demitido após questionar o produto, enquanto outros, frustrados, desistiram.
O que dizem os fundadores da Humane
Chaudhri afirmou que a Humane, com 250 funcionários em seu auge, os incentivou a darem feedback do produto. Sobre as saídas de colaboradores, disse que foram consequência natural da transição durante criação de novo dispositivo e para sua manutenção após ser lançado, que apelava a “tipo diferente de pessoas”. A Humane foi fundada pelo casal em 2019. Antes, passaram pela Apple.
Desde o início, segundo empregados atuais e antigos, o Ai Pin – que tem assistente virtual com inteligência artificial (IA) que envia mensagens, pesquisa na internet e tira fotos, além de projetar textos na palma da mão e toca música – acusou problemas desde o início de seu desenvolvimento.
Entre eles, a tela, que consumia muita energia e superaquecia o dispositivo. Inclusive, antes de demonstrá-lo a potenciais parceiros e investidores, os executivos da startup o deixava em bolsas de gelo para maior resfriamento e para que ele durasse mais tempo, afirmam três fontes familiarizadas com as falhas.
Os mesmos três funcionários afirmaram que a medida utilizada pelos executivos poderiam ser comuns no início do desenvolvimento de produtos.
Já quando os colaboradores se preocuparam com o calor excessivo gerado pelo Ai Pin, segundo eles, Bongiorno e Chaudiri teriam afirmado que melhorias no software relacionadas à redução do uso de energia pelo dispositivo resolveriam o aquecimento.
Eles informam ainda que Chaudhri, líder do desenvolvimento do design do dispositivo, queria manter o desenho “elegante” do Ai Pin.
Por sua vez, a bateria dele não tinha capacidade o bastante para ele durar muito. As unidades de teste teriam ficado sem energia em questão de horas. Dessa forma, a Humane fornecerá aos seus clientes bateria reserva e estojo de carregamento, elevando o preço do dispositivo em mais de US$ 100 (534,61).
Os imprevistos adiaram a data de envio do produto para abril, algo informado em outubro passado.
Certos funcionários pediram aos fundadores que adiassem mais o lançamento porque o Ai Pin não estava pronto. Outros queriam um chefe de marketing, função que permaneceu vaga antes de lançarem o dispositivo.
Em outubro, a Time elegeu o Ai Pin como uma das melhores invenções de 2023, mas isso não está se confirmando nas versões destinadas ao consumidor final.
Fontes disseram que se esperava mais pedidos do que os que foram feitos. Assim, a Humane diminuiu a quantidade de dispositivos previstos a ser lançados. Depois, em janeiro, demitiu em torno de dez funcionários. Em fevereiro, demitiu o engenheiro de software sênior citado anteriormente. Ele questionou se o produto ficaria pronto em abril, de fato.
Segundo funcionários, em reunião realizada após a demissão da profissional, Chaudhri afirmou que ele violou a política da empresa ao falar negativamente dela.
Mais recentemente, após as reviews negativas, Bongiorno disse que “reunimos a equipe e dissemos: ‘OK, veja, isso vai ser doloroso. Teremos que nos apoiar em feedback doloroso’.”
Segundo Bongiorno e Chaudhri afirmam que sua empresa já trabalhou nos problemas de seu dispositivo. Eles adicionaram mais opções de navegação por voz ao Ai Pin, bem como efeitos sonoros que ajudam no uso dele.
Outras novidades foram integradas: o GPT-4o, mais recente sistema de chatbot IA da OpenAI, além de melhora da vida útil da bateria. Ela deve ganhar 25% a mais de ciclo de vida, além de outra atualização que reduz o tempo de resposta do dispositivo para dois segundos.
Todas essas melhorias teriam sido apontadas pelos revisores por meio de seus comentários, que, na visão de Bongiorno, é “um presente que recebemos”.
A cofundadora afirmou, ainda, que há empresas interessadas no produto: 48 horas após o lançamento, mais de mil empresas, incluindo dos setores de varejo, educação e saúde, entraram em contato com a Humane para vislumbrar a possibilidade de trabalharem em parceria ou desenvolverem softwares para o Ai Pin.
A startup assinou contratos com operadoras sem fio para que o dispositivo chegue à Coreia do Sul e ao Japão.
O Olhar Digital tentou contato com a Humane para dar sua versão sobre as informações do Times, mas não conseguiu encontrar sua assessoria de imprensa. Lembrando que a empresa não possui escritório no Brasil.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/06/07/reviews/considerado-futuro-dos-smartphones-ai-pin-mostra-sinais-de-fracasso-entenda/