O título do livro de Nilson de Souza — que se identifica apenas como “nilson” em suas obras poéticas — revela de forma evidente a sua fonte de inspiração.
Publicado pela Cepe Editora, Pequeno caderno maranhense traz o universo do Maranhão no centro de sua escrita. Nilson foge de temas e personagens costumeiramente exaltados na história e cultura tidas como oficiais e visibiliza, com um humor crítico e abordagem anticolonial, questões relacionadas aos negros e indígenas.
Esta opção se traduz nos versos selecionados para a contracapa da obra:
“você se aplica ao trabalho sabendo que a sua ilha / foi
erigida com o seu sangue / e com o seu sangue / se enche um oceano”.
A primeira do obra do poeta a ser publicada, Pequeno caderno maranhense será lançado nesta quinta-feira (13), das 18h às 21h, na Sala Sesc de Exposições, em São Luís (MA).
Antes da sessão de autógrafos, Nilson participa de um bate-papo sobre a obra com o historiador e músico Tonny Araújo — autor dos livros Caixa de raiva e O lugar do jazz na construção da música popular brasileira.
Com a publicação avalizada pelo Conselho Editorial da Cepe, Pequeno caderno maranhense resultou de um longo tempo de pesquisas e observações do dia a dia.
A virada de chave do antigo para o atual projeto veio aos poucos, a partir da percepção do poeta de que suas vivências, bem como de sua família e de seus amigos, figuravam nos livros e arquivos de modo estranho ao que eles percebiam.
De acordo com o poeta, o que havia em livros e arquivos eram relatos de violência, clichês regionais, formas generalistas/estereotipadas de falar do bumba meu boi e das religiões que ele e as pessoas do seu entorno conheciam e frequentavam.
“Então esse recinto lacunar, instável do arquivo negro e indígena maranhense virou uma espécie de obsessão minha, que contaminou a minha escrita e se tornou o meu objeto de pesquisa, e o resultado é um pouco do que consta nesse livro”, pontua.
De certo modo, admite Nilson, existe “uma vontade de perverter ou corromper aqueles livros escolares da minha infância”. A intenção do poeta de “perverter” a lógica oficial se revela nas primeiras linhas do primeiro poema do livro.
Em prólogo, o verso inicial sai à queima-roupa:
“Sabe quando eles usam essa capa completamente preta sobre a pele?”. E a
resposta: “Pois bem / nós somos escuros, pois um útero nos quis assim”.
A questão racial caminha junto a outras questões importantes, como a religiosa e as manifestações culturais, ora trazendo referências ao Tambor de Mina, conforme os poemas deni e vozerio, ora ao Bumba meu boi, manifestação de profunda relação afetiva do autor. O bisavô de Nilson era o Pai Francisco do Bumba meu boi da Maioba, fundado em 1897.
Além de poesias, o livro reúne reproduções de imagens – fotos, mapa e painel seculares – pinçadas pelo autor em suas pesquisas, transcrições de trechos de discos, de filmes, de documentários e de livros. A primeira parte da publicação, batizada de Módulo, conta com textos unicamente autorais, enquanto a segunda, Frequência, traz poemas elaborados a partir da escuta de rádios maranhenses e cópias de fragmentos extraídos de áudios e audiovisuais.
Em tom crítico, os fragmentos recebem nomes de “ruídos brancos”. São cinco “ruídos” em meio a 23 poemas.
O autor
Natural de São Luís (MA), Nilson é graduado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e bolsista para criação literária da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema). Alguns dos seus poemas foram publicados nas revistas Caliban (Portugal) e Totem & Pagu (Curitiba–PR).
Em 2023, Nilson comandou uma oficina de escrita sobre o Bumba Meu Boi no Centro Cultural do Vale Maranhão.
Serviço
- O que: Lançamento de Pequeno caderno maranhense, com bate-papo do autor com o escritor e historiador Tonny Araújo
- Quando: 13 de junho (quinta-feira)
- Hora: das 18h às 21h
- Onde: Sala Sesc de Exposições, Edifício Francisco Guimarães e Souza, na Avenida dos Holandeses, Quadra 4, s/n, Jardim Renascença II, São Luís/MA
*Da assessoria
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2024/06/a-poesia-subversiva-e-anticolonial-do-pequeno-caderno-maranhense-de-nilson-de-souza/