A Polícia Federal analisa o conteúdo dos telefones celulares do advogado Frederick Wassef, que representa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), antes de concluir as investigações sobre a venda de presentes dados ao estado brasileiro em viagens oficiais. Neste momento, estão sendo escrutinados arquivos de fotos e vídeos, além de mensagens de texto e áudio trocadas em aplicativos de conversas instalados nos aparelhos.
O exame criterioso do material é um dos motivos pelos quais a PF ainda não concluiu o relatório final do inquérito. De acordo com as investigações, Wassef teria recomprado de uma joalheria americana um Rolex presenteado pelo governo saudita a Bolsonaro. A peça havia sido negociada com o estabelecimento pelo ex-ajudante de ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid.
Procurado, Wassef não retornou ao contato. Ao prestar depoimento em São Paulo, em agosto do ano passado, o advogado relatou que a transação foi declarada à Receita Federal e se deu em dinheiro vivo, o que teria lhe garantido um desconto de US$ 11 mil. Ele apresentou um recibo de compra de US$ 49 mil e outro recibo de saque no valor de US$ 35 mil.
— Eu comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos. Eu tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. Eu tenho conta aberta nos Estados Unidos, num banco em Miami, e usei o meu dinheiro para pagar o relógio. O meu objetivo quando eu comprei esse relógio era exatamente devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República, isso inclusive por decisão do Tribunal de Contas da União — disse, na época.
Na semana passada, agentes da PF também realizaram novas diligências e colheram novo depoimento de Mauro Cid. O objetivo da oitiva era esclarecer a suposta negociação de uma nova joia, identificada em uma cooperação internacional do Federal Bureau of Investigation (FBI), o Departamento Federal de Investigação.
Em cidades como Miami (Flórida), Wilson Grove (Pensilvânia) e Nova Iorque (NY), os policiais conseguiram ouvir comerciantes, acessar imagens de câmeras de segurança e ainda obter documentos, como movimentações financeiras dos investigados.
— Foi nessa diligência do exterior, com a equipe do FBI, que se teve notícia dessa nova joias negociada e que não estava no foco da investigação. Houve um encontro de um novo bem vendido no exterior e isso talvez tenha sido um dos fatores para atrasar a conclusão do inquérito. Esse encontro robustece a investigação que se iniciou desde a apreensão no aeroporto — afirmou Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, há duas semanas.
Para o delegado Ricardo Andrade Saadi, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor), a identificação dessa nova joia vendida pode ser um agravante na definição da pena em caso de eventual condenação dos envolvidos no esquema. São investigados crimes como peculato e organização criminosa.
Segundo o inquérito, auxiliares de Bolsonaro venderam ou tentaram comercializar ao menos quatro itens, sendo dois entregues pela Arábia Saudita e dois pelo Bahrein.
Na investigação, a PF aponta a existência de uma organização criminosa no entorno do ex-presidente que atuou para desviar joias, relógios, esculturas e outros itens de luxo recebidos por ele como representante do Estado brasileiro.
Entre os presentes negociados, estão relógios das marcas Rolex e Patek Phillipe, para a empresa Precision Watches, no valor total de US$ 68 mil, o que corresponde na cotação da época a R$ 346.983,60.
Nesse caso, Mauro Cid esteve pessoalmente em uma loja em Willow Grove para vender a peça. Uma foto do comprovante de depósito foi armazenada no celular do oficial.
Em depoimento sobre a investigação, Bolsonaro optou por ficar em silêncio.
Com informações de O Globo
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