Ah! A importância de saber história para captar referências. É basicamente isso que o terceiro episódio de House of Dragon (A Casa do Dragão) indicou no domingo (30).
Em uma conversa entre Rhaenyra (Emma D’Arcy) e Alicent (Olivia Cooke) para tentar evitar a guerra eminente, a herdeira do Trono de Ferro, bem como o público, descobriu o que deve ser o principal motivo para todo o conflito, e pasmem: tudo teria raiz em um mal-entendido, já que a rainha viúva não interpretou corretamente as últimas palavras do Rei Viserys I (pai de Rhaenyra).
Atenção! Pare por aqui se não quiser spoilers do 3° episódio de House of the Dragon!
O que aconteceu no terceiro episódio de House of the Dragon?
A rainha viúva, Alicent Hightower, contou a Rhaenyra Targaryen, filha mais velha do Rei Viserys I e sua enteada, o que de fato seu pai disse antes de morrer: ele balbucia uma profecia dada por Aegon, O Conquistador (precursor da família Targaryen). Ao saber das últimas palavras do pai, a princesa tem então a certeza de que ele manteve, no leito de morte, sua escolha de que ela era a herdeira do trono.
O problema é que, tudo o que Alicent tira de suas últimas palavras é algo sobre “Aegon”, um príncipe que deve unir o império. As palavras são dirigidas a Rhaenyra, mas Alicent as entende como sendo para seu filho, Aegon II (Tom Glynn-Carney).
Ele morre pouco depois, com a rainha viúva acreditando que o Rei escolheu Aegon II como herdeiro do Trono de Ferro, dando a largada para um conflito com Rhaenyra, a quem o Viserys já tinha prometido a sucessão publicamente.
Cabe pontuar que, na mesma noite que isso ocorre — na primeira temporada — Rhaenyra conversava com o pai sobre a profecia de Aegon, o Conquistador. Dada a situação do rei, que estava muito doente devido à lepra, ele acaba confundindo Alicent com Rhaenyra e dá continuidade a conversa com a esposa, que não entende sobre o que ele está falando (ou entende apenas o que quer, no caso, algo sobre ‘Aegon’).
- Um adendo importante (e fofo), as últimas palavras do Rei Viserys I na série foram literalmente “Meu amor”. Ele se referia a sua primeira esposa, Aemma. Logo depois, a imagem escurece, encerrando sua jornada.
Alicent não conhecia, até então, a história de Aegon, tendo ouvido apenas uma vez Viserys mencionar ter sonhado com um filho que usaria a coroa do Conquistador — isso ocorre enquanto ele ainda tenta, quando casado com sua primeira esposa, ter um filho homem. Em suma, ela só conhece o sonho de Viserys e não o do Rei Aegon I (o famoso sonho profético), não sendo ilógica sua interpretação errada — isso também seria evitado se não existissem vários personagens chamados Aegon na história de Westeros, o que também confunde o público.
Ainda no terceiro episódio da segunda temporada, Rhaenyra tenta explicar o que seu pai quis dizer, acreditando que assim Alicent desistirá da chamada Dança dos Dragões, mas a atual rainha simplesmente ignora a nova informação.
Qual é a profecia de Aegon, o Conquistador?
A chamada profecia de As Crônicas de Gelo e Fogo, que Aegon I fez séculos antes dos acontecimentos de A Casa do Dragão, diz que uma ameaça chegaria ao Norte — assim como ocorre em Game Of Thrones, que é a chegada dos Caminhantes Brancos — mas que Westeros será salvo pelo “Príncipe ou Princesa que foi Prometido”.
Do meu sangue virá o príncipe prometido, e dele será as crônicas de gelo e fogo.
Profecia do Rei Aegon Targaryen I.
A história conta que foi passado de geração em geração na família Targaryen que o Rei Aegon I teve um sonho profético sobre um inverno que devastaria o mundo dos homens, e que para sobreviver a tal calamidade, um Targaryen deveria estar reinando os Sete Reinos. De acordo com Aegon I, o Príncipe Que Foi Prometido viria de sua linhagem para combater a escuridão.
A profecia foi estampada em sua adaga com lâmina de aço valiriano e repassada apenas aos herdeiros do trono (a famosa adaga que ganha protagonismo em GoT).
E quem é o Príncipe Prometido a quem Aegon se referia? Eis a pergunta de milhões. Ao que indicou GoT, ele deve ser a reencarnação de Azor Ahai, um herói lendário que viveu cerca de oito mil anos antes de Aegon, o Conquistador. Ele teria exterminado os Caminhantes Brancos de um evento cataclísmico semelhante (a Longa Noite), empunhando sua espada de fogo contra as criaturas.
No decorrer da história de George R.R Martin, diversos personagens possuem inclinações para carregar tal título, em diferentes épocas. Além de Rhaenyra, por exemplo, há também Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) e Jon Snow (Kit Harington) — que mais tarde descobre origem Targaryen. Stannis Baratheon também fica na lista por um tempo, até ser derrotado em batalha.
Apesar do protagonismo dos dois personagens contra o Rei da Noite (o Primeiro dos Caminhantes Brancos), no entanto, é Arya Stark quem usa a adaga de aço valiriano de Aegon I para eliminar os Caminhantes Brancos, mantendo a dúvida sobre a profecia no ar. Ela seria uma candidata indireta ao título.
Diferenças importantes com o livro Fogo & Sangue
Como os fãs sabem, House of the Dragon é baseada na obra Fogo & Sangue, de George R.R. Martin, que possui dois volumes. O livro é um derivado produzido especialmente para mostrar a história dos Targaryen, ou seja, ele não faz parte do box As Crônicas de Gelo e Fogo, atualmente com cinco livros (e mais dois em produção).
O mal-entendido em torno da profecia de Aegon na série de A Casa do Dragão não existe em Fogo & Sangue. Acredita-se que o envolvimento da profecia seja apenas uma forma de ligar o enredo da série spin-off com o universo da história original — recentemente, a aparição dos três raros ovos de dragão de Daenerys também entrelaçou a produção derivada com Game of Thrones.
House of the Dragon, na verdade, tem alterado muitos detalhes quanto aos livros, aparentemente para deixar os personagens mais ‘amáveis’ (a famosa jornada do herói) e interessantes para a TV.
- Outro exemplo de mudança, por exemplo, é a morte de Laenor Velaryon (John Macmillan), no livro ele foi assassinado por Daemon (Matt Smith) e Rhaenyra, na série eles o ajudam a forjar a sua morte para ir viver um romance longe de Westeros;
- Há também uma alteração sobre a morte de Lucerys (Luke), segundo filho da princesa Rhaenyra e seu primeiro marido, Laenor Velaryon. Saiba mais aqui;
- Isso sem mencionar como termina cada personagem ao fim da guerra. Como Fogo & Sangue tem começo, meio e fim, sendo escrito apenas para mostrar o passado dos Targaryen, todos os membros tem seu desfecho decretado. Contamos aqui o que acontece, mas vale ressaltar que a série para TV pode alterar alguns finais.
Cabe pontuar também que no livro Fogo & Sangue as referências aos acontecimentos de As Crônicas de Gelo e Fogo são vagas (já que os eventos delas são o “futuro”). E qual foi então o verdadeiro estopim para a guerra civil durante a dinastia Targaryen, segundo o livro?
Tanto o livro quanto a série já mostraram o básico sobre a origem da Dança dos Dragões: disputa por poder e resistência de membros do reino em ter uma mulher no comando.
É importante dizer também que mesmo que o mal-entendido (no caso da série) não tivesse ocorrido, Otto Hightower (Rhys Ifans) teria encontrado uma maneira de incitar e manipular Alicent contra Rhaenyra, já que ele sempre foi a mente estratégica por trás da rainha. Apoiadores que são contra uma mulher como herdeira do trono também continuariam a aconselhar Alicent a coroar o seu filho Aegon para o bem do povo.
Mais uma diferença com os livros é que eles não fazem uma conexão explícita entre as histórias de Azor Ahai, mencionadas em GoT, e as profecias do Príncipe Que Foi Prometido.
As possíveis pontas soltas, claro, ocorrem tanto devido às alterações para adaptação na TV, como o fato de George R.R. Martin ainda estar escrevendo os livros que darão base e desfecho para as histórias.
Para quem não sabe, o cânone GoT é bem extenso, tendo sua primeira obra lançada nos anos 1990. Há ainda contos paralelos (um material complementar) sobre personagens e períodos: é o caso das três edições de Dunk e Egg (O Cavaleiro dos Sete Reinos, no Brasil), que conta a história de Duncan e seu escudeiro Aegon V Targaryen, filho e sucessor do Rei Maekar I, além de pai do famoso Rei Louco (Aerys II Targaryen) — como falei, sim, são muitos ‘Aegons’.
Existem também os contos A Princesa e a Rainha, O Príncipe de Westeros e Os Filhos do Dragão, além do livro de relatos O Mundo de Gelo e Fogo. O material ajudou a criar o livro Fogo & Sangue.
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