22 de setembro de 2024
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Embora Lula já tenha feito críticas ao genocídio na Faixa de Gaza, que gerou momentos de tensão entre a diplomacia brasileira e Israel, o ativista palestino Jamal Juma acha que o governo brasileiro tem de fazer mais para pressionar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a interromper o que chama de limpeza étnica em curso no Oriente Médio.

Nascido em Jerusalém, Juma dedica a vida à defesa dos direitos humanos da população palestina. Em junho, ele esteve no Brasil para divulgar a campanha do Comitê Nacional Palestino de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS, na sigla em inglês), do qual faz parte, que pede o fim das relações militares, diplomáticas e comerciais com Tel Aviv. A visita surgiu de um convite de organizações, entre as quais a Vozes Judaicas por Libertação, formada por judeus críticos à condução da guerra em Gaza.

“Temos esperança de que o governo e o povo brasileiro façam muito mais esforços, não apenas no Brasil, mas também com outros países, para estabelecer um lobby que possa pressionar pelo fim da atrocidade [em Gaza]”, diz o ativista, depois de mencionar as críticas feitas por Lula e de ponderar que considera o governo brasileiro um “bom amigo”.

Juma traça paralelos entre Israel e a África do Sul no período do apartheid. Segundo ele, sanções comerciais aprovadas por 25 países no final da década de 1980, juntamente com embargo militar, foram cruciais para o fim do regime de segregação racial no país africano. O mesmo deveria ser feito com os israelenses, defende o ativista, que há décadas estariam “limitando o direito de existência” dos palestinos ao fragmentar territórios com a construção de muros e de outras barreiras.

No caso do Brasil, Juma diz que a prioridade deveria ser a revisão das relações militares. Ele propõe, por exemplo, a revogação do acordo entre o Exército brasileiro e a empresa israelense Elbit Systems para a compra de 36 viaturas blindadas de obuseiros 155 mm — espécie de canhão de grande alcance e precisão.

A pressão sobre o governo contra negócios firmados com empresas israelenses tem surtido algum efeito. Em maio, a assinatura do contrato com a Elbit Systems foi adiada por determinação do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que tenta ganhar tempo para costuras políticas com o objetivo de aplacar resistências de aliados do presidente Lula.

Juma pede também o cancelamento do contrato da Força Aérea Brasileira com a Israel Aerospace Industries para a manutenção de drones. “Há muitos passos a serem dados que nem sequer tocam na questão das empresas privadas que operam no Brasil. Referem-se apenas às obrigações do Estado de não ser cúmplice de genocídio e de crimes contra a humanidade”, diz ele.

O ativista sugere ao Brasil outras medidas em conjunto com seus vizinhos, como o fim do acordo de livre comércio entre o Mercosul e Israel, em vigor desde 2010, que elimina tarifas em transações entre as partes. Trata-se do primeiro pacto dessa modalidade a ser celebrado pelo bloco sul-americano, do qual o Brasil faz parte, com um país localizado fora das Américas.

De janeiro a maio deste ano, as importações e exportações do Brasil com Israel se equivaleram, cada uma somando US$ 438 milhões (R$ 2,4 bilhões), segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Se o ativista pede medidas mais enérgicas do governo brasileiro, entidades judaicas vêm criticando os posicionamentos de Lula e do Itamaraty desde os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro, e a subsequente retaliação israelense a Gaza. Em fevereiro, o presidente chamou as ações militares de Israel em Gaza de genocídio e fez um paralelo com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler. As falas levaram a uma crise diplomática sem precedentes, e a chancelaria do governo Netanyahu declarou o líder brasileiro “persona non grata”.

Em relação aos ataques em Gaza, Juma acusa Tel Aviv de limpeza étnica e de “genocídio televisionado”. Segundo ele, trata-se de um projeto contra os palestinos de longa data que foi acelerado após o 7 de Outubro — dias antes do conflito, diz o ativista, Netanyahu apresentou um mapa durante a Assembleia-Geral da ONU que mostrava o “novo Oriente Médio” sem a delimitação dos territórios palestinos.

Com informações da Folha de S. Paulo.

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Fonte: https://agendadopoder.com.br/ativista-palestino-diz-que-governo-lula-precisa-fazer-mais-contra-o-genocidio-televisionado-em-gaza-e-defende-boicote-comercial-e-militar-a-israel/