21 de setembro de 2024
Compartilhe:

O manto Tupinambá voltou ao Brasil. O Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), confirmou a chegada da peça nesta quinta-feira (11), após ter passado mais de 300 anos no Museu Nacional da Dinamarca.

Peça sagrada pelo uso em rituais religiosos e outras cerimônias indígenas no Brasil, o manto foi levado no período colonial, durante a ocupação holandesa no século 17. O objeto representa uma parte da cultura material e das tradições artesanais do povo Tupinambá.

O Museu planeja voltar a expor o manto nas próximas semanas, após a adoção de todos os procedimentos necessários para a “perfeita conservação dessa peça tão importante, e sagrada para nossos povos originários”, afirma em nota.

Em junho do ano passado, após negociações entre a embaixada brasileira em Copenhague, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Museu Nacional da Dinamarca, o museu dinamarquês confirmou a doação da peça.

A devolução do manto ao Brasil envolveu esforços entre Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Cultura, Ministério da Educação e Ministério dos Povos Indígenas.
A repatriação do artefato tupinambá foi vista como uma iniciativa a ser seguida por outros países, segundo o Museu Nacional.

Veja onde estão outras relíquias brasileiras espalhadas

O processo de repatriação do manto jogou luz na discussão sobre as inúmeras relíquias etnológicas — muitas vezes indígenas — que foram levadas para o exterior e seguem fora do Brasil, expostas em museus ou integrando coleções de arte privadas. Veja algumas acima.

Especialistas na área ouvidas pela CNN defendem que a repatriação não acontece sem que um conjunto de outras ações a acompanhem. A proposta é manter vivo o legado imaterial dos povos que produziram os artefatos, usando as peças como ponto de partida para o desenvolvimento de políticas públicas.

Não adianta trazer para o Brasil e isso ficar num lugar que a gente não tem acesso, que não tem políticas, onde não vai ser discutido nada. Não é somente trazer de volta, e sim questionar como essas instituições podem organizar uma forma de reparação histórica para essas comunidades, para as populações indígenas do Brasil

Sandra Benites, curadora indígena Guarani Nhandeva e diretora da Fundação Nacional de Artes (Funarte).

“É necessário que se discuta sobre isso, que se crie um debate maior. Não é um debate de apenas uma comunidade, porque isso envolve a identidade, a cultura e a história brasileira.”

Benites defende que os indígenas deveriam ter acesso garantido às peças devolvidas ao Brasil, uma vez que elas foram produzidas por eles.

“Quando a gente tem vontade ou desejo de buscar, nós encontramos inúmeras dificuldades de acesso sobre elas. Às vezes, por cansaço, a gente desiste. Tem que se criar políticas para os indígenas terem acesso a esses artefatos”, defende.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/apos-300-anos-na-dinamarca-manto-tupinamba-volta-ao-brasil/