Depois de chamar a atenção dos astrônomos com sucessivas explosões de brilho ao longo dos últimos meses, finalmente o Cometa 12/Pons-Brooks está na área. Retornando de uma longa viagem, de mais de 70 anos, pelos os confins do Sistema Solar, o cometa descoberto no século XIX, está perto de sua máxima aproximação com o Sol e já vem sendo registrado por astrofotógrafos de todo o mundo. E você já viu tão falado o “Cometa do Diabo”?
Se não viu, tenho uma boa e uma má notícia para você: a boa é que ele está mais brilhante do que esperado, e a má é que talvez ele não seja tão simples de se observar. Ainda assim, suas imagens são fantásticas e é crescente a expectativa de que um novo surto luminoso possa ajudar o Pons-Brooks a embelezar o céu nas próximas noites.
Descoberto em 1812 pelo astrônomo francês Jean-Louis Pons e redescoberto pelo britânico William Robert Brooks em 1883, o 12P/Pons-Brooks é um cometa periódico que retorna ao Sistema Solar interior a cada 71 anos aproximadamente. Pesquisas posteriores mostram que este mesmo cometa já havia sido registrado antes, em 1457 pelo italiano Paolo Toscanelli, em 1385 por astrônomos chineses e provavelmente no ano 245, também por chineses.
Já em 1883, William Brooks percebeu que, de uma noite para outra, o cometa aumentou seu brilho em aproximadamente 5 vezes. Uma explosão de brilho, que é uma característica marcante no 12P/Pons-Brooks e que chama a atenção dos astrônomos até hoje, a cada passagem do cometa pelas proximidades do Sol.
Essas explosões de brilho são provocadas por atividades criovulcânicas na superfície do cometa. Basicamente o 12P/Pons-Brooks é uma pedra de gelo de água e gases congelados de 34 quilômetros de extensão. A sua crosta é mais dura e menos volátil que seu interior, então, quando se aproxima do Sol, o aquecimento desse corpo gelado, faz o gás em seu interior sublimar, o que aumenta a pressão interna sobre a crosta.
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Sob a influência da radiação solar, rachaduras começam a se formar na superfície, liberando jatos de material gelado do interior do cometa. É um processo semelhante ao de um gêiser terrestre, mas sob temperaturas bem mais baixas. E são esses jatos de material volátil que provocam os aumentos súbitos na luminosidade do Pons-Brooks.
Em 1954, durante a sua última passagem pelo Sistema Solar Interior, em uma de suas explosões, o cometa aumentou seu brilho em cerca de 100 vezes. O mesmo aconteceu em julho do ano passado, numa explosão que lançou aproximadamente 10 milhões de toneladas de poeira e gelo no espaço, provocando a expansão da sua coma para mais de 600 mil quilômetros e dando ao 12P/Pons-Brooks uma aparência sinistra que lhe rendeu o apelido de “Cometa do Diabo”.
Os sucessivos surtos apresentados por ele desde então, elevaram a expectativa de uma passagem espetacular em sua máxima aproximação do Sol, que deve ocorrer no próximo dia 21. E desde o mês passado, a internet está sendo inundada por várias imagens fantásticas, captadas por astrofotógrafos de várias partes do mundo. Com uma longa cabeleira e um look bem mais elegante do que aquele que lhe rendeu o apelido infame, o 12P/Pons-Brooks está chegando no melhor capítulo da temporada 2024 de sua série de aparições.
Mas para os observadores brasileiros, e de todo o Hemisfério Sul do planeta, as notícias não são muito boas. A nossa cadeira nesse teatro cósmico não tem uma boa visão do espetáculo. Embora o cometa esteja visível a olho nu no Hemisfério Norte, por aqui, seu brilho fraco está imerso na luminosidade do crepúsculo, e só pode ser visto com o auxílio de instrumentos no início da noite.
No último dia 10 ele apresentou uma explosão de brilho que permitiu que ele fosse captado pelas câmeras de astrônomos amadores no Nordeste do país. Infelizmente o surto não foi tão intenso para permitir sua observação a olho nu. Outra frustração recente foi que ele deu WO no grande evento astronômico de 2024. Muita gente esperava uma aparição gloriosa durante o eclipse solar do dia 8, mas isso não aconteceu. Seu brilho era insuficiente para ser percebido a olho nu e quem estava com telescópios ou binóculos, preferiu observar o eclipse do que tentar encontrar o discreto cometa nos poucos minutos de escuridão no céu.
Como observar
Infelizmente, não está tão fácil observar o Pons-Brooks a partir do Brasil. As melhores chances estão para as localidades do Norte e Nordeste onde ele aparece baixo no horizonte oeste no início da noite. Entre os dias 14 e 17 de abril, ele deve passar à esquerda de Júpiter, o astro mais brilhante próximo ao poente. Júpiter deve ser a principal referência para encontrar o cometa que, a cada noite, deve aparecer mais à esquerda, se afastando do planeta.
No gráfico abaixo, é possível ver a posição do Cometa 12P/Pons-Brooks no céu de Fortaleza, no Ceará, para as próximas noites. Entretanto, a imagem pode confundir um pouco pois parece que o astro estará mais elevado a cada dia e isso não deve ocorrer. A posição exibida consideram as coordenadas celestes, ou seja, a posição relativa às estrelas. E como a cada noite, devido ao movimento de translação da Terra, os astros aparecem mais a oeste, na prática o cometa vai se deslocar apenas na direção sul, ficando sempre ofuscado pela luminosidade do entardecer.
A melhor forma de observá-lo é através de telescópios ou binóculos, procurando à esquerda do planeta Júpiter logo no início da noite, assim que a luminosidade do crepúsculo começar a diminuir. Somente se tivermos a sorte do cometa apresentar um surto de brilho, talvez possamos ver ele a olho nu, mesmo antes do céu escurecer completamente.
O meu desejo, e o de todos que apreciam um bom fenômeno astronômico, é que o Pons-Brooks se exploda, mas uma magnífica explosão de brilho, que seja capaz de iluminar nosso céu e lançar no espaço uma bela cauda de poeira, transformando o Cometa do Diabo num divino espetáculo celeste.
Do que conhecemos do Cometa 12P/Pons-Brooks, isso é possível, porém improvável. Por isso, é melhor não alimentarmos grandes esperanças, mas estarmos prontos caso algo inesperado assim aconteça.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/04/15/colunistas/o-cometa-12p-pons-brooks-esta-na-area-saiba-como-observar/