“Se a temperatura continuar subindo, em muitos momentos nós vamos passar do limite do corpo humano”, o alerta é de Carlos Nobre, renomado cientista brasileiro. A conclusão é referente a um estudo publicado na Science Advances que repercutiu no Brasil nas últimas semanas.
A pesquisa é citada em um texto da NASA que diz que o Brasil pode ficar inabitável até 2070. O Olhar Digital já explicou essa confusão, mas será que o nosso país está realmente em risco? E como evitar que um cenário catastrófico aconteça?
Para o mapeamento, o estudo usou imagens de satélite e projeções da temperatura de bulbo úmido. Essa medida considera temperatura e umidade do ar para indicar conforto térmico.
A temperatura de bulbo úmido afeta o corpo humano de várias maneiras, principalmente devido à sua relação com a umidade e a capacidade do corpo de resfriar-se através da evaporação do suor. A medida é especialmente relevante para a previsão de riscos em situações de calor extremo e para a definição de medidas de segurança em atividades físicas e ocupacionais.
Se a temperatura de bulbo úmido ficar acima dos 35ºC por mais de seis horas, até a pessoa mais saudável poderá ter problemas de saúde. Para você ter ideia, essa temperatura equivale a 45ºC com 50% de umidade – neste patamar, a sensação térmica é de 71ºC.
“Acima dessa temperatura de bulbo, idosos e crianças vivem muito pouco tempo e adultos saudáveis apenas algumas horas, isso já é bem conhecido”, explica Nobre em entrevista exclusiva ao Olhar Digital.
O estudo sobre o clima extremo no mundo é confiável?
De acordo com Marina Hirota, professora da UFSC e pesquisadora apoiada pelo Instituto Serrapilheira, a pesquisa não deve ser encarada como uma previsão, mas sim como uma análise de possíveis cenários. “O estudo é confiável, mas a própria pesquisa fala de incertezas”, disse para o Olhar Digital.
“O caso do Brasil existe uma incerteza porque temos pouquíssimas estações meteorológicas em regiões tropicais do Brasil (…) ou seja, esse prazo de 2070 pode vir depois”, completa ainda. De acordo com a especialista, os dados usados para o Brasil muitas vezes são defasados. “Acho que é uma incerteza muito grande afirmar que o Brasil vai ficar inabitável até 2070”.
De acordo com Nobre, a pesquisa não fala sobre o Brasil especificamente e houve uma confusão de informações. “O que acontece é que o autor desse estudo deu uma entrevista para a NASA e disse que regiões tropicais do mundo, incluindo boa parte do Brasil, se tornariam inabitáveis”.
O pesquisador explica que se as coisas continuarem como estão podemos passar do limite do bulbo em partes do país em 2070.
“O Brasil tropical, Amazônia, centro-oeste, nordeste, sem dúvida em 2070 podemos passar desse limite. No verão isso pode acontecer em outras regiões ainda, por exemplo, o Rio de Janeiro. Então isso mostra o risco para todo o planeta e certamente para o Brasil, um país tropical”, afirma o especialista.
O que podemos fazer para mudar?
Até os anos 2000, considerava-se impossível que a temperatura de bulbo úmido chegasse a esse patamar. Mas passou a acontecer em áreas do Golfo Pérsico e Paquistão a partir de 2005, segundo a pesquisa.
Hirota comenta que 2023 está sendo um ano especialmente difícil para as mudanças climáticas com recordes de temperaturas em várias partes do mundo. Esse foi um ano extremo, com o El Niño e outros eventos climáticos, mas essa situação tende a se tornar cada vez mais comum.
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O que é importante desse estudo é que não podemos pensar só nos eventos extremos, a gente tem que pensar que esse aumento de temperatura (analisado no estudo) vai acontecer ao mesmo tempo em que esses eventos
Marina Hirota, pesquisadora apoiada pelo Serrapilheira
Para controlar a temperatura no mundo, só resta uma solução: diminuir as emissões de gases poluentes. Essa é considerada a única forma de impedir (ou pelo menos tentar impedir) o aumento da temperatura de bulbo. Essa é uma opinião compartilhada entre o estudo e os especialistas ouvidos pelo Olhar Digital.
Não podemos deixar a temperatura (de bulbo) passar de 2°C, com 2° já é extremamente preocupante. E aí logicamente todos os países precisam zerar suas emissões, muito antes de 2050
Calor Nobre
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