O primeiro debate entre os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo, que acontece na noite desta quinta-feira (8), na Band, é marcado por intensa troca de acusações entre os participantes. No primeiro bloco, o principal alvo foi o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que teve de responder perguntas do empresário Pablo Marçal e do deputado Guilherme Boulos (PSOL), além de ataques do apresentador José Luiz Datena (PSDB).
Escolhido por sorteio para iniciar as perguntas diretas entre os oponentes, Marçal disse que Nunes seria uma “falsa direita”, um “vereador que foi jogado na cadeira e incompetente para deixar essa situação na cidade” e que a “gestão é uma bagunça”, antes de fazer perguntas sobre a filas de atendimento na saúde. Nunes buscou dar respostas moderadas.
— Está nervoso, Pablo? Vou responder com educação. Nós dobramos o investimento em saúde (…) e vou entregar mais cinco UPAs neste ano. No ano passado a cidade — respondeu Nunes. — Desse jeito você vai virar o “bláblá Marçal” — disse o prefeito.
Fenômeno de popularidade nas redes sociais, Marçal tem se notabilizado por fazer acusações pesadas aos adversários, no estilo “franco atirador”. Na convenção realizada pelo PRTB no domingo, o empresário disse que revelaria no debate dois candidatos que “cheiram cocaína” — sem, no entanto, apresentar prova alguma. No primeiro bloco, chamou Tabata de “adolescente” que “precisa amaduracer” e disse que Boulos seria “apoiador do Hamas”.
Boulos, ao perguntar para Nunes, afirmou que há “falta de transparência” e “mau uso” do dinheiro público nas obras da prefeitura. Boulos perguntou sobre “quem é Pedro José da Silva, qual a sua relação com ele?” — em referência a uma pessoa próxima a Nunes que venceu licitações de obras em andamento em São Paulo.
— Acho que você tem que responder quem é Janones, você instituiu a legalização da rachadinha — disse o prefeito, em alusão ao caso do deputado André Janones (Avante), acusado da prática. — É uma pessoa que eu conheço a muitos anos, que veio da Bahia. Ele prestou um serviço para a prefeitura, mas ele presta há mais de 20 anos — defendeu-se Nunes.
Como Nunes havia respondido a duas perguntas, Datena dirigiu sua pergunta a Boulos, mas antes disparou frases contra o atual prefeito:
— No meu governo ninguém vai sentar a bunda em ônibus do PCC — disse o apresentador. — Se provarem as mentiras (de Nunes) nas obras de licitação, ele vai para a cadeia.
Mesmo quando perguntado por Nunes sobre suas propostas para a cidade, Marçal disparou: “minha proposta é tirar você da prefeitura”, disse, ao iniciar a fala.
Ao final do bloco, Tabata dirigiu uma pergunta a Marçal sobre a Operação Urbana Água Branca, que se atrapalhou na resposta:
— Pode me esclarecer o que é? — disse o empresário. Tabata aproveitou para citar as investigações contra Marçal, que envolvem acusações de estelionato, além de uma suposta ligação entre o presidente do PRTB e o PCC.
Não há condenação — disse Marçal.
No final do bloco, Boulos, em direito de resposta após a acusação de Marçal, disse que iria subir nas redes sociais uma sentença de condenação contra o empresário — pouco antes, Marçal havia dito que abandonaria a disputa se alguém apresentasse a condenação.
Como atração, a Band exibe também um painel com ranking de buscas no Google sobre os candidatos. No início do debate, Marçal era o mais buscado, seguido por Boulos, Nunes, Datena e Tabata.
Protesto na chegada
A pré-candidata Marina Helena (Novo), ausente do debate, organizou um protesto do lado de fora dos estúdios. Durante a semana, ela reivindicou na Justiça o direito de participar do evento, uma vez que o deputado Ricardo Salles (SP) se filiou ao Novo e deu ao partido o número mínimo de cinco parlamentares — critério usado para a participação. O pedido foi negado, com a justificativa de que a filiação ocorreu após o dia 20 de julho, data limite para a definição dos participantes. Pouco antes das 21h, algumas dezenas de pessoas com camisetas e uma bandeirola do partido Novo se manifestavam em frente à emissora aos gritos de “eu vim de graça”.
— Isso para mim é molecagem — disse a pré-candidato, que chegou pouco depois das 21h30. Até ontem, um dos candidatos, que é o Datena, estava (trabalhando) aqui — afirmou Helena, que sugeriu ainda que Datena pode estar concorrendo “a serviço do Boulos”.
Datena chegou às 21h25 à Band, emissora onde apresentava o programa Brasil Urgente até o fim de junho, para participar de seu primeiro debate como pré-candidato — após abandonar outras quatro candidaturas em São Paulo. Na entrada, cumprimentou colegas de jornalismo e cinegrafistas, disse que sua experiência na TV não torna a experiência mais fácil e provocou os adversários Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB):
— É uma condição diferente, é estranho porque eu nunca participei de debate na minha vida, para ser sincero eu nunca assisti a um debate na vida. Mas espero que acrescente alguma coisa, principalmente para os eleitores — ele disse. — Chega de Lula, de Bolsonaro, parece que os candidatos são Lula e Bolsonaro, e não o Boulos e o Ricardo Nunes. Precisamos acabar com a polarização e parar de gastar nossas energias para fazer política populista.
Boulos chegou por volta das 21h, acompanhado por Marta Suplicy (PT), sua vice, Rui Falcão e por um representante de cada partido de sua coligação. O deputado disse aos jornalistas que quer discutir propostas e seu plano de governo, e não atacar adversários:
— Vou buscar debater propostas, se os candidatos vão querer baixar o nível e rebaixar o debate, não contem comigo. Eu vim pra esse debate com respeito e compromisso com a população de São Paulo, ao lado da Marta, uma grande prefeita, para falar das realizações que faremos pela cidade de São Paulo — falou o candidato do PSOL.
Nunes chegou acompanhado pela primeira-dama Regina Nunes, pelo vice Ricardo de Mello Araújo (PL), pelo filho do ex-prefeito Bruno Covas, Tomás Covas, pelo secretário de governo Edson Aparecido, pelo presidente nacional do MDB Baleia Rossi e pelo ex-governador Rodrigo Garcia.
Marçal chegou por volta das 21h20, e também provocou os adversários:
— O prontuário de internação de um candidato tá na mão — disse, sobre a promessa de apontar um candidato que supostamente cheiraria cocaína. — Nunes e Boulos vão tomar um atropelo — falou. Mais tarde, ao se posicionarem no palco para o início do debate, o único candidato a cumprimentar Marçal seria Datena.
Tabata, na chegada, foi indagada sobre a expectativa do primeiro encontro com o apresentador José Luiz Datena (PSDB) depois que ele decidiu se lançar candidato — e não ser o vice dela, conforme anúnciado no início da pré-campanha. A deputada disse estar “focada na população” de São Paulo. Além disso, minimizou sua estagnação na pesquisa Datafolha divulgada hoje alegando que a maior parte dos eleitores ainda não definiu o voto.
Nunes foi o último a chegar e disse ter ficado feliz com com a baixa rejeição capturada pelo Datafolha desta quinta. O prefeito afirmou que dará “resposta para todos os assuntos”, provocou adversários e disse querer focar nas entregas:
— Não vai ter um tema que eles vão abordar que não vou mostrar que a gente melhorou a cidade. Eu sou único candidato do sexo masculino que não tem nenhuma condenação, totalmente ficha limpa, nunca fui preso, diferente de candidatos que estão aí — disse.
Com informações da Folha de S. Paulo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/primeiro-debate-entre-candidatos-em-sao-paulo-e-marcado-por-intensa-troca-de-acusacoes-alvo-principal-foi-ricardo-nunes/