O apoio do senador Romário (PL) à campanha de reeleição de Eduardo Paes (PSD) para a prefeitura do Rio gerou mal-estar no partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tem Alexandre Ramagem como seu candidato. De acordo com membros do PL, Romário comunicou à Executiva Nacional da legenda há cerca de um mês que não apoiaria o candidato bolsonarista e, por isto, deixou de ser convidado para atividades de campanha de Ramagem.
A decisão fez com que crescesse a antipatia dos membros da família Bolsonaro ao ex-jogador de futebol, que o veem como “desgarrado” dos valores bolsonaristas. Neste momento, a ala mais próxima ao clã Bolsonaro não mantém nenhum contato com o senador. Romário, entretanto, conduz seus diálogos com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto.
Como pano de fundo para a opção por Paes, estariam indicações e cargos na prefeitura do Rio. Influente na Secretaria da Pessoa com Deficiência, Romário teria sido decisivo, por exemplo, na escolha de Helena Werneck para o comando da pasta. A secretária, inclusive, foi homenageada pelo senador no ano passado, quando foi indicada por ele ao Prêmio Brasil Mais Inclusão. Ao publicar uma foto dela nas suas redes sociais, Romário faz deferência ao trabalho de Helena e enumera feitos da secretaria.
“À frente da secretaria, ela (Helena) vem propondo soluções inovadoras e criativas para a promoção da inclusão, socialização e autonomia das pessoas com deficiência. A SMPD, sob sua liderança, oferece atendimento socioassistencial em 7 Centros de Referência, a mais de 9.000 usuários, com aproximadamente 430 mil atendimentos projetados para este ano”, enumera.
O próprio Romário, em uma publicação no seu site do ano de 2013, afirma ter um histórico de indicações para que Helena Werneck ocupasse postos relacionados às pessoas com deficiência. O ex-jogador diz ter trabalhado na ocasião para que ela ocupasse a Secretaria da Pessoa com Deficiência do PSB, partido que integrava na época. Mãe de uma jovem com Síndrome de Down, a secretária milita há 20 anos pelas causas de pessoas com deficiência – este que é um dos principais chamarizes de votos para Romário. Logo, seria importante manter influência na pasta.
De acordo com funcionários da prefeitura, o ex-jogador também teria feito indicações para outras secretarias, como a de Esportes. A reportagem questionou o prefeito Eduardo Paes quanto à indicação de Helena Werneck para o cargo. Paes foi lacônico e afirmou que, embora Romário seja muito ligado à causa das pessoas com deficiência, a decisão de deixar a secretaria com ela não passou pelo senador. Questionado se Romário possui outras indicações para cargos na prefeitura, Paes não respondeu. Já Romário não atendeu aos contatos.
Desafetos declarados
Acostumado a protagonizar embates com dirigentes de clubes e treinadores na época de jogador, Romário não esconde a pouca afinidade com Bolsonaro e faz poucos acenos ao eleitorado radical. Se hoje ele vira as costas para Ramagem, que simboliza o bolsonarismo, em 2022 foi Bolsonaro que teve ato semelhante: concorrendo à reeleição, o então presidente declarou ter votado em Daniel Silveira para o Senado.
Apesar do apoio a alguém de fora do PL, Bolsonaro viu Romário ser eleito e se afastar da sua campanha no segundo turno. Abertamente, Bolsonaro criticava Romário por decisões independentes no Congresso e pouca afinidade com pautas caras ao bolsonarismo. A candidatura dele ao Senado, entretanto, foi bancada por Valdemar Costa Neto.
As críticas deixaram marcas e Romário chegou a ser vaiado pelo eleitorado bolsonarista em abril deste ano, quando teve o seu nome citado em um carro de som, em evento de apoio a Bolsonaro, no Rio. Curiosamente, o ex-jogador sequer estava no local, mas foi hostilizado pelo eleitorado mais fiel ao ex-mandatário.
Em 2020, Romário também desafiou a orientação do seu partido para apoiar Paes. Na época no Podemos, o senador se recusou a apoiar Marcelo Crivella, que tentava a prefeitura, para ficar ao lado de Paes, que tentava voltar ao cargo.
Com informações de O Globo
Fonte: https://agendadopoder.com.br/antipatia-entre-bolsonaro-e-romario-cresce-com-apoio-a-paes-cargos-teriam-sido-motivo-do-abandono-a-ramagem/
